Arquitectura e Movimento: a estrutura e a superfície

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Sequeira, João B.M. de
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Livro
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10174/32298
Resumo: Falar de movimento em arquitectura é quase um paradoxo, pois se, por um lado, a arquitectura é exactamente definida como imóvel, isto é, não sujeita a movimento é, por outro lado, a criação dos espaços onde o movimento ocorre e se constrói. Assim, se revela o aparente paradoxo desta reflexão, que forçosamente tem de se subjugar à própria natureza da arquitectura, onde o movimento é um acto praticado ou representado num espaço físico, mas em que esse espaço físico imóvel é determinante e determinado pelos movimentos que nele ocorrem. Consideramos que é através da redefinição do conceito de representação, que podemos abordar o curto-circuito que geralmente acontece quando queremos pensar a natureza do espaço e a experiência do espaço, naquilo que Bernard Tschumi (1990) designava metafisicamente e respectivamente por “paradoxo da pirâmide e do labirinto”. Procura-se também fazer um breve histórico do caminho da representação, desde o desenvolvimento da autonomia disciplinar, até aos anos 60 e a entrada da sociedade de consumo, com o consequente desenvolvimento dos meios. A representação passa de uma obsessão de transparência visual ligada à autonomia do objecto Arquitectónico, a uma obsessão de interactividade que lhe é complementar. Estas características, uma visual e outra táctil, que obliteram todas as restantes características da representação, iniciam aquilo que designamos por "processo global de simulação do mundo" permitindo, literalmente, através dos sistemas perceptivos humanos, recriar dispositivos exossomáticos de mediação com o mundo e, desse modo, criar e recriar, de forma quase aleatória, “novos mundos”, num duplo processo de controlo, de êxtase e de produção e consumo. Concluiremos, considerando que a arquitectura apresenta já as características desses dispositivos de mediação, tornando-se, ela também, instrumento de simulação e controle. Estas ideias são apresentadas através de exemplos Arquitectónicos da história recente e terminam com o exemplo de dois gabinetes de arquitectura, o estúdio Diller Scofidio & Renfro e o de Herzog & De Meuron, que acreditamos indiciarem a absorção, por parte da Arquitectura, de um imaginário mediático de transfiguração material. Referia, em 1936, um escritor e filósofo alemão em fuga do seu país, que “aproximar as coisas espacial e humanamente é actualmente um desejo das massas tão apaixonado como a sua tendência para a superação do carácter único de qualquer realidade (…)” (Benjamin, 1992: 81). Referimo-nos, naturalmente, ao famoso artigo de Walter Benjamin, “A obra de Arte na Era da sua reprodutibilidade Técnica”, publicado, já postumamente em 1955. A actualidade desta frase é surpreendente e simultaneamente paradoxal, se olharmos para a tendência de criação de sistemas de mediação no último século. Não previa, no entanto, W. Benjamin que não se tratava apenas de um fascínio pelo “registo da sua reprodução”, mas antes um fascínio pela transparência e pela manipulação e que essa aniquilação do valor original de todas as coisas e essa busca obsessiva de "proximidade", iam no sentido de aniquilar a própria representação, substituindo-a por uma nova forma de mediação, a simulação. De um ponto de vista da fruição, aproximar / afastando, parece ser o verdadeiro paradoxo em que vivemos nos nossos dias e esta reflexão procurará compreender como é que este paradoxo se instalou, tão enraizadamente, no nosso modo de viver.
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