O uso da cal em argamassas no Alentejo

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Margalha, Maria Goreti Lopes Batista
Data de Publicação: 1997
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10174/13266
Resumo: Introdução - Em 1988 exercia funções na Câmara Municipal de Alvito e nessa altura empreendeu-se uma obra de conservação na Igreja Matriz da responsabilidade da Direcção Geral de Edificios e Monumentos do Sul, embora executada pelo Município. Esta obra consistiu, essencialmente, na recuperação dos revestimentos exteriores. Lembro-me que ao tempo, ainda pouco desperta para a importância deste tema, presenciei com muita curiosidade uma discussão que se gerou sobre os traços a utilizar nas argamassas. O técnico da Direcção Regional dos Edifícios e Monumentos do Sul, responsável pela fiscalização, pretendia que os revestimentos fossem executados exclusivamente com cal aérea, o mestre da obra argumentava que as cais que se encontravam à disposição no mercado não asseguravam o bom comportamento daqueles, referindo ainda que estes trabalhos antigamente eram feitos com cal pretas que conferia aos rebocos óptimas qualidades. A obra foi então empreendida utilizando uma argamassa de cal aérea, cimento e areia que resultou do entendimento possível entre as duas entidades. Há uma certa tendência por parte dos técnicos que trabalham na área dos revestimentos em considerar as tecnologias tradicionais obsoletas. No entanto, diversas civilizações desde a Antiguidade, através de processos arcaicos, conseguiam a obtenção de argamassas de grande durabilidade que ainda hoje se encontram em bom estado. Nos rebocos antigos era corrente a utilização de misturas de cal aérea com areia, que praticamente já não se utilizam. O nosso património edificado foi no entanto quase todo ele construído com este tipo de argamassas e convém não ignorar que os rebocos de cimento e areia, frequentemente empregues em obras de recuperação de alvenarias antigas, por vezes originam danos irreparáveis nos paramentos, para além de porém em causa a sua veracidade histórica. Hoje é necessário fazer uma recolha e avaliação das tecnologias tradicionais empregues na execução de argamassas com vista à recuperação deste conhecimento empírico por forma a poder-se chegar a um conhecimento cientifico, «... se já não se sabe por experiência, como se fazia bem, pode-se, pela ciência, descobrir como fazer melhor.». De toda esta problemática nasceu a vontade de estudar as argamassas executadas não só com a cal preta como também com outras cais de fabrico tradicional e averiguar se faz algum sentido a rejeição das cais de fabrico industrial. Isto é, se existem diferenças incorporadas como ligantes nas argamassas. No concelho de Beja, em Trigaches, está em laboração um forno tradicional que conheço há largos anos mas que produz apenas a cal branca utilizada, essencialmente, para a caiação. Só alguns anos mais tarde soube que em Montes Claros, perto de Vila Viçosa, ainda existe um forno tradicional a laborar e que lá se produzia além da cal branca também a cal preta. Pareceu-me fundamental para a pesquisa a efectuar, sobre as argamassas tradicionais de cal aérea como ligante absoluto e as argamassas bastardas, conhecer este material tão importante e característico da arquitectura alentejana, a cal. Com o mestrado em Recuperação do Património Arquitectónico e Paisagístico surgiu a oportunidade de estudar as argamassas tradicionais, confrontando-as com as argamassas bastardas que hoje, além das de cimento e areia, se aplicam frequentemente. O âmbito do estudo restringiu-se ao Alentejo porque se trata duma região com características arquitectónicas comuns e onde se usam materiais de construção similares. Do ponto de vista climatérico há também poucas variações, o que tem a sua importância no estudo do comportamento das argamassas. O trabalho inclui no capítulo I os aspectos históricos do uso da cal em argamassas onde abordei de uma, forma sucinta a utilização da cal desde a Antiguidade até aos nossos tempos e o processo artesanal do fabrico da cal, sobrevivente em alguns fornos visitados nas regiões da Alta Estremadura, Ribatejo, Alentejo e Algarve. Dado que o número de fornos tradicionais ainda a laborar é já muito reduzido pareceu-me útil alargar um pouco o âmbito da pesquisa e conhecer outros fornos não implantados na região do Alentejo. No anexo I são apresentadas as questões que foram colocadas aos produtores de cais de fabrico artesanal e que me permitiram ficar a conhecer um pouco mais sobre a sua fabricação. No anexo II e com base nas respostas do anexo I é feita uma breve análise dos custos da produção artesanal. No capítulo II procurei conhecer melhor a matéria-prima utilizada nos fornos tradicionais visitados. Foram recolhidas amostras de calcários, mármores e analisadas algumas destas do ponto de vista químico e mineralógico visando obter um conhecimento mais aprofundado de um dos materiais constituintes das argamassas , a cal. Neste capítulo é dado algum relevo ao modo como é escolhida a matéria-prima pelos produtores de cal. São apresentados ainda neste capítulo os processos químicos que ocorrem para a obtenção da cal que me pareceram fundamentais para perceber o comportamento das argamassas.
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O técnico da Direcção Regional dos Edifícios e Monumentos do Sul, responsável pela fiscalização, pretendia que os revestimentos fossem executados exclusivamente com cal aérea, o mestre da obra argumentava que as cais que se encontravam à disposição no mercado não asseguravam o bom comportamento daqueles, referindo ainda que estes trabalhos antigamente eram feitos com cal pretas que conferia aos rebocos óptimas qualidades. A obra foi então empreendida utilizando uma argamassa de cal aérea, cimento e areia que resultou do entendimento possível entre as duas entidades. Há uma certa tendência por parte dos técnicos que trabalham na área dos revestimentos em considerar as tecnologias tradicionais obsoletas. No entanto, diversas civilizações desde a Antiguidade, através de processos arcaicos, conseguiam a obtenção de argamassas de grande durabilidade que ainda hoje se encontram em bom estado. Nos rebocos antigos era corrente a utilização de misturas de cal aérea com areia, que praticamente já não se utilizam. O nosso património edificado foi no entanto quase todo ele construído com este tipo de argamassas e convém não ignorar que os rebocos de cimento e areia, frequentemente empregues em obras de recuperação de alvenarias antigas, por vezes originam danos irreparáveis nos paramentos, para além de porém em causa a sua veracidade histórica. Hoje é necessário fazer uma recolha e avaliação das tecnologias tradicionais empregues na execução de argamassas com vista à recuperação deste conhecimento empírico por forma a poder-se chegar a um conhecimento cientifico, «... se já não se sabe por experiência, como se fazia bem, pode-se, pela ciência, descobrir como fazer melhor.». De toda esta problemática nasceu a vontade de estudar as argamassas executadas não só com a cal preta como também com outras cais de fabrico tradicional e averiguar se faz algum sentido a rejeição das cais de fabrico industrial. Isto é, se existem diferenças incorporadas como ligantes nas argamassas. No concelho de Beja, em Trigaches, está em laboração um forno tradicional que conheço há largos anos mas que produz apenas a cal branca utilizada, essencialmente, para a caiação. Só alguns anos mais tarde soube que em Montes Claros, perto de Vila Viçosa, ainda existe um forno tradicional a laborar e que lá se produzia além da cal branca também a cal preta. Pareceu-me fundamental para a pesquisa a efectuar, sobre as argamassas tradicionais de cal aérea como ligante absoluto e as argamassas bastardas, conhecer este material tão importante e característico da arquitectura alentejana, a cal. Com o mestrado em Recuperação do Património Arquitectónico e Paisagístico surgiu a oportunidade de estudar as argamassas tradicionais, confrontando-as com as argamassas bastardas que hoje, além das de cimento e areia, se aplicam frequentemente. O âmbito do estudo restringiu-se ao Alentejo porque se trata duma região com características arquitectónicas comuns e onde se usam materiais de construção similares. Do ponto de vista climatérico há também poucas variações, o que tem a sua importância no estudo do comportamento das argamassas. O trabalho inclui no capítulo I os aspectos históricos do uso da cal em argamassas onde abordei de uma, forma sucinta a utilização da cal desde a Antiguidade até aos nossos tempos e o processo artesanal do fabrico da cal, sobrevivente em alguns fornos visitados nas regiões da Alta Estremadura, Ribatejo, Alentejo e Algarve. Dado que o número de fornos tradicionais ainda a laborar é já muito reduzido pareceu-me útil alargar um pouco o âmbito da pesquisa e conhecer outros fornos não implantados na região do Alentejo. No anexo I são apresentadas as questões que foram colocadas aos produtores de cais de fabrico artesanal e que me permitiram ficar a conhecer um pouco mais sobre a sua fabricação. No anexo II e com base nas respostas do anexo I é feita uma breve análise dos custos da produção artesanal. No capítulo II procurei conhecer melhor a matéria-prima utilizada nos fornos tradicionais visitados. Foram recolhidas amostras de calcários, mármores e analisadas algumas destas do ponto de vista químico e mineralógico visando obter um conhecimento mais aprofundado de um dos materiais constituintes das argamassas , a cal. Neste capítulo é dado algum relevo ao modo como é escolhida a matéria-prima pelos produtores de cal. São apresentados ainda neste capítulo os processos químicos que ocorrem para a obtenção da cal que me pareceram fundamentais para perceber o comportamento das argamassas.Universidade de Évora2015-03-13T11:57:09Z2015-03-131997-09-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesishttp://hdl.handle.net/10174/13266http://hdl.handle.net/10174/13266pordep Artesm.goreti@netvisao.pt739Margalha, Maria Goreti Lopes Batistainfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-01-03T18:58:13Zoai:dspace.uevora.pt:10174/13266Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T01:06:34.237277Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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A obra foi então empreendida utilizando uma argamassa de cal aérea, cimento e areia que resultou do entendimento possível entre as duas entidades. Há uma certa tendência por parte dos técnicos que trabalham na área dos revestimentos em considerar as tecnologias tradicionais obsoletas. No entanto, diversas civilizações desde a Antiguidade, através de processos arcaicos, conseguiam a obtenção de argamassas de grande durabilidade que ainda hoje se encontram em bom estado. Nos rebocos antigos era corrente a utilização de misturas de cal aérea com areia, que praticamente já não se utilizam. O nosso património edificado foi no entanto quase todo ele construído com este tipo de argamassas e convém não ignorar que os rebocos de cimento e areia, frequentemente empregues em obras de recuperação de alvenarias antigas, por vezes originam danos irreparáveis nos paramentos, para além de porém em causa a sua veracidade histórica. 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O trabalho inclui no capítulo I os aspectos históricos do uso da cal em argamassas onde abordei de uma, forma sucinta a utilização da cal desde a Antiguidade até aos nossos tempos e o processo artesanal do fabrico da cal, sobrevivente em alguns fornos visitados nas regiões da Alta Estremadura, Ribatejo, Alentejo e Algarve. Dado que o número de fornos tradicionais ainda a laborar é já muito reduzido pareceu-me útil alargar um pouco o âmbito da pesquisa e conhecer outros fornos não implantados na região do Alentejo. No anexo I são apresentadas as questões que foram colocadas aos produtores de cais de fabrico artesanal e que me permitiram ficar a conhecer um pouco mais sobre a sua fabricação. No anexo II e com base nas respostas do anexo I é feita uma breve análise dos custos da produção artesanal. No capítulo II procurei conhecer melhor a matéria-prima utilizada nos fornos tradicionais visitados. 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