RADIS: Comunicação e Saúde, número 193, outubro
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Data de Publicação: | 2018 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da FIOCRUZ (ARCA) |
Texto Completo: | https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/29672 |
Resumo: | Já tratamos de suicídio como uma questão de saúde pública e como um tema de reflexão para a prática jornalística em outros momentos. Mas é a primeira vez que o assunto ocupa a nossa matéria de capa. Luiz Felipe Stevanim ouviu psicólogos, psicoterapeutas, psiquiatras, pesquisadores e também familiares diretamente envolvidos com tentativas e concretizações de suicídio, numa tocante e esclarecedora reportagem. Neste “Setembro Amarelo”, a campanha de alerta e prevenção estimulada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) teve uma acolhida grande por parte da sociedade brasileira e das instituições de saúde. A própria imprensa, que sempre se pautou pela cautela, vem abordando o tema com mais frequência, vocalizando orientações de especialistas sobre a atenção aos sinais e às possibilidades de prevenção. Nas escolas e nas unidades de saúde, a ideia de que é preciso falar sobre suicídio está tomando força, rompendo um tabu presente também nas famílias que já viveram dolorosos casos de perda. Aqueles que experimentaram a perda de um familiar, amigo ou colega de escola ou trabalho, motivada pelo suicídio, são considerados “sobreviventes” por quem estuda ou trabalha com a questão. Eles explicam que há uma tendência de as pessoas próximas serem tomadas por sentimentos contraditórios como vergonha, culpa e raiva. Muitas vezes, mesmo quando não suportam a dor, os familiares se calam por não encontrarem um interlocutor ou um espaço acolhedor para expressar e trabalhar os sentimentos, o que dificulta e prolonga o luto e a assimilação do acontecimento, processos que ocorrem de forma singular para cada pessoa. “Tem horas que não tem o que fazer a não ser botar um pouco pra fora. E se você não está num ambiente acolhedor, você não consegue fazer isso”, explica ao repórter uma mãe que perdeu a sua filha de 27 anos, em fevereiro deste ano. “Você teria gostado de conhecê-la, ela era uma pessoa incrível; o suicídio não resume a pessoa que ela foi”, diz emocionada. “Pósvenção” é o nome das ações de saúde e cuidados para apoiar pessoas que experimentam essa perda. São milhares de pessoas que passam por esta mesma situação no Brasil, que registrou mais de 100 mil mortes por suicídio entre 2007 e 2016 e apresenta taxas crescentes a cada ano, especialmente entre adolescentes e idosos. Quem pesquisa este fenômeno afirma que ele é determinado por múltiplas causas e fatores, que podem ter como gatilhos acontecimentos o término de uma relação, uma crise financeira, desemprego, a morte de um parente próximo. Mas, embora complexo e motivado por particularidades em cada caso, o processo de dor ou sofrimento mental que envolve a maioria dos casos costuma ser acompanhado de sinais que podem ser percebidos quando familiares, amigos e profissionais de saúde estão atentos à escuta e ao acolhimento. A prevenção do suicídio é baseada na atenção ao outro, aos seus silêncios, seu recolhimento social, aos eventuais e sutis pedidos de ajuda, aos comentários que possam indicar a predisposição à desistência da vida, a discursos de autodesvalorização. A OMS associa o suicídio também a casos de saúde mental, como depressão, transtorno bipolar, uso abusivo de álcool e drogas. Mas esta visão pode reduzir a compreensão do problema, declara uma porta-voz do Centro de Valorização da Vida, contribuindo para a ideia simplista de que toda a pessoa que tenta tirar a própria vida sofre de depressão, ou que toda pessoa com depressão tem o risco de se matar. No sistema de saúde, profissionais da atenção básica e da Estratégia Saúde da Família, assim como os que atuam nas unidades de emergência, são tão estratégicos quanto psicólogos, psicoterapeutas e psiquiatras numa abordagem sistêmica de prevenção e na intervenção rápida, para ajudar quem está sofrendo. O profissionais e familiares entrevistados são unânimes em dizer que quem tenta suicídio não quer de fato acabar com a vida, quer é parar de sofrer, porque o sofrimento dói. O acolhimento da família e dos profissionais de saúde após uma tentativa de suicídio ajudou em sua superação um sobrevivente, que conversou com nosso repórter. Hoje ele atua no projeto “Uerj pela Vida”, que oferece acolhimento a pessoas que vivenciam ideias suicidas. |
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Nas escolas e nas unidades de saúde, a ideia de que é preciso falar sobre suicídio está tomando força, rompendo um tabu presente também nas famílias que já viveram dolorosos casos de perda. Aqueles que experimentaram a perda de um familiar, amigo ou colega de escola ou trabalho, motivada pelo suicídio, são considerados “sobreviventes” por quem estuda ou trabalha com a questão. Eles explicam que há uma tendência de as pessoas próximas serem tomadas por sentimentos contraditórios como vergonha, culpa e raiva. Muitas vezes, mesmo quando não suportam a dor, os familiares se calam por não encontrarem um interlocutor ou um espaço acolhedor para expressar e trabalhar os sentimentos, o que dificulta e prolonga o luto e a assimilação do acontecimento, processos que ocorrem de forma singular para cada pessoa. “Tem horas que não tem o que fazer a não ser botar um pouco pra fora. E se você não está num ambiente acolhedor, você não consegue fazer isso”, explica ao repórter uma mãe que perdeu a sua filha de 27 anos, em fevereiro deste ano. “Você teria gostado de conhecê-la, ela era uma pessoa incrível; o suicídio não resume a pessoa que ela foi”, diz emocionada. “Pósvenção” é o nome das ações de saúde e cuidados para apoiar pessoas que experimentam essa perda. São milhares de pessoas que passam por esta mesma situação no Brasil, que registrou mais de 100 mil mortes por suicídio entre 2007 e 2016 e apresenta taxas crescentes a cada ano, especialmente entre adolescentes e idosos. Quem pesquisa este fenômeno afirma que ele é determinado por múltiplas causas e fatores, que podem ter como gatilhos acontecimentos o término de uma relação, uma crise financeira, desemprego, a morte de um parente próximo. Mas, embora complexo e motivado por particularidades em cada caso, o processo de dor ou sofrimento mental que envolve a maioria dos casos costuma ser acompanhado de sinais que podem ser percebidos quando familiares, amigos e profissionais de saúde estão atentos à escuta e ao acolhimento. A prevenção do suicídio é baseada na atenção ao outro, aos seus silêncios, seu recolhimento social, aos eventuais e sutis pedidos de ajuda, aos comentários que possam indicar a predisposição à desistência da vida, a discursos de autodesvalorização. A OMS associa o suicídio também a casos de saúde mental, como depressão, transtorno bipolar, uso abusivo de álcool e drogas. Mas esta visão pode reduzir a compreensão do problema, declara uma porta-voz do Centro de Valorização da Vida, contribuindo para a ideia simplista de que toda a pessoa que tenta tirar a própria vida sofre de depressão, ou que toda pessoa com depressão tem o risco de se matar. No sistema de saúde, profissionais da atenção básica e da Estratégia Saúde da Família, assim como os que atuam nas unidades de emergência, são tão estratégicos quanto psicólogos, psicoterapeutas e psiquiatras numa abordagem sistêmica de prevenção e na intervenção rápida, para ajudar quem está sofrendo. O profissionais e familiares entrevistados são unânimes em dizer que quem tenta suicídio não quer de fato acabar com a vida, quer é parar de sofrer, porque o sofrimento dói. O acolhimento da família e dos profissionais de saúde após uma tentativa de suicídio ajudou em sua superação um sobrevivente, que conversou com nosso repórter. Hoje ele atua no projeto “Uerj pela Vida”, que oferece acolhimento a pessoas que vivenciam ideias suicidas. porFundação Oswaldo Cruz/ENSPRADIS: Comunicação e Saúde, número 193, outubroinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleFundação Oswaldo Cruz. 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