Memória e pós-memória na prática artística - Leituras em torno das obras de Hannah Arendt e de Marianne Hirsch

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Sousa, Filipa Maria Correia de
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10362/95870
Resumo: O presente estudo apresenta uma reflexão sobre a possibilidade da transmissão intergeracional de memórias, acções e discursos de um passado colectivo traumático, reactivados através da prática artística, muito em particular, através do trabalho artístico das gerações seguintes à geração vítima do Holocausto. A partir da análise desse trabalho, procura-se demonstrar como pode a arte dar a conhecer um acontecimento passado traumático através dos processos de mediação que lhe são próprios, e de que modo pode o investimento imaginativo, intrínseco à adopção e projecção dessas memórias e narrativas no presente, conduzir o espectador distanciado espacial e temporalmente do acontecimento a uma potencial reflexão crítica e à compreensão de um passado traumático não experienciado, mas transmitido entre gerações, de forma a garantir a preservação e permanência da sua memória. A primeira parte deste estudo, desenvolvida nos dois primeiros capítulos, apresenta uma análise do pensamento de Hannah Arendt acerca da necessidade de preservação de uma memória das acções humanas e dos acontecimentos passados, nomeadamente eventos trágicos, dos quais o sentido é apreendido de forma extemporânea pelo narrador, pelo historiador e pelo poeta. Por conseguinte, analisa-se a teoria da acção arendtiana em complemento com a filosofia estética de Kant, em particular, o exercício do juízo a partir do ponto de vista privilegiado do espectador que julga os fenómenos de forma imparcial e distanciada. Ao averiguar esta aptidão do espectador para julgar acerca de acontecimentos passados não vividos, procura-se demonstrar o modo como esta aptidão está relacionada com a proposta de interpretação artística de um autor-testemunha, o qual, através do seu trabalho, propõe uma reflexão acerca de um acontecimento passado traumático colectivo. À luz dessas observações, a segunda parte deste estudo desenvolve então uma análise acerca de que modo pode o trabalho artístico e literário desses autores estar ligado ao denominado trabalho da pós-memória, conceito concebido por Marianne Hirsch, delimitando as últimas considerações à demonstração de como é que o recurso a memórias e experiências do passado na prática artística pode porventura conduzir à compreensão desse passado traumático colectivo, ao abrir potenciais espaços críticos de reflexão, transmissão e preservação dessa memória.
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A partir da análise desse trabalho, procura-se demonstrar como pode a arte dar a conhecer um acontecimento passado traumático através dos processos de mediação que lhe são próprios, e de que modo pode o investimento imaginativo, intrínseco à adopção e projecção dessas memórias e narrativas no presente, conduzir o espectador distanciado espacial e temporalmente do acontecimento a uma potencial reflexão crítica e à compreensão de um passado traumático não experienciado, mas transmitido entre gerações, de forma a garantir a preservação e permanência da sua memória. A primeira parte deste estudo, desenvolvida nos dois primeiros capítulos, apresenta uma análise do pensamento de Hannah Arendt acerca da necessidade de preservação de uma memória das acções humanas e dos acontecimentos passados, nomeadamente eventos trágicos, dos quais o sentido é apreendido de forma extemporânea pelo narrador, pelo historiador e pelo poeta. Por conseguinte, analisa-se a teoria da acção arendtiana em complemento com a filosofia estética de Kant, em particular, o exercício do juízo a partir do ponto de vista privilegiado do espectador que julga os fenómenos de forma imparcial e distanciada. Ao averiguar esta aptidão do espectador para julgar acerca de acontecimentos passados não vividos, procura-se demonstrar o modo como esta aptidão está relacionada com a proposta de interpretação artística de um autor-testemunha, o qual, através do seu trabalho, propõe uma reflexão acerca de um acontecimento passado traumático colectivo. À luz dessas observações, a segunda parte deste estudo desenvolve então uma análise acerca de que modo pode o trabalho artístico e literário desses autores estar ligado ao denominado trabalho da pós-memória, conceito concebido por Marianne Hirsch, delimitando as últimas considerações à demonstração de como é que o recurso a memórias e experiências do passado na prática artística pode porventura conduzir à compreensão desse passado traumático colectivo, ao abrir potenciais espaços críticos de reflexão, transmissão e preservação dessa memória.This study presents a discussion about the possibility of an intergenerational transmission of memories, actions and speeches from a collective and traumatic past, reactivated by artistic practice and, in particular, through the artistic work of the generations that came after the Holocaust. From the analysis of this particular work, this study seeks to demonstrate how art can make known a traumatic past event through its own mediation processes, and how the imaginative investment, intrinsic to the adoption and projection of these memories and narratives in the present, can lead the spectator, who is spatially and temporally distanced from the event, to a potential critical reflection and understanding of a traumatic past that was not experienced, but transmitted between generations, to ensure the preservation and permanence of its memory. The first part of this study, which is developed on the first two chapters, presents an analysis of Hannah Arendt’s thoughts about the need to preserve a memory of human actions and past events, and remarkably tragic events, from which meaning is apprehended in an anachronic manner by the storyteller, the historian and the poet. Therefore, the theory of action of Arendt is analysed in addition to Kant’s aesthetic philosophy, in particular, the exercise of judgment from the privileged standpoint of the spectator, who judges the phenomena impartially and from a proper distance. By investigating the spectator’s ability to judge past events which weren’t experienced, it seeks to demonstrate how this ability is related to the artistic interpretation of a witnessauthor, who, through his work, proposes a reflection about a collective traumatic past event. Then, in light of this observations, the second part of this study develops an analysis on how these authors’ artistic and literary work can be connected to the postmemory work, a concept developed by Marianne Hirsch, and the latter considerations are outlined to demonstrate in what way the recourse to memories and experiences of the past, in artistic practice, may lead to the understanding of that collective traumatic past, by opening potential critical spaces of reflection, transmission and preservation of its memory.Branco, Maria João MayerRUNSousa, Filipa Maria Correia de2023-02-26T01:31:48Z2020-02-262020-04-072020-02-26T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10362/95870TID:202455130porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-11T04:43:46Zoai:run.unl.pt:10362/95870Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T03:38:27.005472Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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