Compartilhar as Américas: ressignificando a americanidade numa perspectiva relacional
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2016 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Letras de Hoje (Online) |
Texto Completo: | https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/view/23137 |
Resumo: | O artigo apresenta uma reflexão que tem origem na representação das Américas através de suas primeiras iconografias (Marten de Vos, Jan van der Straet, Philippe Galle) a partir das quais se instaurou o princípio da hierarquização das culturas em detrimento da cultura americana. Durante os quinhentos anos desde os “descobrimentos”, as Américas iniciam o processo dedesconstrução do sentimento de suposta dependência cultural europeia o qual constitui o dilema identitário das Américas. A estratégia mais bem sucedida revela-se pela busca de uma memória longa não mais na Europa, mas nas culturas autóctones. A tomada de consciência desse re-centramento aponta para práticas transculturais iniciadas ainda nos primeiros séculos depois da conquista quando os Guarani reproduzem os modelos do barroco europeu, introduzindoalterações relativas a sua identidade étnica. Com o modernismo brasileiro, ao lançar o Manifesto Antropófago, Oswald de Andrade está apontando para a necessidade de buscar nossa ancestralidade cultural entre os Tupinambá. Édouard Glissant, ao assinalar a supremacia do pensamento “de arquipélago” (autóctone) sobre o pensamento de sistema (racionalidade europeia)e ao preconizar a creoulização das culturas, está caminhando no mesmo sentido da busca de nossa memória de longa duração no coração da própria América. A noção de Americanidade, longe de propor a existência de uma grande narrativa homogênea, busca analisar os deslocamentos e a ressemantização de mitos através das três Américas e o trabalho de reapropriação que caracteriza as culturas americanas para além das estreitas noções de nacionalidade. Pensarhoje a Americanidade como construto heterogêneo implica deixar de lado o binarismo do tipo civilização/barbárie; centro/periferia, em favor da inclusão do Diverso e do terceiro excluído. Na esteira de trabalhos recentes de Patrick Imbert, aposta-se na implosão do pensamento polarizado, nas trocas transnacionais e na disposição para o relacional e para os encontrostransculturais que favorecerão a constituição de redes de compartilhamento entre as Américas.*******************************************************************************************************************Sharing the Americas: giving new meaning to Americanism in a relational perspectiveAbstract: This presentation is a reflexion originating in the representation of the Americas in its first iconographies (Marten de Vos, Jan van der Straet, Philippe Galle) from which a cultural hierarchical principle installed itself in detriment of the American culture. For the last five hundred years the Americas start the process of deconstructing this feeling of supposed cultural dependence. The most successful strategy has been revealing itself in the search for a long memory, not in Europe any longer, but in the native cultures. This conscious awakening to recenter points to transcultural practices initiated in the first centuries after the conquest when the Guarani deconstruct the models from the European baroque, proposed by the Jesuits. Brazilian modernism, as launched in Oswald de Andrade's Anthropophagic Manifest (1929), is pointing at the necessity of finding our cultural ancestrality among the Tupinambá's anthropophagic practices. Édouard Glissant, as he acknowledged the “archipelago” supremacy of thinking (pensée archipélique or native) over the system thinking (pensée de système or European rationality) and proposed the creolization of cultures, is walking in the same direction of the search for our long duration memory in the heart of America itself. The notion of Americaness, far from proposing the existence of a large homogenous narrative in the Americas, tries to analyze cultural mobilities, resemantization of myths throughout the three Americas and the process of reappropriation characteristic of American cultures beyond narrow notions of nationality. Today,to think Americaness as a heterogeneous construct, implies leaving aside binaries as civilization/ barbarism; center/periphery, in favor of including transversal relations. In the path of recent works, as Patrick Imbert's, we bet on the implosion of polarized thinking, on the transnational exchanges and in the natural disposition to the relational that will lead toward the formation of networks to share experiences in the Americas.Keywords: Share; Americaness; Reapropriation; Transversal relations; Relational perspectives |
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A tomada de consciência desse re-centramento aponta para práticas transculturais iniciadas ainda nos primeiros séculos depois da conquista quando os Guarani reproduzem os modelos do barroco europeu, introduzindoalterações relativas a sua identidade étnica. Com o modernismo brasileiro, ao lançar o Manifesto Antropófago, Oswald de Andrade está apontando para a necessidade de buscar nossa ancestralidade cultural entre os Tupinambá. Édouard Glissant, ao assinalar a supremacia do pensamento “de arquipélago” (autóctone) sobre o pensamento de sistema (racionalidade europeia)e ao preconizar a creoulização das culturas, está caminhando no mesmo sentido da busca de nossa memória de longa duração no coração da própria América. A noção de Americanidade, longe de propor a existência de uma grande narrativa homogênea, busca analisar os deslocamentos e a ressemantização de mitos através das três Américas e o trabalho de reapropriação que caracteriza as culturas americanas para além das estreitas noções de nacionalidade. Pensarhoje a Americanidade como construto heterogêneo implica deixar de lado o binarismo do tipo civilização/barbárie; centro/periferia, em favor da inclusão do Diverso e do terceiro excluído. 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The most successful strategy has been revealing itself in the search for a long memory, not in Europe any longer, but in the native cultures. This conscious awakening to recenter points to transcultural practices initiated in the first centuries after the conquest when the Guarani deconstruct the models from the European baroque, proposed by the Jesuits. Brazilian modernism, as launched in Oswald de Andrade's Anthropophagic Manifest (1929), is pointing at the necessity of finding our cultural ancestrality among the Tupinambá's anthropophagic practices. Édouard Glissant, as he acknowledged the “archipelago” supremacy of thinking (pensée archipélique or native) over the system thinking (pensée de système or European rationality) and proposed the creolization of cultures, is walking in the same direction of the search for our long duration memory in the heart of America itself. 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