Narradores-trapeiros, anarquivamento e fragmentação em romances de Benedicto Monteiro
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2022 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10400.2/14126 |
Resumo: | Os romances de Benedicto Monteiro Verde vagomundo (1972), O minossauro (1975) e A terceira margem (1983), escritos e publicados sob o contexto da ditadura militar brasileira, empregam em suas composições a técnica da montagem e da fragmentação, comum a outros romances da década de 1970 (Franco, 1998), e aparecem-nos em sua feição desconforme como fractais desconjuntados e como árvores semoventes (Pacheco, 2020). Mobilizando materiais discursivos diversos coletados na sociedade e inserindo-os no romance, o narrador promove uma desordem na lógica do arquivo ocidental, cartesiano, iluminista, age como um catador de lixo, como o trapeiro baudelairiano, para nos colocar frente a um anti-arquivo. Ele coleta e apresenta ao leitor uma coleção aparentemente aleatória de transcrições de rádio, notícias de jornais e de revistas, letras de canções, poemas, relatórios técnicos, depoimentos e outros materiais discursivos. Neste arquivo, analisamos o narrador-trapeiro e o anarquivamento, a anarquia do arquivo que abala o edifício da razão ocidental, na medida em que são coletados das ruínas os resíduos da sociedade para reconstruir um discurso de modo crítico (conforme Seligmann-Silva, 2014). O anarquivamento, como gesto de desordem e fragmentação, realizado pelos narradores, aparece como um princípio estético e correspondente à percepção do choque pelo sujeito frente ao aparelhamento do Estado e à vertigem provocada ante o aparato violento, tecnocrático. Afinal, no contexto em que os romances foram escritos, a medida do bem e do mal e a subjugação da autonomia do sujeito estão sob o domínio de um Estado cuja política é pautada na violência e no controle (Todorov, 2008). A fragmentação e o anarquivamento como formas de dispor a narrativa correspondem ao modo de percepção de si, dos outros e do mundo por este narrador, também desinteiriço, em um contexto e por causa de um contexto violento, adverso, degradante. |
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Narradores-trapeiros, anarquivamento e fragmentação em romances de Benedicto MonteiroRapper-narrators, anarchivation and fragmentation in Benedicto Monteiro’s novelsNarrador trapeiroAnarquivamentoFragmentaçãoBenedicto MonteiroRapper-narratorsAnarchivationFragmentationODS::04:Educação de QualidadeOs romances de Benedicto Monteiro Verde vagomundo (1972), O minossauro (1975) e A terceira margem (1983), escritos e publicados sob o contexto da ditadura militar brasileira, empregam em suas composições a técnica da montagem e da fragmentação, comum a outros romances da década de 1970 (Franco, 1998), e aparecem-nos em sua feição desconforme como fractais desconjuntados e como árvores semoventes (Pacheco, 2020). Mobilizando materiais discursivos diversos coletados na sociedade e inserindo-os no romance, o narrador promove uma desordem na lógica do arquivo ocidental, cartesiano, iluminista, age como um catador de lixo, como o trapeiro baudelairiano, para nos colocar frente a um anti-arquivo. Ele coleta e apresenta ao leitor uma coleção aparentemente aleatória de transcrições de rádio, notícias de jornais e de revistas, letras de canções, poemas, relatórios técnicos, depoimentos e outros materiais discursivos. Neste arquivo, analisamos o narrador-trapeiro e o anarquivamento, a anarquia do arquivo que abala o edifício da razão ocidental, na medida em que são coletados das ruínas os resíduos da sociedade para reconstruir um discurso de modo crítico (conforme Seligmann-Silva, 2014). O anarquivamento, como gesto de desordem e fragmentação, realizado pelos narradores, aparece como um princípio estético e correspondente à percepção do choque pelo sujeito frente ao aparelhamento do Estado e à vertigem provocada ante o aparato violento, tecnocrático. Afinal, no contexto em que os romances foram escritos, a medida do bem e do mal e a subjugação da autonomia do sujeito estão sob o domínio de um Estado cuja política é pautada na violência e no controle (Todorov, 2008). A fragmentação e o anarquivamento como formas de dispor a narrativa correspondem ao modo de percepção de si, dos outros e do mundo por este narrador, também desinteiriço, em um contexto e por causa de um contexto violento, adverso, degradante.The novels by Benedicto Monteiro Verde vagomundo (1972), O minosauro (1975) and A terceira margem (1983), written and published in the context of the Brazilian military dictatorship, employ in their compositions the technique of montage and fragmentation, common to other novels from the 1970’s (Franco, 1998), and they appear to us in their non-conforming feature as disjointed fractals and as self-moving trees (Pacheco, 2020). Mobilizing diverse discursive materials collected in society and inserting them in the novel, the narrator promotes a disorder in the logic of the Western, Cartesian, Enlightenment archive, he acts like a garbage collector, like the Baudelairean rag-picker, to put us in front of an antiarchive. He collects and presents the reader with a seemingly random collection of radio transcripts, newspaper and magazine news, songs lyrics, poems, technical reports, testimonials, and other discursive material. In this paper, we analyze the ragpicker narrator and the anarchivation, the anarchivation of the archive that shakes the edifice of Western reason, as the residues of society are collected from the ruins to critically reconstruct a discourse (according to Seligmann-Silva, 2014). Anarchivation, as a gesture of disorder and fragmentation, carried out by the narrators, appears as an aesthetic principle and corresponds to the perception of shock by the subject in the face of the rigging of the State and the vertigo caused by the violent, technocratic apparatus. After all, in the context in which the novels were written, the measure of good and evil and the subjugation of the subject’s autonomy are under the rule of a State whose policy is based on violence and control (Todorov, 2008). Fragmentation and anarchivation as ways of disposing the narrative correspond to the way of perceiving himself, others and the world by this narrator, also disjointed, in a context and because of a violent, adverse, degrading context.Centro de Estudos Globais da Universidade Aberta (CEG/UAb) | Instituto Europeu de Ciências da Cultura Padre Manuel Antunes (IECCPMA) | Associação Internacional de Estudos Ibero-Eslavos (CompaRes)Repositório AbertoPacheco, Abilio2023-06-23T10:29:29Z20222022-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.2/14126porPacheco, Abílio - Narradores-trapeiros, anarquivamento e fragmentação em romances de Benedicto Monteiro. "e-LCV" [Em linha]. ISSN 2184-4097. Nº 9 (julho-dez. de 2022), p. 29-37https://doi.org/10.53943/ELCV.0222_29-372184-4097info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-17T01:48:55Zoai:repositorioaberto.uab.pt:10400.2/14126Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T22:53:01.477809Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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