Trauma, paradoxo, temporalidade: Freud e Levinas
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2007 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da PUC_RS |
Texto Completo: | http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/2966 |
Resumo: | O presente trabalho tem como objetivo principal ressaltar a importância da alteridade na constituição da subjetividade. Também com o propósito de estabelecer uma aproximação entre a psicanálise freudiana e a filosofia, analisaremos alguns elementos da obra de Emmanuel Levinas (1906 1995) que tratam desta questão e apontaremos como esta se revela também no pensamento de Sigmund Freud (1856 1939), embora de forma menos evidente. Para tanto, percorreremos um caminho com estes autores, desde a concepção da individualidade do eu separado do outro, garantia de sua singularidade; até a possibilidade do encontro e a constituição da subjetividade a partir da aproximação com a alteridade. Apontaremos que tanto na obra de Freud quanto na de Levinas está presente a idéia de que o narcisismo indispensável para uma integração inicial e constitutiva da individualidade precisa ser rompido para não configurar um eterno retorno do eu a si mesmo, na indiferença que impede o reconhecimento do Outro e a constituição da subjetividade. Trataremos deste tema no primeiro capítulo, que se intitula O trauma do encontro e aborda como subtítulos, A individualidade: o eu em sua inocência e Do narcisismo ao outro: a possibilidade do encontro. O eu em sua inocência assinala o eu que ignora o outro, que frui dos elementos do mundo, de forma egoísta. Refere-se a uma interioridade pessoal que demarca a singularidade e permite a construção da vida individual e única. No entanto, esta inocência mesmo que inicialmente estruturante, precisa ser rompida, sem que o eu abdique de sua singularidade. Esta questão é abordada no item seguinte, Do narcisismo ao Outro. Neste capítulo, vemos como, no pensamento de Levinas, a possibilidade de a exterioridade ser concebida como para além da natureza do Mesmo e de sua particularidade está referida ao surgimento do pensamento e do desejo. O momento de saída da inocência é o momento em que o eu perde a segurança da intenção de assimilar e possuir a exterioridade e se inaugura a possibilidade do encontro com o novo, com o que incessantemente apela para o transbordamento e redimensionamento do eu, possibilitando a construção da subjetividade. Tanto na teoria freudiana quanto no pensamento levinasiano, encontramos a idéia de que pelo efeito de um trauma decorrente de algo anunciar-se como estranho, inconcebível, há uma exigência de que o eu tome para si o encargo desse excesso, o que constitui o paradoxo de que, recebendo da imprevisibilidade e da estranheza do diferente, mais do que pode conter ou compreender, o eu precisa sair de si para construir sua subjetividade a partir da diferença. A exigência do responsabilizar-se pelo que é traumático, inconcebível para os parâmetros de organização do sujeito está presente nas teorias de Freud e Levinas. A constituição da subjetividade é mais do que reconhecimento do outro, ela depende do outro, e por este motivo, para Levinas, ela implica na responsabilidade incondicional e infinita por ele. O Eu é o único que pode acolher aos outros, porque é ao Eu que a proximidade do Outro oferece o vestígio do infinito. Falamos então da constituição da subjetividade a partir da alteridade, item do segundo capítulo que nos encaminha para os temas do discurso e da escuta. Entre a identidade do Mesmo e a alteridade do Outro, há um descompasso de temporalidades, uma brecha que convida à turbulenta e instigante novidade do Outro. O acontecer da relação é tornado possível pelo que pode se introduzir neste intervalo, na tentativa de atravessá-lo: o discurso. Com o discurso, não há unificação nem reciprocidade, e ao mesmo tempo, há relação. É uma aventura que nunca pode acolher perfeitamente o que o Outro revela, pois a cada vez se reabre em novos enigmas para o Mesmo, revelando a fluidez do tempo. Na psicanálise freudiana, o discurso também não é entendido em sua linearidade, mas em sua fratura, o que permite que sejam articuladas sempre novas significâncias. Vemos assim que através das diferenças entre os legados de Freud e Levinas ilumina-se um ponto em comum: a escuta é a escuta do Outro, estranho e estrangeiro que, como alteridade, desarticula o tempo da identidade para, na articulação de um outro tempo, manter a construção incessante do eu, como subjetividade. |
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Também com o propósito de estabelecer uma aproximação entre a psicanálise freudiana e a filosofia, analisaremos alguns elementos da obra de Emmanuel Levinas (1906 1995) que tratam desta questão e apontaremos como esta se revela também no pensamento de Sigmund Freud (1856 1939), embora de forma menos evidente. Para tanto, percorreremos um caminho com estes autores, desde a concepção da individualidade do eu separado do outro, garantia de sua singularidade; até a possibilidade do encontro e a constituição da subjetividade a partir da aproximação com a alteridade. Apontaremos que tanto na obra de Freud quanto na de Levinas está presente a idéia de que o narcisismo indispensável para uma integração inicial e constitutiva da individualidade precisa ser rompido para não configurar um eterno retorno do eu a si mesmo, na indiferença que impede o reconhecimento do Outro e a constituição da subjetividade. Trataremos deste tema no primeiro capítulo, que se intitula O trauma do encontro e aborda como subtítulos, A individualidade: o eu em sua inocência e Do narcisismo ao outro: a possibilidade do encontro. O eu em sua inocência assinala o eu que ignora o outro, que frui dos elementos do mundo, de forma egoísta. Refere-se a uma interioridade pessoal que demarca a singularidade e permite a construção da vida individual e única. No entanto, esta inocência mesmo que inicialmente estruturante, precisa ser rompida, sem que o eu abdique de sua singularidade. Esta questão é abordada no item seguinte, Do narcisismo ao Outro. Neste capítulo, vemos como, no pensamento de Levinas, a possibilidade de a exterioridade ser concebida como para além da natureza do Mesmo e de sua particularidade está referida ao surgimento do pensamento e do desejo. 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O presente trabalho tem como objetivo principal ressaltar a importância da alteridade na constituição da subjetividade. Também com o propósito de estabelecer uma aproximação entre a psicanálise freudiana e a filosofia, analisaremos alguns elementos da obra de Emmanuel Levinas (1906 1995) que tratam desta questão e apontaremos como esta se revela também no pensamento de Sigmund Freud (1856 1939), embora de forma menos evidente. Para tanto, percorreremos um caminho com estes autores, desde a concepção da individualidade do eu separado do outro, garantia de sua singularidade; até a possibilidade do encontro e a constituição da subjetividade a partir da aproximação com a alteridade. Apontaremos que tanto na obra de Freud quanto na de Levinas está presente a idéia de que o narcisismo indispensável para uma integração inicial e constitutiva da individualidade precisa ser rompido para não configurar um eterno retorno do eu a si mesmo, na indiferença que impede o reconhecimento do Outro e a constituição da subjetividade. Trataremos deste tema no primeiro capítulo, que se intitula O trauma do encontro e aborda como subtítulos, A individualidade: o eu em sua inocência e Do narcisismo ao outro: a possibilidade do encontro. O eu em sua inocência assinala o eu que ignora o outro, que frui dos elementos do mundo, de forma egoísta. Refere-se a uma interioridade pessoal que demarca a singularidade e permite a construção da vida individual e única. No entanto, esta inocência mesmo que inicialmente estruturante, precisa ser rompida, sem que o eu abdique de sua singularidade. Esta questão é abordada no item seguinte, Do narcisismo ao Outro. Neste capítulo, vemos como, no pensamento de Levinas, a possibilidade de a exterioridade ser concebida como para além da natureza do Mesmo e de sua particularidade está referida ao surgimento do pensamento e do desejo. O momento de saída da inocência é o momento em que o eu perde a segurança da intenção de assimilar e possuir a exterioridade e se inaugura a possibilidade do encontro com o novo, com o que incessantemente apela para o transbordamento e redimensionamento do eu, possibilitando a construção da subjetividade. Tanto na teoria freudiana quanto no pensamento levinasiano, encontramos a idéia de que pelo efeito de um trauma decorrente de algo anunciar-se como estranho, inconcebível, há uma exigência de que o eu tome para si o encargo desse excesso, o que constitui o paradoxo de que, recebendo da imprevisibilidade e da estranheza do diferente, mais do que pode conter ou compreender, o eu precisa sair de si para construir sua subjetividade a partir da diferença. A exigência do responsabilizar-se pelo que é traumático, inconcebível para os parâmetros de organização do sujeito está presente nas teorias de Freud e Levinas. A constituição da subjetividade é mais do que reconhecimento do outro, ela depende do outro, e por este motivo, para Levinas, ela implica na responsabilidade incondicional e infinita por ele. O Eu é o único que pode acolher aos outros, porque é ao Eu que a proximidade do Outro oferece o vestígio do infinito. Falamos então da constituição da subjetividade a partir da alteridade, item do segundo capítulo que nos encaminha para os temas do discurso e da escuta. Entre a identidade do Mesmo e a alteridade do Outro, há um descompasso de temporalidades, uma brecha que convida à turbulenta e instigante novidade do Outro. O acontecer da relação é tornado possível pelo que pode se introduzir neste intervalo, na tentativa de atravessá-lo: o discurso. Com o discurso, não há unificação nem reciprocidade, e ao mesmo tempo, há relação. É uma aventura que nunca pode acolher perfeitamente o que o Outro revela, pois a cada vez se reabre em novos enigmas para o Mesmo, revelando a fluidez do tempo. Na psicanálise freudiana, o discurso também não é entendido em sua linearidade, mas em sua fratura, o que permite que sejam articuladas sempre novas significâncias. Vemos assim que através das diferenças entre os legados de Freud e Levinas ilumina-se um ponto em comum: a escuta é a escuta do Outro, estranho e estrangeiro que, como alteridade, desarticula o tempo da identidade para, na articulação de um outro tempo, manter a construção incessante do eu, como subjetividade. |
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