Redes sociais: D. Pedro de Meneses e a construção da Casa de Vila Real (1415-1437)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Campos, Nuno Miguel Silva
Data de Publicação: 2002
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10174/14683
Resumo: Introdução - De um modo sucinto, o problema tratado nesta investigação prendeu-se com a identificação e definição das fontes sociais do poder sobre as quais D. Pedro de Meneses vai estabelecer as bases que lhe permitem construir o seu poder senhorial, nomeadamente na criação da Casa de Vila Real, da qual é o fundador. O objectivo foi, portanto, identificar quais são as suas bases de apoio, ao nível das relações pessoais, que lhe permitem obter, num primeiro momento, e em articulação com outros recursos – sobretudo de cariz económico – de que dispõe e que também serão tidos em conta, a titulação por parte de D. João I, e, posteriormente, a consolidação e estabilização da mesma casa. O período abrangido pelo estudo situa-se entre os anos de 1415, data da tomada de Ceuta e da nomeação de D. Pedro como capitão da praça; e de 1437, data da sua morte. O assunto torna-se tanto mais pertinente se considerarmos que D. Pedro é o primeiro, e único, nobre titulado feito por D. João I fora da família real, e que é filho primeiro de João Afonso Telo, conde de Viana do Alentejo, que em 1383 havia tomado voz por D. Beatriz. Devido a este facto, a sua família, os Tela de Meneses, uma das de maior prestígio social e de maior poder político, parentes da rainha D. Leonor e detentores, mais do que qualquer outra família, de vários títulos, vêem-se obrigados a recorrer ao exílio em Castela. O regresso de D. Pedro far-se-á por volta de 1403, sob condições um pouco misteriosas e que não foram ainda perfeitamente definidas – e para as quais espero ter contribuído no sentido da sua resolução. Vai empreender então um percurso de recuperação do poder político e social que terá o seu remate na sua titulação como conde de Vila Real, em 1424, e no restabelecimento da casa de Viana do Alentejo, em 1433, da qual será o segundo e último conde. Consequentemente, neste percurso de recuperação social surgem várias questões que, apesar de terem a ver com o caso concreto de D. Pedro de Meneses, não deixam de ser importantes para ajudar a esclarecer situações relacionadas com grande parte da nobreza. A partida para este estudo, as questões que se identificavam já representavam um número relativamente significativo de problemas. Desta forma, e a par do problema principal – como se estruturam e de que forma são utilizadas por D. Pedro de Meneses as ligações pessoais e de dependência, na construção de um poder senhorial? – Surgiam logo outras interrogações: como é feito o regresso de D. Pedro de Castela para Portugal e de que modo é que surge inserido nas hostes de D. Duarte em 1415, no ataque a Ceuta? - Quais são os apoios que lhe permitem ser nomeado – apesar de ser a quarta escolha – por D. João I para Capitão da praça de Ceuta? qual a importância da situação de guerra permanente em Ceuta para a construção de um importante poder económico, militar, político e simbólico? - Quais as ligações matrimoniais que D. Pedro enceta de modo a solidificar a sua posição social e a da sua casa? - Qual é a importância da proximidade/ligação física, institucional ou pessoal de D. Pedro à corte e à casa real para a ascensão político-social? - Quais as ligações encetadas com outras famílias e grupos de nobres que consolidam a sua posição político-social? A resolução destas perguntas forneceriam a resposta à questão principal. Contudo, algumas delas tornaram-se, como se previa, mais problemáticas pela escassez de fontes, nomeadamente no que toca à reconstrução do percurso de D. Pedro no período anterior a 1415, e nas relações que empreende com os seus semelhantes e inferiores, outros nobres de um nível social comparável ao seu e seus dependentes. Opções metodológicas - O estudo pode definir-se como um estudo de caso, e, na medida em que acompanha e tenta reconstruir o percurso individual e as ligações pessoais – a rede de relações directas – de um indivíduo, como uma biografa. Já referi o carácter excepcional da titulação de D. Pedro de Meneses por D. João I, e o pretendido com esta investigação é apresentar um caso de construção de uma casa senhorial, aparentemente, extraordinário, que não o caso representativo da generalidade, que cristaliza a realidade comum. O interesse dos estudos de caso, e nesta circunstância, de uma biografia, é o de, através da análise de uma situação concreta, permitir uma descrição das normas de comportamento e do seu funcionamento efectivo, de modo a entender a diversificação das práticas individuais dentro dos sistemas normativos do grupo2. Tratando-se de uma situação excepcional, de um caso-limite, a relevância do estudo da mesma situa-se na capacidade desta poder delimitar as margens do campo social no interior do qual estes casos se podem verificar, circunscrevendo as possibilidades individuais latentes, os limites para a liberdade de acção dos indivíduos. O tema está inscrito no campo da História Política e Social, nomeadamente ao nível nas relações da nobreza, quer com os seus semelhantes, quer com outros representantes do poder social, tomando estas ligações e a sua articulação como fontes de sustentação de um poder senhorial, nas suas vertentes politica e social. As relações são concebidas como vínculos que articulam os seus intervenientes em redes de poder, pelos quais são transmitidos e trocados bens e serviços4. Estes laços estruturam os homens em células sociais, através da sua complexificação em rede, com regras de funcionamento próprias que definem as possibilidades e as capacidades da acção individual5. Além destes vínculos possibilitarem o acesso a capitais, revelam-se, eles próprios, um capital pessoal extremamente importante, uma fonte de poder fulcral para a definição do nível social do seu detentor, podendo este manipular os laços sociais para atingir determinados objectivos pessoais. De forma a alcançar os objectivos propostos – reconstruir o percurso de D. Pedro de Meneses e os seus laços sociais –, procedeu-se a dois tipos de análise e de aproximação, que tento harmonizar ao longo do trabalho. Desta forma, tentei fazer: - a análise de um processo dinâmico, expondo a evolução e o percurso protagonizado por D. Pedro de Meneses desde a sua nomeação como capitão de Ceuta até á sua morte, no tocante ao seu desempenho no nascimento e construção da casa de Vila Real; - e uma análise que se situa no mesmo campo das análises de rede, sem a abrangência que estas normalmente patenteiam, incidindo sobre a teia de ligações pessoais que D. Pedro manipula e que lhe permitem obter a titulação e a consolidação do seu poder. A primeira vista, a apresentação de um trabalho que prevê uma narração biográfica e uma análise de rede, pode parecer um paradoxo, dadas as divergências entre as duas propostas'. Contudo, penso que o compromisso entre ambas as concepções só poderá ser benéfico para a abordagem e resolução dos problemas, compromisso que, além do mais, não é inovador, nem relativamente recente em História. O recurso a diferentes metodologias e abordagens, desde que perfeitamente integradas e articuladas, não só permite tornar o trabalho mais completo como ajuda a provar o carácter perigoso e nocivo dos fundamentalismos conceptuais e metodológicos.
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Pedro como capitão da praça; e de 1437, data da sua morte. O assunto torna-se tanto mais pertinente se considerarmos que D. Pedro é o primeiro, e único, nobre titulado feito por D. João I fora da família real, e que é filho primeiro de João Afonso Telo, conde de Viana do Alentejo, que em 1383 havia tomado voz por D. Beatriz. Devido a este facto, a sua família, os Tela de Meneses, uma das de maior prestígio social e de maior poder político, parentes da rainha D. Leonor e detentores, mais do que qualquer outra família, de vários títulos, vêem-se obrigados a recorrer ao exílio em Castela. O regresso de D. Pedro far-se-á por volta de 1403, sob condições um pouco misteriosas e que não foram ainda perfeitamente definidas – e para as quais espero ter contribuído no sentido da sua resolução. Vai empreender então um percurso de recuperação do poder político e social que terá o seu remate na sua titulação como conde de Vila Real, em 1424, e no restabelecimento da casa de Viana do Alentejo, em 1433, da qual será o segundo e último conde. Consequentemente, neste percurso de recuperação social surgem várias questões que, apesar de terem a ver com o caso concreto de D. Pedro de Meneses, não deixam de ser importantes para ajudar a esclarecer situações relacionadas com grande parte da nobreza. A partida para este estudo, as questões que se identificavam já representavam um número relativamente significativo de problemas. Desta forma, e a par do problema principal – como se estruturam e de que forma são utilizadas por D. Pedro de Meneses as ligações pessoais e de dependência, na construção de um poder senhorial? – Surgiam logo outras interrogações: como é feito o regresso de D. Pedro de Castela para Portugal e de que modo é que surge inserido nas hostes de D. Duarte em 1415, no ataque a Ceuta? - Quais são os apoios que lhe permitem ser nomeado – apesar de ser a quarta escolha – por D. João I para Capitão da praça de Ceuta? qual a importância da situação de guerra permanente em Ceuta para a construção de um importante poder económico, militar, político e simbólico? - Quais as ligações matrimoniais que D. Pedro enceta de modo a solidificar a sua posição social e a da sua casa? - Qual é a importância da proximidade/ligação física, institucional ou pessoal de D. Pedro à corte e à casa real para a ascensão político-social? - Quais as ligações encetadas com outras famílias e grupos de nobres que consolidam a sua posição político-social? A resolução destas perguntas forneceriam a resposta à questão principal. Contudo, algumas delas tornaram-se, como se previa, mais problemáticas pela escassez de fontes, nomeadamente no que toca à reconstrução do percurso de D. Pedro no período anterior a 1415, e nas relações que empreende com os seus semelhantes e inferiores, outros nobres de um nível social comparável ao seu e seus dependentes. Opções metodológicas - O estudo pode definir-se como um estudo de caso, e, na medida em que acompanha e tenta reconstruir o percurso individual e as ligações pessoais – a rede de relações directas – de um indivíduo, como uma biografa. Já referi o carácter excepcional da titulação de D. Pedro de Meneses por D. João I, e o pretendido com esta investigação é apresentar um caso de construção de uma casa senhorial, aparentemente, extraordinário, que não o caso representativo da generalidade, que cristaliza a realidade comum. O interesse dos estudos de caso, e nesta circunstância, de uma biografia, é o de, através da análise de uma situação concreta, permitir uma descrição das normas de comportamento e do seu funcionamento efectivo, de modo a entender a diversificação das práticas individuais dentro dos sistemas normativos do grupo2. Tratando-se de uma situação excepcional, de um caso-limite, a relevância do estudo da mesma situa-se na capacidade desta poder delimitar as margens do campo social no interior do qual estes casos se podem verificar, circunscrevendo as possibilidades individuais latentes, os limites para a liberdade de acção dos indivíduos. O tema está inscrito no campo da História Política e Social, nomeadamente ao nível nas relações da nobreza, quer com os seus semelhantes, quer com outros representantes do poder social, tomando estas ligações e a sua articulação como fontes de sustentação de um poder senhorial, nas suas vertentes politica e social. 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Pedro de Meneses desde a sua nomeação como capitão de Ceuta até á sua morte, no tocante ao seu desempenho no nascimento e construção da casa de Vila Real; - e uma análise que se situa no mesmo campo das análises de rede, sem a abrangência que estas normalmente patenteiam, incidindo sobre a teia de ligações pessoais que D. Pedro manipula e que lhe permitem obter a titulação e a consolidação do seu poder. A primeira vista, a apresentação de um trabalho que prevê uma narração biográfica e uma análise de rede, pode parecer um paradoxo, dadas as divergências entre as duas propostas'. Contudo, penso que o compromisso entre ambas as concepções só poderá ser benéfico para a abordagem e resolução dos problemas, compromisso que, além do mais, não é inovador, nem relativamente recente em História. 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João I fora da família real, e que é filho primeiro de João Afonso Telo, conde de Viana do Alentejo, que em 1383 havia tomado voz por D. Beatriz. Devido a este facto, a sua família, os Tela de Meneses, uma das de maior prestígio social e de maior poder político, parentes da rainha D. Leonor e detentores, mais do que qualquer outra família, de vários títulos, vêem-se obrigados a recorrer ao exílio em Castela. O regresso de D. Pedro far-se-á por volta de 1403, sob condições um pouco misteriosas e que não foram ainda perfeitamente definidas – e para as quais espero ter contribuído no sentido da sua resolução. Vai empreender então um percurso de recuperação do poder político e social que terá o seu remate na sua titulação como conde de Vila Real, em 1424, e no restabelecimento da casa de Viana do Alentejo, em 1433, da qual será o segundo e último conde. Consequentemente, neste percurso de recuperação social surgem várias questões que, apesar de terem a ver com o caso concreto de D. Pedro de Meneses, não deixam de ser importantes para ajudar a esclarecer situações relacionadas com grande parte da nobreza. A partida para este estudo, as questões que se identificavam já representavam um número relativamente significativo de problemas. Desta forma, e a par do problema principal – como se estruturam e de que forma são utilizadas por D. Pedro de Meneses as ligações pessoais e de dependência, na construção de um poder senhorial? – Surgiam logo outras interrogações: como é feito o regresso de D. Pedro de Castela para Portugal e de que modo é que surge inserido nas hostes de D. Duarte em 1415, no ataque a Ceuta? - Quais são os apoios que lhe permitem ser nomeado – apesar de ser a quarta escolha – por D. João I para Capitão da praça de Ceuta? qual a importância da situação de guerra permanente em Ceuta para a construção de um importante poder económico, militar, político e simbólico? - Quais as ligações matrimoniais que D. Pedro enceta de modo a solidificar a sua posição social e a da sua casa? - Qual é a importância da proximidade/ligação física, institucional ou pessoal de D. Pedro à corte e à casa real para a ascensão político-social? - Quais as ligações encetadas com outras famílias e grupos de nobres que consolidam a sua posição político-social? A resolução destas perguntas forneceriam a resposta à questão principal. Contudo, algumas delas tornaram-se, como se previa, mais problemáticas pela escassez de fontes, nomeadamente no que toca à reconstrução do percurso de D. Pedro no período anterior a 1415, e nas relações que empreende com os seus semelhantes e inferiores, outros nobres de um nível social comparável ao seu e seus dependentes. Opções metodológicas - O estudo pode definir-se como um estudo de caso, e, na medida em que acompanha e tenta reconstruir o percurso individual e as ligações pessoais – a rede de relações directas – de um indivíduo, como uma biografa. Já referi o carácter excepcional da titulação de D. Pedro de Meneses por D. João I, e o pretendido com esta investigação é apresentar um caso de construção de uma casa senhorial, aparentemente, extraordinário, que não o caso representativo da generalidade, que cristaliza a realidade comum. O interesse dos estudos de caso, e nesta circunstância, de uma biografia, é o de, através da análise de uma situação concreta, permitir uma descrição das normas de comportamento e do seu funcionamento efectivo, de modo a entender a diversificação das práticas individuais dentro dos sistemas normativos do grupo2. Tratando-se de uma situação excepcional, de um caso-limite, a relevância do estudo da mesma situa-se na capacidade desta poder delimitar as margens do campo social no interior do qual estes casos se podem verificar, circunscrevendo as possibilidades individuais latentes, os limites para a liberdade de acção dos indivíduos. O tema está inscrito no campo da História Política e Social, nomeadamente ao nível nas relações da nobreza, quer com os seus semelhantes, quer com outros representantes do poder social, tomando estas ligações e a sua articulação como fontes de sustentação de um poder senhorial, nas suas vertentes politica e social. As relações são concebidas como vínculos que articulam os seus intervenientes em redes de poder, pelos quais são transmitidos e trocados bens e serviços4. Estes laços estruturam os homens em células sociais, através da sua complexificação em rede, com regras de funcionamento próprias que definem as possibilidades e as capacidades da acção individual5. Além destes vínculos possibilitarem o acesso a capitais, revelam-se, eles próprios, um capital pessoal extremamente importante, uma fonte de poder fulcral para a definição do nível social do seu detentor, podendo este manipular os laços sociais para atingir determinados objectivos pessoais. De forma a alcançar os objectivos propostos – reconstruir o percurso de D. Pedro de Meneses e os seus laços sociais –, procedeu-se a dois tipos de análise e de aproximação, que tento harmonizar ao longo do trabalho. Desta forma, tentei fazer: - a análise de um processo dinâmico, expondo a evolução e o percurso protagonizado por D. Pedro de Meneses desde a sua nomeação como capitão de Ceuta até á sua morte, no tocante ao seu desempenho no nascimento e construção da casa de Vila Real; - e uma análise que se situa no mesmo campo das análises de rede, sem a abrangência que estas normalmente patenteiam, incidindo sobre a teia de ligações pessoais que D. Pedro manipula e que lhe permitem obter a titulação e a consolidação do seu poder. A primeira vista, a apresentação de um trabalho que prevê uma narração biográfica e uma análise de rede, pode parecer um paradoxo, dadas as divergências entre as duas propostas'. Contudo, penso que o compromisso entre ambas as concepções só poderá ser benéfico para a abordagem e resolução dos problemas, compromisso que, além do mais, não é inovador, nem relativamente recente em História. O recurso a diferentes metodologias e abordagens, desde que perfeitamente integradas e articuladas, não só permite tornar o trabalho mais completo como ajuda a provar o carácter perigoso e nocivo dos fundamentalismos conceptuais e metodológicos.
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