Presentismo e a crise da modernidade : diagnóstico provisório e primeiras impressões

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Mariutti, Eduardo Barros, 1974-
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório da Produção Científica e Intelectual da Unicamp
Texto Completo: https://hdl.handle.net/20.500.12733/15978
Resumo: Resumo: A modernidade impôs uma nova forma de se viver e perceber o tempo. A longa espera pelo fim dos tempos típica da Idade Média foi substituída pela noção de progresso. Nesta percepção, as formas ocidentais mais avançadas apontam o futuro que chegará inevitavelmente para todos. A contemporaneidade do nãocontemporâneo – sociedades com ritmos e formas de vida distintas – era vista como uma evidência deste sentido geral: ao cabo, todas as sociedades completariam a marcha geral da civilização rumo à perfectibilidade humana. A era da catástrofe (1914-45) marcou uma ruptura nesta percepção. No entanto, numa espécie de reação à tragédia inaugurada pela Grande Guerra, foi precisamente no imediato pós-guerra que o horizonte de expectativa voltou a se dilatar: dessa vez, o progresso geral da humanidade parecia mais próximo, mas vislumbrado em outros termos: a era da bem-aventurança só seria atingida definitivamente depois que uma das duas formas de vida em (suposta) disputa triunfasse sobre a rival. E foi precisamente sobre o signo desta oposição que a generalização violenta do capitalismo se impôs sobre quase toda a humanidade, particularmente no período situado entre 1945 e 1968. Esta data inaugura um complexo período que, supostamente, teria chegado ao fim em 1989. Como ficou claro quase imediatamente, tratava-se de mais uma ilusão. Isto ensejou uma nova mudança na percepção do tempo histórico, que recebeu várias denominações e foi apresentada de diversas maneiras, mas com um aspecto em comum: o encerramento da vida social em uma espécie de presente contínuo, prenhe de ameaças e marcado por uma suposta brecha intransponível entre a nossa experiência e o passado, que só existe enquanto uma miragem saudosista dos "anos dourados". Este será o tema geral deste breve ensaio, o primeiro de uma pequena série centrada na discussão sobre o regime de historicidade que marca a nossa época
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