A migração de haitianos para o Brasil e os usos da razão
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2014 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10071/9161 |
Resumo: | No ano de 2010, começaram a surgir os primeiros migrantes vindos do Haiti até às fronteiras do Brasil, na Amazónia. O pedido de refúgio foi utilizado como forma de aceder à documentação necessária para continuarem a sua deslocação, em busca de trabalho no Brasil ou alhures. Não tendo este estatuto reconhecido pelas autoridades e não preenchendo as condições requeridas pelo Estatuto do Estrangeiro – pesado resquício da ditadura militar – os haitianos foram objeto de uma exceção com base na sua condição de vítimas de uma catástrofe natural que deixara o país em condições ameaçadoras para a sua sobrevivência. Alvo, desde o início, da atenção dos meios de comunicação e de uma tentativa de contenção nas fronteiras, rapidamente se tornaram protagonistas involuntários de uma narrativa de “invasão”, despertando reações que em tudo revelam a manutenção de preconceitos e práticas que datam do período final da escravatura no Brasil. A procura por protagonismo regional e internacional, para além da condição de potência emergente, levaram o Brasil a participar na força militar MINUSTAH, que ocupa o Haiti há mais de dez anos. Recorrendo à força moral, paradoxal e politicamente ambígua, da razão humanitária (Fassin, 2012), diversos atores interferem na criação das condições para o surgimento e, inclusive, na gestão dos fluxos migratórios, ditos, indesejáveis, como o caso dos haitianos no Brasil. Reproduzindo no Brasil um modelo económico que se vale da mão-de-obra dócil e barata, os haitianos que se afiguram como culturalmente indesejáveis para muitos, são, afinal, economicamente desejáveis num sistema capitalista. |
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