Epidemiologia das infecções diarréicas entre populações indígenas da Amazonia
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 1992 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Cadernos de Saúde Pública |
Texto Completo: | http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1992000200002 |
Resumo: | Enteropatógenos bacterianos, viróticos e parasitários têm sido associados freqüentemente a processos gastrintestinais entre indígenas da Amazônia. Entre os índios Parakanã, registrou-se freqüência da ordem de 4% para Shigella flexneri. Por outro lado, taxas de soroprevalência de 98% para a toxina lábil de E. coli foram assinaladas no seio dos Menkrangnotí, Parakanã, Xikrín e Asuriní. Revelaram-se expressivos reservatórios de Salmonella sp. os edentados (63% de positívidade) e os marsupiais (20%). Cepas de Shigella disenteriae foram detectadas em 4,2% de 40 índios Suruí avaliados, enquanto entre os Karitiána, isolaram-se, a partir de 85 coproculturas, uma amostra de Shigella boydii e 11 de E. coli. Os rotavírus se constituíram no agente causai do episódio epidêmico explosivo que acometeu os Tiriyó, em julho-agosto de 1977. Utilizando-se a contra-imuno-eletro-osmoforese, detectaram-se 25,6% de soroconversões, com base no exame de 127 amostras pareadas. O sorotipo I de Birmingham caracterizou-se como o agente causai da epidemia que abrangeu, pelo menos, 80% da população sob risco: crianças e velhos foram os mais atingidos. Estudos soroepidemiológicos empreendidos em 13 comunidades indígenas da região amazônica denotaram elevadas taxas de soropositividade (maiores de 50%) para rotavírus, em termos gerais, conquanto os Parakanã Novo se tenham revelado não-imunes a esses agentes. O gradativo aumento na freqüência de anticorpos com a idade sugere persistência dos rotavírus nessas comunidades. Ainda, o registro de resultados positivos em crianças de baixa idade sugere o caráter endêmico das infecções. Expressivas taxas de positividade quanto à presença de anticorpos para rotavírus foram detectadas entre os Suruí (67,8%) e os Karitiána (77,4%). Enteroparasitas de importância médica também foram detectados. S. stercoralis, Giardia lamblia e Entamoeba hystolitica foram assinaladas, entre os Suruí, em freqüências de 33,3%, 3,3,% e 0,8%, respectivamente. Esses mesmos patógenos foram detectados em freqüências, por ordem, de 3,9%, 12,7% e 8,8% ao exame de amostras fecais oriundas dos Pacaánova. Elevada taxa de Entamoeba hystolitica, cerca de 40%, foi observada entre os Yanomámi. As precárias condições de saneamento em que vivem essas populações, os hábitos inadequados de higiene e possível existência de reservatórios silvestres de enteropatógenos são alguns dos fatores que concorrem para o panorama descrito. Especial atenção merece ser dirigida, presentemente, às chances de propagação da cólera entre os silvícolas amazônicos. |
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