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Morte digna e subjetividade: a governamentalidade dos cuidados paliativos

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Montenegro, Keyla Corrêa
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional do UniCEUB
Texto Completo: https://repositorio.uniceub.br/jspui/handle/235/11144
Resumo: Considerar a morte como um fenômeno humano requer que a considere como um processo socialmente situado, cuja experiência participam diferentes processos de sentido e significado. Isso significa colocá-la além das análises sociológicas exteriorizantes de processos sociais, e considerá-la apenas na sua dimensão psicológica, em termos de processos subjetivos exclusivamente individuais. Trata-se então de incluí-la em seu devido contexto social, considerando a participação desse contexto nas produções subjetivas que a envolve. A medicina enquanto disciplina ganha relevância nesse tipo de discussão, não só por sua participação na organização sócio-política da sociedade, mas também, por produzir novos discursos de verdade, nos quais a morte passa a ser compreendida em termos médicos e psicológicos. O desenvolvimento médico-tecnológico tem influência significativa na maneira como se morre, tornando esse processo cada vez mais prolongado e medicalizado. O ápice da medicalização da morte é representado pelo conceito de distanásia, em que a morte ocorre pelo excesso de intervenções terapêuticas que visam o adiamento da morte a qualquer custo. Profundamente influenciada pelo vitalismo físico, a distanásia representa uma maneira de assistência ao morrer que envolve o assujeitamento ao paternalismo médico e submissão às tecnologias disponíveis de manutenção do organismo físico vivo, independente da qualidade dessa vida. Em contrapartida ao uso excessivo da tecnologia médica, os cuidados paliativos, fundamentados no conceito de boa morte originaram-se como um movimento de reivindicação dos direitos do paciente de morrer dignamente. Isso representa considerar o indivíduo não só como sujeito do processo, mas como o centro da assistência, que a partir desse novo modelo passa a defender o não adiamento do processo de morte, focando-se no controle de sintomas e alívio do sofrimento. Apesar de considerados como modelos que se opõem entre si, em suas concepções morais e filosóficas, não se pode considerá-los como entidades isoladas, uma vez que fazem parte de um mesmo sistema dentro do qual se relacionam dialeticamente. A assistência ao morrer também precisa estar socialmente contextualizada, reafirmando o compromisso de compreender a morte enquanto o fenômeno humano. Assim, os diferentes modelos de assistência são considerados como práticas atravessadas por vetores políticos, sociais, históricos e econômicos. O ponto fundamental deste trabalho refere-se ao morrer enquanto um fenômeno político, cujas relações de poder ocorrem na forma de produção de subjetividade e processos de subjetivação. Ao gerar inteligibilidade sobre os processos de governamentalidade e subjetividade envolvidos na prática paliativista, pode-se repensar o sistema no qual os cuidados paliativos estão inseridos, a fim de que não se reproduzam as mesmas lógicas biomédicas dominantes e assim favorecer a emergência do sujeito do morrer por meio do contato com a singularidade.
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