Disseram por aí: deu zika na rede! Boatos e produção de sentidos sobre a epidemia de zika e microcefalia nas redes sociais

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Garcia, Marcelo Pereira
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da FIOCRUZ (ARCA)
Texto Completo: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/23607
Resumo: Um traço marcante da epidemia de zika e microcefalia de 2015/2016 foi a ampla circulação de boatos virtuais. Considerando sua relevância para a construção social das doenças e para as políticas públicas de enfrentamento, nosso objetivo foi compreender como os boatos participaram da produção de sentidos sobre a epidemia, identificando discursos concorrentes, vozes mobilizadas, argumentos apresentados e lugares de fala reivindicados pelos interlocutores. Para tanto, nosso quadro teórico incluiu diferentes áreas de conhecimento: da semiologia e da análise de discurso, destacamos autores como Mikail Bakhtin, Eni Orlandi e Norman Fairclough, e, em suas articulações com as práticas e modelos de comunicação e saúde, Inesita Araíjo e Janine Cardoso; dos estudos sobre internet, redes sociais e midiatização, Manuel Castells, Pierre Lèvy, Raquel Recuero e Antonio Fausto Neto, entre outros; dos estudos sociais da ciência e do risco, Pierre Bourdieu, Anthony Guiddens, Ulrich Beck, Bruno Latour e Luis Castiel, por exemplo; além da preciosa contribuição do trabalho de Eni Orlandi sobre a relação entre silêncios e boatos. Após um estudo exploratório dos principais boatos sobre a epidemia, selecionamos para análise comentários de postagens de três páginas do Facebook: da Fundação Oswaldo Cruz, do Diário de Pernambuco e da Folha de S. Paulo. Os resultados evidenciaram a configuração de um ambiente de grande incerteza, relacionado a três fatores principais: o desconhecimento científico sobre a doença, o caréter reflexivo sobre os riscos da ciência, característico das sociedades contemporâneas, e o ambiente de crise política e institucional no país. Observamos que as narrativas alternativas mantiveram ambígua relação com a autoridade científica, ora contradizendo-a, ora buscando legitimação na menção a instituições e especialistas Importantes relações interdiscursivas foram evidenciadas pelas citações de casos anteriores de falhas científicas, de discursos antivacinais e contra o uso de agrotóxicos e de epidemias passadas, em especial a da dengue. Sobre ela, encontramos tanto reafirmações do discurso oficial de prevenção, centrado na eliminação do Aedes aegypti, quanto crítica à permanência da doença e do vetor. Dois pontos principais serviram como combustível para a circulação de boatos: a pouco explicada concentração de casos no Nordeste e o ineditismo da associação com a microcefalia. Essa centralidade nos levou a discutir as diferenças de temporalidades entre a ciência em construção, a imprensa imediatista e a população ansiosa por recomendações pragmáticas e a debater questões sobre a deficiência da comunicação pouco dialógica no campo da saúde, em especial a partir da ausência de interação da Fiocruz em sua página. A partir da análise, nossa visão é que o boato virtual desponta como um gênero discursivo marcante da confluência de uma era de incertezas, em que viceja a cultura do risco, a ciência perde seu estatuto de verdade e própria verdade se torna mais fluida, pós-verdade. Em ambientes digitais marcados pela conversacionalização, midiatização e eliminação das marcas de hierarquia, as opiniões dos indivíduos circulam como comentários quase que em pé de igualdade com o discurso técnico e científico. Os espaços de comentários do Facebook - e das redes sociais e da internet - como que "institucionalizam", dessa forma, lugares difusos, confusos de fala - próprios da circulação do boato
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Para tanto, nosso quadro teórico incluiu diferentes áreas de conhecimento: da semiologia e da análise de discurso, destacamos autores como Mikail Bakhtin, Eni Orlandi e Norman Fairclough, e, em suas articulações com as práticas e modelos de comunicação e saúde, Inesita Araíjo e Janine Cardoso; dos estudos sobre internet, redes sociais e midiatização, Manuel Castells, Pierre Lèvy, Raquel Recuero e Antonio Fausto Neto, entre outros; dos estudos sociais da ciência e do risco, Pierre Bourdieu, Anthony Guiddens, Ulrich Beck, Bruno Latour e Luis Castiel, por exemplo; além da preciosa contribuição do trabalho de Eni Orlandi sobre a relação entre silêncios e boatos. Após um estudo exploratório dos principais boatos sobre a epidemia, selecionamos para análise comentários de postagens de três páginas do Facebook: da Fundação Oswaldo Cruz, do Diário de Pernambuco e da Folha de S. Paulo. Os resultados evidenciaram a configuração de um ambiente de grande incerteza, relacionado a três fatores principais: o desconhecimento científico sobre a doença, o caréter reflexivo sobre os riscos da ciência, característico das sociedades contemporâneas, e o ambiente de crise política e institucional no país. Observamos que as narrativas alternativas mantiveram ambígua relação com a autoridade científica, ora contradizendo-a, ora buscando legitimação na menção a instituições e especialistas Importantes relações interdiscursivas foram evidenciadas pelas citações de casos anteriores de falhas científicas, de discursos antivacinais e contra o uso de agrotóxicos e de epidemias passadas, em especial a da dengue. Sobre ela, encontramos tanto reafirmações do discurso oficial de prevenção, centrado na eliminação do Aedes aegypti, quanto crítica à permanência da doença e do vetor. 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