A China em três leituras europeias do século XVI – Das notícias de Cantão de 1534 e 1536 ao ‘país visitado’ em 1590

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Oliveira, Francisco Roque de
Data de Publicação: 1996
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10451/57885
Resumo: O Instituto Cultural de Macau colocou à disposição do grande público duas edições críticas de precioso conteúdo para a compreensão da história dos contactos estabelecidos pelos europeus com a China durante o século XVI. A primeira inclui as cartas dos cativos de Cantão, Cristóvão Vieira e Vasco Calvo (1524?) – o primeiro, sobrevivente da malograda embaixada à corte de Pequim ordenada por D. Manuel e conduzida pelo boticário Tomé Pires entre 1517 e 1521; Vasco Calvo, mercador feito prisioneiro depois de a expedição comercial em que tomava parte ter tocado o litoral da China em 1521. A mais recente transcreve da tradução inglesa para português moderno a parte dedicada à China do diálogo latino De Missione Legatorum Iaponensium as Romanam Curiam dos padres jesuítas Suarte Sande e Alessandro Valignano (Macau, 1590), texto inserto pelo editor Richard Hakluyt no segundo colume da segunda edição das “suas” Principal Navigations of the English Nation, sob a designação de An Excellent Treatise of the Kingdome of China (Londres, 1599). A tradução deste último texto, tal como a introdução e notas de leitura de ambos, é de Rui Manuel Loureiro. Nos dois primeiros textos e no fragmento do diálogo latino podem ser aferidos vários dos registos que confirmam a natureza diversa dos tipos de contacto que os europeus (primeiro portugueses) estabeleceram com a China na oportunidade desse século, notadas, assim, algumas das diferentes sensibilidades que acompanharam essas mesmas diferentes oportunidades e, daí, percebido parte do valor relativo do testemunho de que estas escritas dão conta – no limite, a distância que vai entre a Chona descrita por um mercador ou por um acompanhante de embaixada, este ido no grupo que primeiro “retomou” Pequim depois de Polo, mas que do valor disso nada pode saber e para quem o que escreve cale antes de tudo para que o libertem; e, no extremo oposto, uma passagem de um texto didáctico, tal como é o dos jesuítas Duarte Sande e Alessandro Valignano, manual de leitura edificante e compêndio de informações úteis sobre a China, escrito a pensar no ensino ministrado nas missões que a Companhia abria no Extremo Oriente, mas que, sobretudo, é já a prova dos primeiros passos do metido e do cálculo que fizeram os discípulos de Inácio de Loiola os mais disciplinados e inteligentes actores e leitores daquilo a que a prosa posterior chama “encontro de culturas” - para mais (ou não por acaso) estimulados aqui pela revelação daquele que foi certamente o mais complexo e difícil cenário para o entendimento muito particular que observavam a respeito do exercício do seu projecto missionário. Depois, a partir de textos tão diferentes quanto estes, encontramos a oportunidade para tentar reflectir sobre o modo como neles é realizado o tratamento espacial, como a importância deste último elemento se impõe à mera referência ao lugar, perceber por que motivo à análise geográfica de testemunhos históricos importa menos a geometria das coordenadas e, antes, ou sobretudo, a qualidade métrica do espaço.
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A mais recente transcreve da tradução inglesa para português moderno a parte dedicada à China do diálogo latino De Missione Legatorum Iaponensium as Romanam Curiam dos padres jesuítas Suarte Sande e Alessandro Valignano (Macau, 1590), texto inserto pelo editor Richard Hakluyt no segundo colume da segunda edição das “suas” Principal Navigations of the English Nation, sob a designação de An Excellent Treatise of the Kingdome of China (Londres, 1599). A tradução deste último texto, tal como a introdução e notas de leitura de ambos, é de Rui Manuel Loureiro. Nos dois primeiros textos e no fragmento do diálogo latino podem ser aferidos vários dos registos que confirmam a natureza diversa dos tipos de contacto que os europeus (primeiro portugueses) estabeleceram com a China na oportunidade desse século, notadas, assim, algumas das diferentes sensibilidades que acompanharam essas mesmas diferentes oportunidades e, daí, percebido parte do valor relativo do testemunho de que estas escritas dão conta – no limite, a distância que vai entre a Chona descrita por um mercador ou por um acompanhante de embaixada, este ido no grupo que primeiro “retomou” Pequim depois de Polo, mas que do valor disso nada pode saber e para quem o que escreve cale antes de tudo para que o libertem; e, no extremo oposto, uma passagem de um texto didáctico, tal como é o dos jesuítas Duarte Sande e Alessandro Valignano, manual de leitura edificante e compêndio de informações úteis sobre a China, escrito a pensar no ensino ministrado nas missões que a Companhia abria no Extremo Oriente, mas que, sobretudo, é já a prova dos primeiros passos do metido e do cálculo que fizeram os discípulos de Inácio de Loiola os mais disciplinados e inteligentes actores e leitores daquilo a que a prosa posterior chama “encontro de culturas” - para mais (ou não por acaso) estimulados aqui pela revelação daquele que foi certamente o mais complexo e difícil cenário para o entendimento muito particular que observavam a respeito do exercício do seu projecto missionário. Depois, a partir de textos tão diferentes quanto estes, encontramos a oportunidade para tentar reflectir sobre o modo como neles é realizado o tratamento espacial, como a importância deste último elemento se impõe à mera referência ao lugar, perceber por que motivo à análise geográfica de testemunhos históricos importa menos a geometria das coordenadas e, antes, ou sobretudo, a qualidade métrica do espaço.The Cultural Institute of Macau has recently published two critical editions which are fundamental for the understanding of the history of the contacts between the Europeans and China during the XVIth century. The first one includes the letter of two Portuguese captives in Cantão: Cristóvão Vieira, who was a member of the embassy to the court of Pequim ordered by D. Manuel between 1517 and 1521; and Vasco Calvo, a merchandiser who was imprisoned after the arrival in China in 1521 of the commercial expedition which he integrated. The second one and most recent, translates, from English to modern Portuguese, the part concerning China of Latin dialog De Missione Legatorum Iaponensium ad Romanam Curiam by the Jesuit priests Duarte Sande and Alexandro Valignano. Those texts make evident the diversity of types of contacts Europeans (and first the Portuguese) established with China in that century, and also the different perceptions of the chine reality according to individual interests of each author. From these texts a reflection on the form of spatial treatment from a geographical point of view, is attempted.Instituto de Investigação Científica TropicalRepositório da Universidade de LisboaOliveira, Francisco Roque de2023-06-02T14:19:13Z19961996-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10451/57885porOliveira, F. R. de (1996). A China em três leituras europeias do século XVI – Das notícias de Cantão de 1534 e 1536 ao ‘país visitado’ em 1590. Garcia de Orta – Série Geografia, 15 (2), pp. 1-44.  ISSN: 0379-95140379-9514info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-11-08T17:06:39Zoai:repositorio.ul.pt:10451/57885Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T22:08:19.614056Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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