O contexto familiar na trajetória de vida de jovens e a gravidez na adolescência: estudo longitudinal com escolares de São Gonçalo

• Autor(a) principal: Aguiar, Camilla Moura
• Data de Publicação: 2021
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da FIOCRUZ (ARCA)
• Texto Completo: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/50717
• topic: Gravidez na Adolescência; Família; Violência Familiar; Juventude; Gênero e Saúde; Teenage pregnancy; Family; Family Violence; Youth; Gender; Gravidez na Adolescência / estatística e dados numéricos; Relações Familiares; Violência Doméstica; Adolescente; Gênero e Saúde; Estudos Longitudinais

A gravidez na adolescência é um evento que envolve fatores relevantes associados à família e à sociedade. As transformações sociais desencadeadas pela mudança do papel da mulher na sociedade trazem novas expectativas para a adolescência e transformações na família, o que ajuda a explicar a inquietação pública atual com a gravidez na adolescência, que passa a ser considerada \201Cproblema social\201D. Esta dissertação tem como objetivo analisar a relação entre a ocorrência de gravidez na adolescência e as características do contexto familiar de escolares acompanhados na coorte de São Gonçalo/RJ. A pesquisa que embasa esta dissertação é um estudo longitudinal com quatro ondas que seguiu escolares do segundo ano da rede pública de ensino fundamental do município de São Gonçalo/RJ desde 2005 a 2013. A amostra utilizada nesta dissertação foi composta por 361 jovens, sendo critério de inclusão ter informação sobre histórico de gestação da adolescente ou da parceira (no caso dos homens). Na análise de dados foi utilizado modelo de regressão logística múltipla, com modelagem hierarquizada em quatro níveis, com a variável desfecho gravidez na adolescência. Os quatro níveis hierarquizados foram: condições socioeconômicas; dados sobre a gestação da mãe da criança/adolescente; características familiares e violência familiar. As variáveis foram escolhidas com base no modelo teórico (DAG), com seleção de 37 variáveis. Posteriormente, cada variável foi analisada em modelo logístico simples, sendo considerado para inserção no modelo hierarquizado o nível de significância \03B1 <= 20%. Desta análise, as variáveis selecionadas foram inseridas em cada nível hierárquico, considerando nível de significância de 5%, para formação do modelo múltiplo final. Dentre os participantes, 16 (4,4%) tinham histórico de gestação na adolescência, a idade média foi 15,8 anos, sendo 4 meninos (25%) e 12 meninas (75%). A quase totalidade (94%) das crianças/adolescentes participantes do estudo pertenciam a famílias de estratos sociais mais pobres (C-D-E). Jovens com raça/cor parda ou preta representaram 67,7% em 2005. A maioria das mães dos adolescentes (76,6%) e dos pais (73%) tinha como escolaridade até 1º grau em 2005. Após a análise pelo modelo de regressão simples restaram 17 variáveis para a inserção nos níveis hierárquicos. O modelo múltiplo final ficou com 5 variáveis: sexo, raça, uso de cigarro pela mãe da criança/adolescente na gestação, estrutura familiar, violência física severa do pai contra criança/adolescente na vida. As variáveis que apresentaram associação estatisticamente significativa no modelo final, com as respectivas razões de chance (ORs) ajustadas, foram: sexo feminino (OR 7,34), raça/cor parda ou preta (OR 0,14), estrutura familiar \2013 viver sem pai e mãe (OR 16,28), presença de violência física severa do pai contra criança/adolescente na vida (OR 6,68). A ocorrência de gravidez na adolescência mostrou-se associada com ser do gênero feminino, com a estrutura familiar e com a violência familiar sofrida na infância. As assimetrias de gênero estão intimamente ligadas ao exercício da sexualidade juvenil, sendo imperativo a superação dessas desigualdades. O contexto familiar, incluindo situações de violência e vulnerabilidade social, também se mostrou relacionado à história reprodutiva dos jovens, sendo fundamental considerá-lo na abordagem da sexualidade adolescente. A ampliação das políticas públicas voltadas para adolescência, considerando o protagonismo juvenil, a heterogeneidade de seus percursos e as mudanças na família ao longo da história, são fundamentais para garantia de saúde e dos direitos sexuais e reprodutivos dos adolescentes, superando visões estigmatizadas.