Subúrbios existenciais: percepções de saúde mental de homens negros gays

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Gomes, Rafael Cardoso
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da FIOCRUZ (ARCA)
Texto Completo: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/56656
Resumo: Este estudo teve como objetivo analisar as percepções de saúde mental de homens negros gays, explorando as estratégias criadas para o enfrentamento do racismo e da homofobia em suas relações interpessoais e institucionais. Discutiu-se como os marcadores sociais da diferença repercutem em seus processos saúde-doença, o acesso aos serviços de saúde mental e as possíveis relações entre as masculinidades e os eixos de opressão de raça, classe, gênero e sexualidade. O texto tem por base uma pesquisa de campo, de natureza qualitativa, com aporte das ciências sociais. Foram entrevistados dez homens negros gays, participantes de um projeto cultural denominado Projeto Subúrbio. As entrevistas narrativas foram utilizadas como técnica de coleta de dados para o alcance dos objetivos dessa pesquisa. Ao constatar que os participantes apresentam visões de saúde mental que, apesar de distintas, estão relacionadas entre si e se complementam, foi possível categorizá-las da seguinte forma: percepção integral, ou seja, acredita-se que a saúde mental integra-se a aspectos psíquicos, físicos e sociais; percepção afetiva, isso é o mesmo que dizer que a saúde mental está diretamente relacionada ao mundo das emoções, no que tange ao controle de sentimentos e impulsos, como também aos recursos emocionais semelhantes a uma reserva de emoção para lidar com situações desagradáveis da vida; percepção pragmática, esta por sua vez diz respeito à compreensão de que saúde mental consiste na capacidade de desenvolver autonomia e, assim, gerir a própria vida; por último, a percepção subjetiva, a ideia de que a saúde mental corresponde a autoconhecimento e à perspectiva de mundo de cada sujeito. Os entrevistados enfatizaram o fator sistemático do racismo como um dano causado pelo colonialismo, evidenciaram o papel do racismo na manutenção de privilégios de um grupo social específico (branco) e na desumanização da população negra. Destacaram os atravessamentos recorrentes da homofobia, relações familiares conturbadas no momento da descoberta da orientação sexual, sensação de não pertencimento à comunidade religiosa de doutrina cristã, em virtude da homossexualidade. Como possíveis entraves ao acesso aos serviços de saúde mental, depreendem-se fatores como: falta de unidade de saúde próximo à localidade dos interlocutores; ausência de profissional de psicologia nas unidades de saúde mais próximas; não informação quanto aos serviços ofertados nas unidades de saúde, lista de espera e demora nos agendamentos em virtude de alta demanda. O endereçamento de existências ao não lugar social, deslegitimadas pelo racismo e pela homofobia é nomeado de “subúrbios existenciais”. Apesar disso, há estratégias nos subúrbios, nas margens, nos cantos, nos não lugares... Há vida, há identidade ressignificada, há autoestima reestruturada, há busca, há sobrevivência. É imperioso salientar que entre todas as estratégias apresentadas pelos sujeitos da pesquisa, o alinhamento coletivo é de suma importância, sua aposta está não somente para a promoção de letramento racial, mas principalmente no intuito do fortalecimento da autoestima, aumento da rede de apoio como possíveis desenvolvimentos estratégicos para o enfrentamento ao racismo e à homofobia, como também para a promoção do cuidado em saúde mental de homens negros gays.
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spelling Gomes, Rafael CardosoConstantino, Patricia.Cecchetto, Fátima Regina2023-01-26T20:49:04Z2023-01-26T20:49:04Z2022GOMES, Rafael Cardoso. Subúrbios existenciais: percepções de saúde mental de homens negros gays. 2022. 136 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2022.https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/56656Este estudo teve como objetivo analisar as percepções de saúde mental de homens negros gays, explorando as estratégias criadas para o enfrentamento do racismo e da homofobia em suas relações interpessoais e institucionais. Discutiu-se como os marcadores sociais da diferença repercutem em seus processos saúde-doença, o acesso aos serviços de saúde mental e as possíveis relações entre as masculinidades e os eixos de opressão de raça, classe, gênero e sexualidade. O texto tem por base uma pesquisa de campo, de natureza qualitativa, com aporte das ciências sociais. Foram entrevistados dez homens negros gays, participantes de um projeto cultural denominado Projeto Subúrbio. As entrevistas narrativas foram utilizadas como técnica de coleta de dados para o alcance dos objetivos dessa pesquisa. Ao constatar que os participantes apresentam visões de saúde mental que, apesar de distintas, estão relacionadas entre si e se complementam, foi possível categorizá-las da seguinte forma: percepção integral, ou seja, acredita-se que a saúde mental integra-se a aspectos psíquicos, físicos e sociais; percepção afetiva, isso é o mesmo que dizer que a saúde mental está diretamente relacionada ao mundo das emoções, no que tange ao controle de sentimentos e impulsos, como também aos recursos emocionais semelhantes a uma reserva de emoção para lidar com situações desagradáveis da vida; percepção pragmática, esta por sua vez diz respeito à compreensão de que saúde mental consiste na capacidade de desenvolver autonomia e, assim, gerir a própria vida; por último, a percepção subjetiva, a ideia de que a saúde mental corresponde a autoconhecimento e à perspectiva de mundo de cada sujeito. Os entrevistados enfatizaram o fator sistemático do racismo como um dano causado pelo colonialismo, evidenciaram o papel do racismo na manutenção de privilégios de um grupo social específico (branco) e na desumanização da população negra. Destacaram os atravessamentos recorrentes da homofobia, relações familiares conturbadas no momento da descoberta da orientação sexual, sensação de não pertencimento à comunidade religiosa de doutrina cristã, em virtude da homossexualidade. Como possíveis entraves ao acesso aos serviços de saúde mental, depreendem-se fatores como: falta de unidade de saúde próximo à localidade dos interlocutores; ausência de profissional de psicologia nas unidades de saúde mais próximas; não informação quanto aos serviços ofertados nas unidades de saúde, lista de espera e demora nos agendamentos em virtude de alta demanda. O endereçamento de existências ao não lugar social, deslegitimadas pelo racismo e pela homofobia é nomeado de “subúrbios existenciais”. Apesar disso, há estratégias nos subúrbios, nas margens, nos cantos, nos não lugares... Há vida, há identidade ressignificada, há autoestima reestruturada, há busca, há sobrevivência. É imperioso salientar que entre todas as estratégias apresentadas pelos sujeitos da pesquisa, o alinhamento coletivo é de suma importância, sua aposta está não somente para a promoção de letramento racial, mas principalmente no intuito do fortalecimento da autoestima, aumento da rede de apoio como possíveis desenvolvimentos estratégicos para o enfrentamento ao racismo e à homofobia, como também para a promoção do cuidado em saúde mental de homens negros gays.This study aimed to analyze how their mental health blacks of Brazilian men, exploring the strategies created to face racism and homophobia in interpersonal and institutional relationships, or access to mental health services and as possible relationships between masculinities and the axes of oppression of race, class, gender and sexuality. The text is based on field research, of a qualitative nature, with input from the social sciences. There were a total of 10 gay black men, participants in a cultural project called “Projeto Subúrbio”. Narrative interviews were used as a data collection technique to achieve the objectives. When verifying that the participants present mental health views, which despite being different and complementing each other, it was possible to categorize them as follows: integral perception, or, it is believed that mental integration, psychic, physical and social aspects; affective perception, this is the same as mental health is directly related to the world of emotions, not that it also refers to the control of feelings and impulses, as well as the specific resources to sayto deal with unpleasant situations in life; The perception of mental health consists of the abilityto develop autonomy and thus, managing one's own life and the perception of mental health, in turn, corresponds to an idea of self-knowledge and a perspective. world of each subject. The interviewees emphasized the systematic factor of racism, as a damage caused by colonialism, evidenced the role of racism in maintaining the privileges of a specific social group (white) and in the dehumanization of the black population. They highlighted the recurrent crossings of homophobia, troubled family relationships at the time of discovery ofsexual orientation, feeling of not belonging to the religious community of Christian doctrine, due to homosexuality. As possible obstacles to access to mental health services, factors such as: lack of a health unit close to the interlocutors' location; absence of a psychology professional in the nearest health units; lack of information about the services offered at the health units, waiting lists and delays in scheduling due to high demand. The addressing of existences to the social non-place, delegitimized by racism and homophobia, I call “existential suburbs”. Despite this, there are strategies in the suburbs, on the margins, in the corners, in the non-places... There is life, there is re-signified identity, there is restructured self-esteem, there is search, there is survival. It is imperative to point out that among all the strategies presented by the research subjects, the collective alignment is of its importance, its bet is not only for the promotion of racial literacy, but mainly in order to strengthen self-esteem, increase the support network as possible strategic developments to face racism and homophobia, as well as to promote mental health care for black gay men.Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.porInterseccionalidadeDecolonialidadeSaúde MentalRacismoHomofobiaMental HealthRacismHomophobiaIntersectionalityDecolonialitySaúde MentalRacismoHomofobiaHomossexualidade MasculinaNegrosProcesso Saúde-DoençaPesquisa QualitativaNarrativas Pessoais como AssuntoSubúrbios existenciais: percepções de saúde mental de homens negros gaysExistential suburbs: black gay men's mental health perceptionsinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesis2022-10-26Escola Nacional de Saúde Pública Sergio AroucaFundação Oswaldo CruzMestrado AcadêmicoRio de JaneiroPrograma de Pós-Graduação em Saúde Públicainfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da FIOCRUZ (ARCA)instname:Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)instacron:FIOCRUZLICENSElicense.txttext/plain1748https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/56656/1/license.txt8a4605be74aa9ea9d79846c1fba20a33MD51ORIGINALrafael_cardoso_gomes_ensp_mest_2022.pdfapplication/pdf1279195https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/56656/2/rafael_cardoso_gomes_ensp_mest_2022.pdf6eeddab4839ff9cd41bee9baf05e1b42MD52icict/566562023-01-26 17:49:06.365oai:www.arca.fiocruz.br:icict/56656Tk9URTogUExBQ0UgWU9VUiBPV04gTElDRU5TRSBIRVJFClRoaXMgc2FtcGxlIGxpY2Vuc2UgaXMgcHJvdmlkZWQgZm9yIGluZm9ybWF0aW9uYWwgcHVycG9zZXMgb25seS4KCk5PTi1FWENMVVNJVkUgRElTVFJJQlVUSU9OIExJQ0VOU0UKCkJ5IHNpZ25pbmcgYW5kIHN1Ym1pdHRpbmcgdGhpcyBsaWNlbnNlLCB5b3UgKHRoZSBhdXRob3Iocykgb3IgY29weXJpZ2h0Cm93bmVyKSBncmFudHMgdG8gRFNwYWNlIFVuaXZlcnNpdHkgKERTVSkgdGhlIG5vbi1leGNsdXNpdmUgcmlnaHQgdG8gcmVwcm9kdWNlLAp0cmFuc2xhdGUgKGFzIGRlZmluZWQgYmVsb3cpLCBhbmQvb3IgZGlzdHJpYnV0ZSB5b3VyIHN1Ym1pc3Npb24gKGluY2x1ZGluZwp0aGUgYWJzdHJhY3QpIHdvcmxkd2lkZSBpbiBwcmludCBhbmQgZWxlY3Ryb25pYyBmb3JtYXQgYW5kIGluIGFueSBtZWRpdW0sCmluY2x1ZGluZyBidXQgbm90IGxpbWl0ZWQgdG8gYXVkaW8gb3IgdmlkZW8uCgpZb3UgYWdyZWUgdGhhdCBEU1UgbWF5LCB3aXRob3V0IGNoYW5naW5nIHRoZSBjb250ZW50LCB0cmFuc2xhdGUgdGhlCnN1Ym1pc3Npb24gdG8gYW55IG1lZGl1bSBvciBmb3JtYXQgZm9yIHRoZSBwdXJwb3NlIG9mIHByZXNlcnZhdGlvbi4KCllvdSBhbHNvIGFncmVlIHRoYXQgRFNVIG1heSBrZWVwIG1vcmUgdGhhbiBvbmUgY29weSBvZiB0aGlzIHN1Ym1pc3Npb24gZm9yCnB1cnBvc2VzIG9mIHNlY3VyaXR5LCBiYWNrLXVwIGFuZCBwcmVzZXJ2YXRpb24uCgpZb3UgcmVwcmVzZW50IHRoYXQgdGhlIHN1Ym1pc3Npb24gaXMgeW91ciBvcmlnaW5hbCB3b3JrLCBhbmQgdGhhdCB5b3UgaGF2ZQp0aGUgcmlnaHQgdG8gZ3JhbnQgdGhlIHJpZ2h0cyBjb250YWluZWQgaW4gdGhpcyBsaWNlbnNlLiBZb3UgYWxzbyByZXByZXNlbnQKdGhhdCB5b3VyIHN1Ym1pc3Npb24gZG9lcyBub3QsIHRvIHRoZSBiZXN0IG9mIHlvdXIga25vd2xlZGdlLCBpbmZyaW5nZSB1cG9uCmFueW9uZSdzIGNvcHlyaWdodC4KCklmIHRoZSBzdWJtaXNzaW9uIGNvbnRhaW5zIG1hdGVyaWFsIGZvciB3aGljaCB5b3UgZG8gbm90IGhvbGQgY29weXJpZ2h0LAp5b3UgcmVwcmVzZW50IHRoYXQgeW91IGhhdmUgb2J0YWluZWQgdGhlIHVucmVzdHJpY3RlZCBwZXJtaXNzaW9uIG9mIHRoZQpjb3B5cmlnaHQgb3duZXIgdG8gZ3JhbnQgRFNVIHRoZSByaWdodHMgcmVxdWlyZWQgYnkgdGhpcyBsaWNlbnNlLCBhbmQgdGhhdApzdWNoIHRoaXJkLXBhcnR5IG93bmVkIG1hdGVyaWFsIGlzIGNsZWFybHkgaWRlbnRpZmllZCBhbmQgYWNrbm93bGVkZ2VkCndpdGhpbiB0aGUgdGV4dCBvciBjb250ZW50IG9mIHRoZSBzdWJtaXNzaW9uLgoKSUYgVEhFIFNVQk1JU1NJT04gSVMgQkFTRUQgVVBPTiBXT1JLIFRIQVQgSEFTIEJFRU4gU1BPTlNPUkVEIE9SIFNVUFBPUlRFRApCWSBBTiBBR0VOQ1kgT1IgT1JHQU5JWkFUSU9OIE9USEVSIFRIQU4gRFNVLCBZT1UgUkVQUkVTRU5UIFRIQVQgWU9VIEhBVkUKRlVMRklMTEVEIEFOWSBSSUdIVCBPRiBSRVZJRVcgT1IgT1RIRVIgT0JMSUdBVElPTlMgUkVRVUlSRUQgQlkgU1VDSApDT05UUkFDVCBPUiBBR1JFRU1FTlQuCgpEU1Ugd2lsbCBjbGVhcmx5IGlkZW50aWZ5IHlvdXIgbmFtZShzKSBhcyB0aGUgYXV0aG9yKHMpIG9yIG93bmVyKHMpIG9mIHRoZQpzdWJtaXNzaW9uLCBhbmQgd2lsbCBub3QgbWFrZSBhbnkgYWx0ZXJhdGlvbiwgb3RoZXIgdGhhbiBhcyBhbGxvd2VkIGJ5IHRoaXMKbGljZW5zZSwgdG8geW91ciBzdWJtaXNzaW9uLgo=Repositório InstitucionalPUBhttps://www.arca.fiocruz.br/oai/requestrepositorio.arca@fiocruz.bropendoar:21352023-01-26T20:49:06Repositório Institucional da FIOCRUZ (ARCA) - Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)false
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