Ópera Famosa Intitulada Sem Ingratidão Ingrato
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2016 |
Tipo de documento: | Livro |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10400.14/19162 |
Resumo: | Este manuscrito, Ópera Famosa Intitulada Sem Ingratidão Ingrato, sem data, assume-se como marginal em relação ao todo em que se integra, a colecção de teatro manuscrito de António José de Oliveira: em primeira instância, é cópia de várias mãos, mas não da de António José de Oliveira; adicionalmente, ao contrário do que se verifica para os restantes textos, que se reportam à segunda metade do século XVIII, remonta muito provavelmente à primeira metade. Há que mencionar também as várias emendas e rasurados, e ainda os aparos intrusivos, que lhe compõem a materialidade, e adensam a complexidade em termos de edição. A peça é atribuída a Tomás Pinto Brandão (1664-1743), prolífico autor que versou diferentes géneros, desde o panegírico à comédia, e cujo eco licencioso e satírico lhe granjeava, à época, certa reputação. Trata-se de um texto inédito que se insere na tradição da ópera de bonecos, muito em voga na primeira metade do século XVIII, na qual pontificam, como figuras de vulto, António José da Silva e Alexandre António de Lima. A acção centra-se nos amores de Dido, rainha de Cartago, e Eneias, herói troiano, conforme relatados na Eneida, de Virgílio. Títulos como Dido Desamparada e Eneias em Getúlia atestam adicionalmente a popularidade desta temática no contexto operático português do século XVIII. A peça exibe marcas de um texto remisso à censura, já que Salafrária e Espirro, os dois graciosos, impressionam pela sua licenciosidade, a espaços convertida em obscenidade, com que forjam o cómico e o adestram na sátira ao quotidiano. Paralelamente, a trama amorosa, de fôlego mais emocional e ético, enreda os pares Dido e Eneias e Emília e Hiarbas. Articulando a novidade da ópera à italiana, largamente favorecida por D. João V, com o há muito implementado modelo espanhol, consagrando a ‘fama’ no título e apostando no desenvolvimento em jornadas, esta ópera famosa é insuflada pela espectacularidade dos efeitos visuais: mares revoltosos, majestosos jardins, grandiosas cidades, com leões e golfinhos à mistura, sugerem-nos uma viagem pelos meandros do Império enquanto desígnio superior. Para além do enclave mulher-morte, quer pela mão de Emília que, de forma incompreensível, falha o golpe fatal quer por Dido, cuja morte conseguida a transforma em constelação, Eneias é o herói ingratamente condenado ao Império. |
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