Evidencialidade/mediatividade, modalidade epistémica e (inter)subjetividade

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Silva, Augusto Soares da
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.14/39527
Resumo: A evidencialidade ou, seguindo a tradição francesa, mediatividade é uma categoria complexa, controversa e ainda não estabelecida na terminologia linguística do português, com uma literatura já extensa para outras línguas e alguns estudos para o português. Como categoria conceptual, independente das suas formas de expressão linguística, de algum modo presente nas línguas desprovidas de um sistema gramatical específico para a codificar, como o português, coloca ainda hoje duas questões principais: (i) a questão da definição do seu estatuto como categoria gramatical, semântica ou discursiva e do seu conceito tradicionalmente caracterizado como designado a origem da informação do conteúdo proposicional de um enunciado e (ii) a questão da sua demarcação relativamente à categoria conceptual da modalidade epistémica. Procuraremos responder a estas duas questões numa perspetiva cognitivo-funcional e centrada no uso da língua e com base em duas expressões evidenciais/mediativas gramaticalizadas do português: o futuro composto (ou futuro perfeito) e o verbo parecer seguido de oração finita ou infinitiva. Argumentaremos que a evidencialidade indica a origem e a fiabilidade da informação e que a fiabilidade da informação não envolve necessariamente graus de compromisso epistémico do locutor ou graus de (in)certeza. Os usos mediativos reportativos do futuro composto do português europeu contemporâneo, típico do discurso jornalístico noticioso, e de parecer comprovam esta independência da evidencialidade em relação à modalidade epistémica. Os usos mediativos inferenciais do futuro composto e de parecer mostram a relação estreita e mesmo a sobreposição parcial de evidencialidade e modalidade epistémica. Ambos os usos reportativo e inferencial destes dois marcadores evidenciais contribuem para o controlo epistémico do locutor no discurso e para o alinhamento intersubjetivo dos participantes do ato de comunicação. Os usos inferenciais do futuro composto e de parecer resultaram de processos diacrónicos cognitivos e pragmático-discursivos de subjetificação, ao passo que os seus usos reportativos emergiram de idênticos processos de intersubjetificação.
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Como categoria conceptual, independente das suas formas de expressão linguística, de algum modo presente nas línguas desprovidas de um sistema gramatical específico para a codificar, como o português, coloca ainda hoje duas questões principais: (i) a questão da definição do seu estatuto como categoria gramatical, semântica ou discursiva e do seu conceito tradicionalmente caracterizado como designado a origem da informação do conteúdo proposicional de um enunciado e (ii) a questão da sua demarcação relativamente à categoria conceptual da modalidade epistémica. Procuraremos responder a estas duas questões numa perspetiva cognitivo-funcional e centrada no uso da língua e com base em duas expressões evidenciais/mediativas gramaticalizadas do português: o futuro composto (ou futuro perfeito) e o verbo parecer seguido de oração finita ou infinitiva. Argumentaremos que a evidencialidade indica a origem e a fiabilidade da informação e que a fiabilidade da informação não envolve necessariamente graus de compromisso epistémico do locutor ou graus de (in)certeza. Os usos mediativos reportativos do futuro composto do português europeu contemporâneo, típico do discurso jornalístico noticioso, e de parecer comprovam esta independência da evidencialidade em relação à modalidade epistémica. Os usos mediativos inferenciais do futuro composto e de parecer mostram a relação estreita e mesmo a sobreposição parcial de evidencialidade e modalidade epistémica. Ambos os usos reportativo e inferencial destes dois marcadores evidenciais contribuem para o controlo epistémico do locutor no discurso e para o alinhamento intersubjetivo dos participantes do ato de comunicação. Os usos inferenciais do futuro composto e de parecer resultaram de processos diacrónicos cognitivos e pragmático-discursivos de subjetificação, ao passo que os seus usos reportativos emergiram de idênticos processos de intersubjetificação.Evidentiality or, following the French linguistic tradition, “mediativity” is a complex and controversial category, with an already extensive body of literature devoted to other languages and a few studies focusing on Portuguese. As a conceptual category, abstracting away from its linguistic means of expression, which is to some extent present in languages such as Portuguese that lack a specific grammatical system for its codification, evidentiality/mediativity raises two main issues which are yet to be addressed: the first question concerns the definition of its status as a grammatical, semantic or discursive category and of its conceptual basis, traditionally characterized as referring to the source of information for the propositional content of the utterance, while the second touches upon its demarcation with respect to the conceptual category of epistemic modality. The aim of this study is to provide an answer to both questions from a cognitive-functional, usage-based perspective, on the basis of two grammaticalized evidential/mediative markers of Portuguese, namely the compound form of the future and the verb parecer ‘seem’ followed by a non-finite verb or a finite clause. We sustain the view that evidentiality provides an indication about the source and reliability of the information, and that reliability does not necessarily involve degrees of epistemic speaker commitment or degrees of (un)certainty. While the reportative evidential uses of the compound form of the future in Modern European Portuguese, typical of news reports, and of parecer provide evidence for the relative independence of evidentiality in relation to epistemic modality, the inferential evidential uses of the compound future and of parecer reveal a close link, and even a partial overlap, between evidentiality and epistemic modality. Both reportative and inferential uses of these evidential markers contribute to the speaker’s epistemic control in the discourse and speaker’s intersubjective alignment. While the inferential uses of the compound future and of parecer stemmed from diachronic cognitive and pragmatic-discursive processes of subjectification, the reportative uses of these evidential markers resulted from diachronic cognitive and pragmatic-discursive processes of intersubjectification.Veritati - Repositório Institucional da Universidade Católica PortuguesaSilva, Augusto Soares da2022-12-09T18:18:02Z2022-11-232022-11-23T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.14/39527por1646-619510.21747/16466195/ling2022v1a11info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-07-12T17:45:03Zoai:repositorio.ucp.pt:10400.14/39527Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T18:32:21.424660Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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