Políticas para adiar o fim do mundo: (re) imaginando políticas públicas a partir da presença indígena no Congresso Federal brasileiro

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Araujo, Teresa Harari Alves de
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional do FGV (FGV Repositório Digital)
Texto Completo: https://hdl.handle.net/10438/32140
Resumo: A participação indígena na política partidária brasileira tem aumentado significativamente nos últimos anos, com considerável elevação do número de indígenas candidatas/os e eleitas/os. Este fenômeno marca um avanço contra as barreiras do poder tutelar sobre as ações dos povos e comunidades tradicionais e expressa seu desejo não apenas de participar do controle social, mas de atuar diretamente na formulação das políticas públicas que lhes dizem respeito. No entanto, ainda é um tema pouco estudado no meio acadêmico, criando uma zona cinzenta de significações. Visando contribuir para este debate, o objetivo deste trabalho é compreender como a participação indígena no legislativo brasileiro pode influenciar o processo de formulação de políticas públicas. Construímos um referencial teórico multidisplinar, promovendo um diálogo entre o que chamamos de pensamentos e práticas de resistência à colonialidade com a teoria da mirada ao revés e a virada argumentativa das políticas públicas. O desenho da pesquisa é balizado por um estudo de caso em profundidade do mandato em exercício da deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR), primeira mulher indígena a conquistar uma vaga na Câmara dos Deputados em 2018. Nossos resultados mostram como ainda há muitas barreiras para que Joenia possa influenciar ativamente as políticas públicas com o intuito de fazer valer os direitos dos povos tradicionais. Por outro lado, destacamos significados mais amplos de sua atuação política: o incentivo a novas candidaturas indígenas – o “efeito Joenia” – e a conscientização de demais parlamentares para as pautas indígenas, trazendo novas temáticas e demandas ao legislativo brasileiro. Além disso, a atuação de Joenia caracteriza-se pela impressão de sua identidade indígena sobre ferramentas moderno-ocidentais. São muitos elementos que integram a identidade indígena e aqui destacamos dois: o diálogo/fazer coletivo e a conectividade ancestral. A observação desse fenômeno é particularmente interessante pois permite expandir as fronteiras do campo, propondo novas categorias à política pública a partir de culturas que lutam por manifestar suas próprias maneiras de ver, sentir e pensar o mundo. Parafraseando Ailton Krenak (2019), é por meio desse diálogo que podemos pensar políticas para adiar o fim do mundo.
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Construímos um referencial teórico multidisplinar, promovendo um diálogo entre o que chamamos de pensamentos e práticas de resistência à colonialidade com a teoria da mirada ao revés e a virada argumentativa das políticas públicas. O desenho da pesquisa é balizado por um estudo de caso em profundidade do mandato em exercício da deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR), primeira mulher indígena a conquistar uma vaga na Câmara dos Deputados em 2018. Nossos resultados mostram como ainda há muitas barreiras para que Joenia possa influenciar ativamente as políticas públicas com o intuito de fazer valer os direitos dos povos tradicionais. Por outro lado, destacamos significados mais amplos de sua atuação política: o incentivo a novas candidaturas indígenas – o “efeito Joenia” – e a conscientização de demais parlamentares para as pautas indígenas, trazendo novas temáticas e demandas ao legislativo brasileiro. Além disso, a atuação de Joenia caracteriza-se pela impressão de sua identidade indígena sobre ferramentas moderno-ocidentais. São muitos elementos que integram a identidade indígena e aqui destacamos dois: o diálogo/fazer coletivo e a conectividade ancestral. A observação desse fenômeno é particularmente interessante pois permite expandir as fronteiras do campo, propondo novas categorias à política pública a partir de culturas que lutam por manifestar suas próprias maneiras de ver, sentir e pensar o mundo. Parafraseando Ailton Krenak (2019), é por meio desse diálogo que podemos pensar políticas para adiar o fim do mundo.La participación indígena en la política partidista brasileña ha aumentado significativamente en los últimos años, con un incremento considerable del número de candidatos y cargos electos indígenas. Este fenómeno marca un avance contra las barreras del poder tutelar sobre las acciones de los pueblos y comunidades tradicionales, y expresa su deseo no sólo de participar en el control social, sino de actuar directamente en la formulación de las políticas públicas que les conciernen. Sin embargo, sigue siendo un tema poco estudiado en el ámbito académico, creando una zona gris de significados. Para contribuir a este debate, el objetivo de este trabajo es entender cómo la participación indígena en el legislativo brasileño puede influir en el proceso de formulación de políticas públicas. Construimos un marco teórico multidisciplinar, promoviendo un diálogo entre lo que llamamos pensamientos y prácticas de resistencia a la colonialidad con la teoría de la mirada inversa y el giro argumentativo de las políticas públicas. El diseño de la investigación se nutre de un estudio de caso en profundidad sobre el mandato en funciones de la diputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR), la primera mujer indígena en ganar un escaño en la Cámara de Diputados en 2018. Nuestros resultados muestran cómo todavía hay muchas barreras para que Joenia influya activamente en las políticas públicas para hacer valer los derechos de los pueblos tradicionales. Por otro lado, destacamos significados más amplios de sus acciones políticas: el estímulo de nuevas candidaturas indígenas -el "efecto Joenia"- y la sensibilización de otros parlamentarios a las agendas indígenas, llevando nuevos temas y demandas a la legislatura brasileña. Además, la obra de Joenia se caracteriza por la impresión de su identidad indígena en las herramientas modernooccidentales. Son muchos los elementos que integran la identidad indígena y aquí destacamos dos: el diálogo/elaboración colectiva y la conectividad ancestral. La observación de este fenómeno es particularmente interesante porque permite ampliar las fronteras del campo, proponiendo nuevas categorías a las políticas públicas desde culturas que luchan por manifestar sus propias formas de ver, sentir y pensar el mundo. Parafraseando a Ailton Krenak (2019), es a través de este diálogo que podemos pensar en políticas para posponer el fin del mundo.Indigenous participation in Brazilian party politics has increased significantly in recent years, with a considerable increase in the number of indigenous candidates and elected officials. This phenomenon marks an advance against the barriers of the tutelary power over the actions of traditional peoples and communities, and expresses their desire not only to participate in social control, but to act directly in the formulation of public policies that concern them. However, it is still a little studied theme in the academic environment, creating a gray area of meanings. In order to contribute to this debate, the objective of this work is to understand how indigenous participation in the Brazilian Legislature can influence the process of public policy formulation. We built a multidisciplinary theoretical framework, promoting a dialogue between what we call thoughts and practices of resistance to coloniality with the reverse look theory and the argumentative turn of public policies. The research design is buoyed by an in-depth case study of the incumbent mandate of federal deputy Joenia Wapichana (Rede-RR), the first indigenous woman to win a seat in the House of Representatives in 2018. Our results show how there are still many barriers for Joenia to actively influence public policies in order to enforce the rights of traditional peoples. On the other hand, we highlight broader meanings of her political actions: the encouragement of new indigenous candidacies - the “Joenia effect” - and the awareness of other parliamentarians to indigenous agendas, bringing new themes and demands to the Brazilian legislature. In addition, Joenia's work is characterized by the imprinting of her indigenous identity on modern-western tools. There are many elements that make up the indigenous identity, and here we highlight two: the collective dialogue/doing and the ancestral connectivity. The observation of this phenomenon is particularly interesting because it allows us to expand the frontiers of the field, proposing new categories to public policy from cultures that struggle to manifest their own ways of seeing, feeling, and thinking the world. Paraphrasing Ailton Krenak (2019), it is through this dialogue that we can think of policies to postpone the end of the world.porIndigenous peoplesPublic policiesParty politicsDecolonialityPovos indígenasPolítica partidáriaEstudos decoloniaisEstudos pós-coloniaisPueblos indígenasDescolonialidadAdministração públicaÍndios da América do Sul - Brasil - Relações com o governoÍndios da América do Sul - Atividades políticasParticipação políticaPolíticas públicas - BrasilPolíticas para adiar o fim do mundo: (re) imaginando políticas públicas a partir da presença indígena no Congresso Federal brasileiroinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional do FGV (FGV Repositório Digital)instname:Fundação Getulio Vargas 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description A participação indígena na política partidária brasileira tem aumentado significativamente nos últimos anos, com considerável elevação do número de indígenas candidatas/os e eleitas/os. Este fenômeno marca um avanço contra as barreiras do poder tutelar sobre as ações dos povos e comunidades tradicionais e expressa seu desejo não apenas de participar do controle social, mas de atuar diretamente na formulação das políticas públicas que lhes dizem respeito. No entanto, ainda é um tema pouco estudado no meio acadêmico, criando uma zona cinzenta de significações. Visando contribuir para este debate, o objetivo deste trabalho é compreender como a participação indígena no legislativo brasileiro pode influenciar o processo de formulação de políticas públicas. Construímos um referencial teórico multidisplinar, promovendo um diálogo entre o que chamamos de pensamentos e práticas de resistência à colonialidade com a teoria da mirada ao revés e a virada argumentativa das políticas públicas. O desenho da pesquisa é balizado por um estudo de caso em profundidade do mandato em exercício da deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR), primeira mulher indígena a conquistar uma vaga na Câmara dos Deputados em 2018. Nossos resultados mostram como ainda há muitas barreiras para que Joenia possa influenciar ativamente as políticas públicas com o intuito de fazer valer os direitos dos povos tradicionais. Por outro lado, destacamos significados mais amplos de sua atuação política: o incentivo a novas candidaturas indígenas – o “efeito Joenia” – e a conscientização de demais parlamentares para as pautas indígenas, trazendo novas temáticas e demandas ao legislativo brasileiro. Além disso, a atuação de Joenia caracteriza-se pela impressão de sua identidade indígena sobre ferramentas moderno-ocidentais. São muitos elementos que integram a identidade indígena e aqui destacamos dois: o diálogo/fazer coletivo e a conectividade ancestral. A observação desse fenômeno é particularmente interessante pois permite expandir as fronteiras do campo, propondo novas categorias à política pública a partir de culturas que lutam por manifestar suas próprias maneiras de ver, sentir e pensar o mundo. Parafraseando Ailton Krenak (2019), é por meio desse diálogo que podemos pensar políticas para adiar o fim do mundo.
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