DE ARTESÃO A EMPREENDEDOR: A RESSIGNIFICAÇÃO DO TRABALHO ARTESANAL COMO ESTRATÉGIA PARA A REPRODUÇÃO DE RELAÇÕES DESIGUAIS DE PODER

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: MARQUESAN,FÁBIO FREITAS SCHILLING
Data de Publicação: 2014
Outros Autores: FIGUEIREDO,MARINA DANTAS DE
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: RAM. Revista de Administração Mackenzie
Texto Completo: http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-69712014000600076
Resumo: No despontar do século XXI, uma atividade tão antiga quanto o artesanato tem sido alvo de incentivos econômicos por parte do Estado e de organizações não governamentais (ONGs) que atuam no Brasil. Intervenções realizadas por organizações como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) têm por objetivo transformar a produção artesanal brasileira em uma grande geradora de emprego e renda, atrelada aos circuitos de consumo internacional e/ou à atividade turística. No exame das propostas que fundamentam intervenções desse tipo, é notório o discurso da ressignificação do artesanato e da identidade do artesão por meio do enaltecimento da ação empreendedora e da ênfase sobre a gestão e a necessidade premente de impor ao trabalho artesanal os padrões de competitividade inerentes à economia capitalista. Mas os novos empreendedores-artesãos têm, na ressignificação da sua atividade, a aparência de uma inserção social que não chega a se concretizar. Em virtude dos processos de intervenção que têm ressignificado a produção artesanal brasileira, observa-se certo prejuízo das características materiais e dos traços simbólicos que são peculiares ao artesanato, culminando com a naturalização da ideologia gerencialista como modelo para a reconfiguração do artesanato. Nesse quadro, o que ocorre de fato é a incorporação de cada vez mais pessoas no sistema-mundo que alimenta a matriz de poder capitalista moderno/colonial. E tal processo, que privilegia a empresarização do artesanato, tanto banaliza quanto reproduz a ideia de desenvolvimento como sinônimo de ampliação da capacidade de consumo. A lógica subjacente a essa ideologia está na concepção de que a proclamada liberdade que seria inerente à política neoliberal reside no potencial de consumo individual. A comoditização do artesanato fecha um ciclo que acaba por retirar autonomia do artesão, afasta-o de uma perspectiva emancipatória e reproduz uma situação de dependência em que não há perspectivas de transformação. “Inclusão social”, no caso em apreciação, é um eufemismo para a incorporação de novos consumidores no mercado de massa.
id MACKENZIE-2_130ec62d5b306b737884e11f3551c696
oai_identifier_str oai:scielo:S1678-69712014000600076
network_acronym_str MACKENZIE-2
network_name_str RAM. Revista de Administração Mackenzie
repository_id_str
spelling DE ARTESÃO A EMPREENDEDOR: A RESSIGNIFICAÇÃO DO TRABALHO ARTESANAL COMO ESTRATÉGIA PARA A REPRODUÇÃO DE RELAÇÕES DESIGUAIS DE PODERArtesanatoConsumoEmpresarizaçãoEmpreendedorismoDesigualdadeNo despontar do século XXI, uma atividade tão antiga quanto o artesanato tem sido alvo de incentivos econômicos por parte do Estado e de organizações não governamentais (ONGs) que atuam no Brasil. Intervenções realizadas por organizações como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) têm por objetivo transformar a produção artesanal brasileira em uma grande geradora de emprego e renda, atrelada aos circuitos de consumo internacional e/ou à atividade turística. No exame das propostas que fundamentam intervenções desse tipo, é notório o discurso da ressignificação do artesanato e da identidade do artesão por meio do enaltecimento da ação empreendedora e da ênfase sobre a gestão e a necessidade premente de impor ao trabalho artesanal os padrões de competitividade inerentes à economia capitalista. Mas os novos empreendedores-artesãos têm, na ressignificação da sua atividade, a aparência de uma inserção social que não chega a se concretizar. Em virtude dos processos de intervenção que têm ressignificado a produção artesanal brasileira, observa-se certo prejuízo das características materiais e dos traços simbólicos que são peculiares ao artesanato, culminando com a naturalização da ideologia gerencialista como modelo para a reconfiguração do artesanato. Nesse quadro, o que ocorre de fato é a incorporação de cada vez mais pessoas no sistema-mundo que alimenta a matriz de poder capitalista moderno/colonial. E tal processo, que privilegia a empresarização do artesanato, tanto banaliza quanto reproduz a ideia de desenvolvimento como sinônimo de ampliação da capacidade de consumo. A lógica subjacente a essa ideologia está na concepção de que a proclamada liberdade que seria inerente à política neoliberal reside no potencial de consumo individual. A comoditização do artesanato fecha um ciclo que acaba por retirar autonomia do artesão, afasta-o de uma perspectiva emancipatória e reproduz uma situação de dependência em que não há perspectivas de transformação. “Inclusão social”, no caso em apreciação, é um eufemismo para a incorporação de novos consumidores no mercado de massa.Editora MackenzieUniversidade Presbiteriana Mackenzie2014-12-01info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersiontext/htmlhttp://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-69712014000600076RAM. Revista de Administração Mackenzie v.15 n.6 2014reponame:RAM. Revista de Administração Mackenzieinstname:Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)instacron:MACKENZIE10.1590/1678-69712014/administracao.v15n6p76-97info:eu-repo/semantics/openAccessMARQUESAN,FÁBIO FREITAS SCHILLINGFIGUEIREDO,MARINA DANTAS DEpor2015-03-13T00:00:00Zoai:scielo:S1678-69712014000600076Revistahttps://www.scielo.br/j/ram/https://old.scielo.br/oai/scielo-oai.phprevista.adm@mackenzie.br1678-69711518-6776opendoar:2015-03-13T00:00RAM. Revista de Administração Mackenzie - Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)false
dc.title.none.fl_str_mv DE ARTESÃO A EMPREENDEDOR: A RESSIGNIFICAÇÃO DO TRABALHO ARTESANAL COMO ESTRATÉGIA PARA A REPRODUÇÃO DE RELAÇÕES DESIGUAIS DE PODER
title DE ARTESÃO A EMPREENDEDOR: A RESSIGNIFICAÇÃO DO TRABALHO ARTESANAL COMO ESTRATÉGIA PARA A REPRODUÇÃO DE RELAÇÕES DESIGUAIS DE PODER
spellingShingle DE ARTESÃO A EMPREENDEDOR: A RESSIGNIFICAÇÃO DO TRABALHO ARTESANAL COMO ESTRATÉGIA PARA A REPRODUÇÃO DE RELAÇÕES DESIGUAIS DE PODER
MARQUESAN,FÁBIO FREITAS SCHILLING
Artesanato
Consumo
Empresarização
Empreendedorismo
Desigualdade
title_short DE ARTESÃO A EMPREENDEDOR: A RESSIGNIFICAÇÃO DO TRABALHO ARTESANAL COMO ESTRATÉGIA PARA A REPRODUÇÃO DE RELAÇÕES DESIGUAIS DE PODER
title_full DE ARTESÃO A EMPREENDEDOR: A RESSIGNIFICAÇÃO DO TRABALHO ARTESANAL COMO ESTRATÉGIA PARA A REPRODUÇÃO DE RELAÇÕES DESIGUAIS DE PODER
title_fullStr DE ARTESÃO A EMPREENDEDOR: A RESSIGNIFICAÇÃO DO TRABALHO ARTESANAL COMO ESTRATÉGIA PARA A REPRODUÇÃO DE RELAÇÕES DESIGUAIS DE PODER
title_full_unstemmed DE ARTESÃO A EMPREENDEDOR: A RESSIGNIFICAÇÃO DO TRABALHO ARTESANAL COMO ESTRATÉGIA PARA A REPRODUÇÃO DE RELAÇÕES DESIGUAIS DE PODER
title_sort DE ARTESÃO A EMPREENDEDOR: A RESSIGNIFICAÇÃO DO TRABALHO ARTESANAL COMO ESTRATÉGIA PARA A REPRODUÇÃO DE RELAÇÕES DESIGUAIS DE PODER
author MARQUESAN,FÁBIO FREITAS SCHILLING
author_facet MARQUESAN,FÁBIO FREITAS SCHILLING
FIGUEIREDO,MARINA DANTAS DE
author_role author
author2 FIGUEIREDO,MARINA DANTAS DE
author2_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv MARQUESAN,FÁBIO FREITAS SCHILLING
FIGUEIREDO,MARINA DANTAS DE
dc.subject.por.fl_str_mv Artesanato
Consumo
Empresarização
Empreendedorismo
Desigualdade
topic Artesanato
Consumo
Empresarização
Empreendedorismo
Desigualdade
description No despontar do século XXI, uma atividade tão antiga quanto o artesanato tem sido alvo de incentivos econômicos por parte do Estado e de organizações não governamentais (ONGs) que atuam no Brasil. Intervenções realizadas por organizações como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) têm por objetivo transformar a produção artesanal brasileira em uma grande geradora de emprego e renda, atrelada aos circuitos de consumo internacional e/ou à atividade turística. No exame das propostas que fundamentam intervenções desse tipo, é notório o discurso da ressignificação do artesanato e da identidade do artesão por meio do enaltecimento da ação empreendedora e da ênfase sobre a gestão e a necessidade premente de impor ao trabalho artesanal os padrões de competitividade inerentes à economia capitalista. Mas os novos empreendedores-artesãos têm, na ressignificação da sua atividade, a aparência de uma inserção social que não chega a se concretizar. Em virtude dos processos de intervenção que têm ressignificado a produção artesanal brasileira, observa-se certo prejuízo das características materiais e dos traços simbólicos que são peculiares ao artesanato, culminando com a naturalização da ideologia gerencialista como modelo para a reconfiguração do artesanato. Nesse quadro, o que ocorre de fato é a incorporação de cada vez mais pessoas no sistema-mundo que alimenta a matriz de poder capitalista moderno/colonial. E tal processo, que privilegia a empresarização do artesanato, tanto banaliza quanto reproduz a ideia de desenvolvimento como sinônimo de ampliação da capacidade de consumo. A lógica subjacente a essa ideologia está na concepção de que a proclamada liberdade que seria inerente à política neoliberal reside no potencial de consumo individual. A comoditização do artesanato fecha um ciclo que acaba por retirar autonomia do artesão, afasta-o de uma perspectiva emancipatória e reproduz uma situação de dependência em que não há perspectivas de transformação. “Inclusão social”, no caso em apreciação, é um eufemismo para a incorporação de novos consumidores no mercado de massa.
publishDate 2014
dc.date.none.fl_str_mv 2014-12-01
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-69712014000600076
url http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-69712014000600076
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv 10.1590/1678-69712014/administracao.v15n6p76-97
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv text/html
dc.publisher.none.fl_str_mv Editora Mackenzie
Universidade Presbiteriana Mackenzie
publisher.none.fl_str_mv Editora Mackenzie
Universidade Presbiteriana Mackenzie
dc.source.none.fl_str_mv RAM. Revista de Administração Mackenzie v.15 n.6 2014
reponame:RAM. Revista de Administração Mackenzie
instname:Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
instacron:MACKENZIE
instname_str Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
instacron_str MACKENZIE
institution MACKENZIE
reponame_str RAM. Revista de Administração Mackenzie
collection RAM. Revista de Administração Mackenzie
repository.name.fl_str_mv RAM. Revista de Administração Mackenzie - Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
repository.mail.fl_str_mv revista.adm@mackenzie.br
_version_ 1752128649293725696