As percepções de gestores de programas sociais e de policiamento sobre juventudes, vulnerabilidades e prevenção da violência: diálogos entre Rio de Janeiro (Brasil) e Glasgow (Escócia)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Corrêa, Juliana Silva
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da FIOCRUZ (ARCA)
Texto Completo: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/40182
Resumo: O objetivo deste estudo foi analisar as narrativas de gestores de programas sociais e de policiamento sobre suas ações voltadas para jovens na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, e na cidade de Glasgow, na Escócia. A opção por focalizar as narrativas de gestores e policiais que atuam em programas sociais e de segurança pública se justifica na medida em que é na interface entre esses campos de atuação que a ideia de juventude como “problema social” surge, comumente associada a noções de risco, vulnerabilidade e violência. Para realizar este trabalho, optei por analisar as falas de profissionais vinculados a dois programas do Governo do Estado do Rio de Janeiro: as Unidades de Polícia Pacificadora e o Caminho Melhor Jovem. E o programa Community Initiative to Reduce Violence desenvolvido em Glasgow, na Escócia. Notícias e materiais impressos nos jornais e nos sites institucionais dos programas também foram objeto complementar de consulta e análise em ambos os contextos. Para a análise dessas informações utilizei como referencial metodológico a análise interpretativa(GEERTZ, 1989), informada pela abordagem das representações sociais. Os resultados apontam a preocupação dos gestores, sobretudo os vinculados a programas de policiamento, em intervir em indivíduos de idades cada vez mais jovens, ampliando e, em alguns casos, deslocando, suas iniciativas para incluir também crianças. Diversas foram às menções à um ambiente familiar desestruturado, geralmente referido à uma “cultura” familiar desajustada que expôs os jovens as situações de maior vulnerabilidade e aos descaminhos do envolvimento com o crime. Apesar de algumas nuances, os profissionais dos programas analisados atribuem o crime e a violência a uma ideia de desorganização social de certos segmentos da população. As intervenções em geral são pensadas e formuladas para o público masculino. Quando as mulheres aparecem nas narrativas, são vistas como coadjuvantes, evidenciando uma dificuldade de lidar com as questões relacionadas à vulnerabilidade feminina. Lógicas do “merecimento” e da “necessidade” foram acionadas como forma de hierarquizar os grupos atendidos. Ressalta-se a importância de pensar o quanto o olhar da gestão que se aporta em um sentido missionário ou de salvação acaba por produzir uma surdez em relação ao outro, ao que o outro tem a dizer e à sua capacidade de elaborar suas próprias narrativas. Recomenda-se investigar melhor em estudos futuros como uma racionalidade presente no campo da saúde pública vem sendo incorporada em políticas e programas de segurança pública, sobretudo, no que tange as formas como o argumento da evidência científica tem sido utilizado pelos profissionais que atuam neste campo.
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A opção por focalizar as narrativas de gestores e policiais que atuam em programas sociais e de segurança pública se justifica na medida em que é na interface entre esses campos de atuação que a ideia de juventude como “problema social” surge, comumente associada a noções de risco, vulnerabilidade e violência. Para realizar este trabalho, optei por analisar as falas de profissionais vinculados a dois programas do Governo do Estado do Rio de Janeiro: as Unidades de Polícia Pacificadora e o Caminho Melhor Jovem. E o programa Community Initiative to Reduce Violence desenvolvido em Glasgow, na Escócia. Notícias e materiais impressos nos jornais e nos sites institucionais dos programas também foram objeto complementar de consulta e análise em ambos os contextos. Para a análise dessas informações utilizei como referencial metodológico a análise interpretativa(GEERTZ, 1989), informada pela abordagem das representações sociais. Os resultados apontam a preocupação dos gestores, sobretudo os vinculados a programas de policiamento, em intervir em indivíduos de idades cada vez mais jovens, ampliando e, em alguns casos, deslocando, suas iniciativas para incluir também crianças. Diversas foram às menções à um ambiente familiar desestruturado, geralmente referido à uma “cultura” familiar desajustada que expôs os jovens as situações de maior vulnerabilidade e aos descaminhos do envolvimento com o crime. Apesar de algumas nuances, os profissionais dos programas analisados atribuem o crime e a violência a uma ideia de desorganização social de certos segmentos da população. As intervenções em geral são pensadas e formuladas para o público masculino. Quando as mulheres aparecem nas narrativas, são vistas como coadjuvantes, evidenciando uma dificuldade de lidar com as questões relacionadas à vulnerabilidade feminina. Lógicas do “merecimento” e da “necessidade” foram acionadas como forma de hierarquizar os grupos atendidos. Ressalta-se a importância de pensar o quanto o olhar da gestão que se aporta em um sentido missionário ou de salvação acaba por produzir uma surdez em relação ao outro, ao que o outro tem a dizer e à sua capacidade de elaborar suas próprias narrativas. Recomenda-se investigar melhor em estudos futuros como uma racionalidade presente no campo da saúde pública vem sendo incorporada em políticas e programas de segurança pública, sobretudo, no que tange as formas como o argumento da evidência científica tem sido utilizado pelos profissionais que atuam neste campo.The objective of this study was to analyse the narratives of managers of social programmes and policing programmes about their actions aimed at young people in Rio de Janeiro, Brazil, and in Glasgow, Scotland. The decision to focus on the narratives of managers and police officers who work in social and public safety programmes is justified by the fact that it is in the interface between these fields of action that the idea of youth as a "social problem" arises, commonly associated with notions of risk, vulnerability and violence. To do this work, the views from professionals from two programmes in Rio de Janeiro were collected: the Pacifying Police Units programme and the Caminho Melhor Jovem. In Scotland, managers from the programme Community Initiative to Reduce Violence were interviewed. In addition, articles and items from newspapers and from the programmes’ institutional websites were selected and analysed in both contexts. Participant observation and structured interviews in depth. To analyse the data, I applied the interpretive analysis approach of Geertz (1989) informed by the approach of social representation. The results point to a concern of managers, especially those linked to policing programmes, to intervene in the lives of individuals of increasingly young ages, expanding and, in some cases, shifting their initiatives to include children as well. In both contexts, there were frequent references to a unstructured family environment, generally referred to an “underclass culture”, where a poorly adjusted family is seen as exposing young people to situations of greater vulnerability and to the risks of involvement with crime. Despite some nuances, the professionals of the analysed programmes attribute crime and violence to the social disorganization of certain segments of the population. The interventions in general are thought out and formulated for the male population. When women appear in the narratives, they are seen as supporting actors, demonstrating the difficulty they have in dealing with issues related to female vulnerability. Logics of "deserving" and "necessity" are mobilised as a way to prioritise the groups served. Finally, it is important to consider the extent to which the management perspective, often combined with a sense of a missionary or salvation logic, ends up producing a deafness in relation to ‘the other’, to what they have to say and their capacity to elaborate their own narratives. Further investigation is recommended into how the rationality present in the field of public health has been incorporated into public safety policies and programmes, especially in terms of how the argument of ‘scientific evidence’ has been used by professionals working in this field.Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.porGestãoProgramas SociaisPolíciaPrevenção da ViolênciaJuventudeManagementSocial ProgramsPoliceViolence PreventionAdolescentProgramas SociaisViolênciaAdolescenteVulnerabilidade SocialGestãoAs percepções de gestores de programas sociais e de policiamento sobre juventudes, vulnerabilidades e prevenção da violência: diálogos entre Rio de Janeiro (Brasil) e Glasgow (Escócia)Social program and policing managers' perceptions of youth, vulnerability and violence prevention: dialogues between Rio de Janeiro (Brazil) and Glasgow (Scotland)info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesis2018Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz.Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca.Rio de JaneiroPrograma de Pós-Graduação em Saúde Públicainfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da FIOCRUZ (ARCA)instname:Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)instacron:FIOCRUZLICENSElicense.txttext/plain1748https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/40182/1/license.txt8a4605be74aa9ea9d79846c1fba20a33MD51ORIGINALve_Juliana_Silva_ENSP_2018application/pdf3294109https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/40182/2/ve_Juliana_Silva_ENSP_201844126a73569043e63becd09341b07a13MD52TEXTve_Juliana_Silva_ENSP_2018.txtve_Juliana_Silva_ENSP_2018.txtExtracted texttext/plain627820https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/40182/3/ve_Juliana_Silva_ENSP_2018.txtb1ed9ca01aa441bc29a33c6d184d1106MD53icict/401822021-02-01 14:44:03.478oai:www.arca.fiocruz.br:icict/40182Tk9URTogUExBQ0UgWU9VUiBPV04gTElDRU5TRSBIRVJFClRoaXMgc2FtcGxlIGxpY2Vuc2UgaXMgcHJvdmlkZWQgZm9yIGluZm9ybWF0aW9uYWwgcHVycG9zZXMgb25seS4KCk5PTi1FWENMVVNJVkUgRElTVFJJQlVUSU9OIExJQ0VOU0UKCkJ5IHNpZ25pbmcgYW5kIHN1Ym1pdHRpbmcgdGhpcyBsaWNlbnNlLCB5b3UgKHRoZSBhdXRob3Iocykgb3IgY29weXJpZ2h0Cm93bmVyKSBncmFudHMgdG8gRFNwYWNlIFVuaXZlcnNpdHkgKERTVSkgdGhlIG5vbi1leGNsdXNpdmUgcmlnaHQgdG8gcmVwcm9kdWNlLAp0cmFuc2xhdGUgKGFzIGRlZmluZWQgYmVsb3cpLCBhbmQvb3IgZGlzdHJpYnV0ZSB5b3VyIHN1Ym1pc3Npb24gKGluY2x1ZGluZwp0aGUgYWJzdHJhY3QpIHdvcmxkd2lkZSBpbiBwcmludCBhbmQgZWxlY3Ryb25pYyBmb3JtYXQgYW5kIGluIGFueSBtZWRpdW0sCmluY2x1ZGluZyBidXQgbm90IGxpbWl0ZWQgdG8gYXVkaW8gb3IgdmlkZW8uCgpZb3UgYWdyZWUgdGhhdCBEU1UgbWF5LCB3aXRob3V0IGNoYW5naW5nIHRoZSBjb250ZW50LCB0cmFuc2xhdGUgdGhlCnN1Ym1pc3Npb24gdG8gYW55IG1lZGl1bSBvciBmb3JtYXQgZm9yIHRoZSBwdXJwb3NlIG9mIHByZXNlcnZhdGlvbi4KCllvdSBhbHNvIGFncmVlIHRoYXQgRFNVIG1heSBrZWVwIG1vcmUgdGhhbiBvbmUgY29weSBvZiB0aGlzIHN1Ym1pc3Npb24gZm9yCnB1cnBvc2VzIG9mIHNlY3VyaXR5LCBiYWNrLXVwIGFuZCBwcmVzZXJ2YXRpb24uCgpZb3UgcmVwcmVzZW50IHRoYXQgdGhlIHN1Ym1pc3Npb24gaXMgeW91ciBvcmlnaW5hbCB3b3JrLCBhbmQgdGhhdCB5b3UgaGF2ZQp0aGUgcmlnaHQgdG8gZ3JhbnQgdGhlIHJpZ2h0cyBjb250YWluZWQgaW4gdGhpcyBsaWNlbnNlLiBZb3UgYWxzbyByZXByZXNlbnQKdGhhdCB5b3VyIHN1Ym1pc3Npb24gZG9lcyBub3QsIHRvIHRoZSBiZXN0IG9mIHlvdXIga25vd2xlZGdlLCBpbmZyaW5nZSB1cG9uCmFueW9uZSdzIGNvcHlyaWdodC4KCklmIHRoZSBzdWJtaXNzaW9uIGNvbnRhaW5zIG1hdGVyaWFsIGZvciB3aGljaCB5b3UgZG8gbm90IGhvbGQgY29weXJpZ2h0LAp5b3UgcmVwcmVzZW50IHRoYXQgeW91IGhhdmUgb2J0YWluZWQgdGhlIHVucmVzdHJpY3RlZCBwZXJtaXNzaW9uIG9mIHRoZQpjb3B5cmlnaHQgb3duZXIgdG8gZ3JhbnQgRFNVIHRoZSByaWdodHMgcmVxdWlyZWQgYnkgdGhpcyBsaWNlbnNlLCBhbmQgdGhhdApzdWNoIHRoaXJkLXBhcnR5IG93bmVkIG1hdGVyaWFsIGlzIGNsZWFybHkgaWRlbnRpZmllZCBhbmQgYWNrbm93bGVkZ2VkCndpdGhpbiB0aGUgdGV4dCBvciBjb250ZW50IG9mIHRoZSBzdWJtaXNzaW9uLgoKSUYgVEhFIFNVQk1JU1NJT04gSVMgQkFTRUQgVVBPTiBXT1JLIFRIQVQgSEFTIEJFRU4gU1BPTlNPUkVEIE9SIFNVUFBPUlRFRApCWSBBTiBBR0VOQ1kgT1IgT1JHQU5JWkFUSU9OIE9USEVSIFRIQU4gRFNVLCBZT1UgUkVQUkVTRU5UIFRIQVQgWU9VIEhBVkUKRlVMRklMTEVEIEFOWSBSSUdIVCBPRiBSRVZJRVcgT1IgT1RIRVIgT0JMSUdBVElPTlMgUkVRVUlSRUQgQlkgU1VDSApDT05UUkFDVCBPUiBBR1JFRU1FTlQuCgpEU1Ugd2lsbCBjbGVhcmx5IGlkZW50aWZ5IHlvdXIgbmFtZShzKSBhcyB0aGUgYXV0aG9yKHMpIG9yIG93bmVyKHMpIG9mIHRoZQpzdWJtaXNzaW9uLCBhbmQgd2lsbCBub3QgbWFrZSBhbnkgYWx0ZXJhdGlvbiwgb3RoZXIgdGhhbiBhcyBhbGxvd2VkIGJ5IHRoaXMKbGljZW5zZSwgdG8geW91ciBzdWJtaXNzaW9uLgo=Repositório InstitucionalPUBhttps://www.arca.fiocruz.br/oai/requestrepositorio.arca@fiocruz.bropendoar:21352021-02-01T17:44:03Repositório Institucional da FIOCRUZ (ARCA) - Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)false
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