De Alexandria ao identitarismo : presenças gnósticas na direita radical contemporânea

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Vaz, João José Rosmaninho Loureiro
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.2/7512
Resumo: O presente trabalho pretende ser uma reflexão sobre o gnosticismo e a sua influência em alguns dos movimentos políticos mais significativos dos últimos cem anos, com especial referência ao caso português. O gnosticismo surge num ambiente pré-cristão e vai configurar-se como adversário da nova religião emergente. Entre os séculos I e IV desenvolve-se um confronto entre gnosticismo e cristianismo, o qual termina com a aparente vantagem deste. Adormecido durante o período medieval, o gnosticismo começa a reviver com o Renascimento. Mas é, sobretudo, a partir do século XVIII com o culto do progresso e suas sequelas, nomeadamente o positivismo e o marxismo, que renasce com uma força notável. O século XX assiste ao aparecimento das religiões políticas, comunismo, marxismo e fascismo as quais apresentam uma forte componente gnóstica. Em todas elas existe a pretensão do absoluto, a convicção de que representam um estádio crucial da história, configurando assim a ideia gnóstica central segundo a qual o conhecimento é o veículo para a salvação. Negando o cristianismo apresentam uma dívida para com o mesmo, a nível da perspectiva histórica. São, no fim de contas, o outro daquele, ajustado a um mundo que se quer secularizado mas não consegue passar sem fé, seja ela no progresso, na raça, na história ou na democracia liberal. Nos nossos dias o discurso gnóstico continua vivo, seja na pretensão totalitária de alguns arautos do politicamente correcto, nas velhas ideologias supostamente mortas em 1945 e 1989 e em movimentos radicais contemporâneos como é também visível no caso português. Contra estas ideologias ergueu-se, ao longo do século XX, a herança da Contra-Revolução e da Doutrina Social da Igreja. Grandes ideias têm-se confrontado ao longo da História. Duas delas, o cristianismo e o gnosticismo, fazem-no há 2000 anos. É um pouco desse processo o que aqui se analisa. Para a efectivação do trabalho procedemos à revisão de parte da literatura existente acerca do universo gnóstico, do nazismo, marxismo, fascismo e Estado Novo. O mesmo foi feito para a direita radical contemporânea nacional, tendo-se também, para esta, procedido à realização de entrevistas e pesquisa de materiais editados que vão desde a propaganda política a reportagens surgidas na imprensa nacional. No final do mesmo concluímos pela presença dos traços gnósticos nos totalitarismos do século passado e em boa parte da direita radical contemporânea portuguesa. Num plano diferente colocamos o autoritarismo salazarista, devedor do universo intelectual tradicional e católico e como tal hostil ao imaginário gnóstico.
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O século XX assiste ao aparecimento das religiões políticas, comunismo, marxismo e fascismo as quais apresentam uma forte componente gnóstica. Em todas elas existe a pretensão do absoluto, a convicção de que representam um estádio crucial da história, configurando assim a ideia gnóstica central segundo a qual o conhecimento é o veículo para a salvação. Negando o cristianismo apresentam uma dívida para com o mesmo, a nível da perspectiva histórica. São, no fim de contas, o outro daquele, ajustado a um mundo que se quer secularizado mas não consegue passar sem fé, seja ela no progresso, na raça, na história ou na democracia liberal. Nos nossos dias o discurso gnóstico continua vivo, seja na pretensão totalitária de alguns arautos do politicamente correcto, nas velhas ideologias supostamente mortas em 1945 e 1989 e em movimentos radicais contemporâneos como é também visível no caso português. Contra estas ideologias ergueu-se, ao longo do século XX, a herança da Contra-Revolução e da Doutrina Social da Igreja. Grandes ideias têm-se confrontado ao longo da História. Duas delas, o cristianismo e o gnosticismo, fazem-no há 2000 anos. É um pouco desse processo o que aqui se analisa. Para a efectivação do trabalho procedemos à revisão de parte da literatura existente acerca do universo gnóstico, do nazismo, marxismo, fascismo e Estado Novo. O mesmo foi feito para a direita radical contemporânea nacional, tendo-se também, para esta, procedido à realização de entrevistas e pesquisa de materiais editados que vão desde a propaganda política a reportagens surgidas na imprensa nacional. No final do mesmo concluímos pela presença dos traços gnósticos nos totalitarismos do século passado e em boa parte da direita radical contemporânea portuguesa. Num plano diferente colocamos o autoritarismo salazarista, devedor do universo intelectual tradicional e católico e como tal hostil ao imaginário gnóstico.This essay intends to be a reflection on gnosticism and its influence in some of the most significant political movements in the last hundred years. Gnosticism arose in a pre-christian environment and set itself up as an oponent of the emerging new religion. A confrontation between gnosticism and christianism was developped between the first and the fourth centuries and ended with the apparent advantage of the last one. Being asleep during the medieval period, gnosticism began to revive with the renaissance. But it was mainly since the eighteenth century with the cult of progress and its aftermath- marxism and positivism – that it was reborn with remarkable strenght. The twentieth century witnessed the emergence of political religions: communism, marxism and fascism, which have a strong gnostic component. In all of them there is a dream of the absolute, a conviction that they represent the last stage of history configuring the central gnostic idea according to which, knowledge is the vehicle for salvation. Although these ideologies deny christianism, all of them are indebted to it concerning their historical perspective. After all, they are the reverse of christianism adjusted to a world that claims to be secularized but can not live withouth faith, whether in progress, race or history. Nowadays, the gnostic discourse continues to be alive, both in the neoliberal doctrine, and in ideologies supposedly dead in 1945 and 1989 and in contemporary radical movements such as the portuguese radical right. Throughout the twentieth century , the legacy of the counter-revolution and the social doctrine of the catholic church arose against these political beliefs – as can be detected in the conservative authoritarianism of Estado Novo. Great doctrines have been fighting among themselves throughout history. Two of them, christianism and gnosticism have been doing it for 2000 years ago. It is a chapter of this process that is analyzed here.Costa, Paulo ManuelRepositório AbertoVaz, João José Rosmaninho Loureiro2018-09-21T10:53:05Z2018-07-182018-09-212018-07-18T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.2/7512TID:201981297porVaz, João José Rosmaninho Loureiro - De Alexandria ao identitarismo [Em linha]: presenças gnósticas na direita radical contemporânea. 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