Equilíbrio impossível: a necessidade do artifício e o mito da natureza

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Cancelliere, Francesco
Data de Publicação: 2007
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10284/732
Resumo: Reflectir sobre o conceito de equilíbrio no âmbito das disciplinas da arquitectura e do urbanismo remete necessariamente a considerações sobre o carácter de artifício dos fenomenos urbano e arquitectónico analisados: construir casas ou cidades, actividade especificamente humana enquanto transcende a simples urgência de protecção e de abrigo para entrar no domínio das associações semânticas, configurase inevitavelmente como uma intervenção perturbadora de estados anteriores supostamente “equilibrados”. a história das cidades, de acordo com os dados que as descobertas arqueológicas colocam hoje à disposição da nossa capacidade interpretativa, coincide com o aparecimento de outro fenómeno especificamente humano, o da escrita, e confunde-se portanto com a história cultural da humanidade, dos seus mítos e das suas narrativas. A modificação artificial do meio-ambiente, no sentido de adaptá-lo a exigências humanas de diferente ordem, prática ou simbólica, ou ambas, acompanha-se com o desenvolvimento de conceitos e teorías sobre o próprio significado da intervenção humana no mundo físico e sobre a avaliação de todas as suas consequências. os diferentes aspectos e conotações da relação entre “artifício”, entendido como resultado consciente da manipulação de recursos naturais por parte do homem no sentido de satisfazer exigências materias e simbólicas, e “natureza”, embora este conceito possa assumir conotações variáveis e, em alguns casos, até opostas, de acordo com o período histórico e a localização geográfica, apresentam- se portanto como categorias críticas recorrentes, quase inevitaveis, em grande parte da produção teórica ocidental sobre a arquitectura e a cidade. Uma reflexão actualizada sobre as possiveis conotações da relação, harmónica ou conflitual, entre artifício e natureza, devería portanto constituir uma premissa indispensável para orientar as actividades de projecto arquitectónico e urbano. A reflection about the idea of equilibrium in architecture and urbanism involves necessarily some considerations about relationship between artifice and nature: building houses and cities, a specifically human activity when thought not only as a simple response to the urgency of protection, but as a significant activity, is an action that influences and perturb existing, equilibrated situations. in urban history, according to archaeological studies, the development of stable settlements corresponds to both agricultural development and invention of writing; urban history thus corresponds to the possibility of transmitting and fixing cultural history, with its myths and narrations, as well as with the development of organized strategy of modification and controlling of nature for economic purposes. Artificial modification of the environment, for both practical and symbolic purposes, appears to be a necessary principle for architecture and urbanism and is accompanied by a development of theories and concepts about the deep signification of the human intervention on the physical world and a reflection about its impact and consequences. all the distinct aspects of the relationship between artifice, as intentional modification of natural environment through the human action for both symbolic and practical purposes, and nature, though this concept should be object of a deeper reflection according to the different and variable value it had along cultural history, appear to be fundamental critical categories in western theoretical architectonic literature. a contemporary evaluation of the possible connotation and consequences of the relationship, either harmonic or conflictive, between artifice and nature, should therefore be considered an unavoidable starting point in order to rethink the principles of architectonic and urban design.
id RCAP_36f3ea287cef498cf6acd898dcf69f9d
oai_identifier_str oai:bdigital.ufp.pt:10284/732
network_acronym_str RCAP
network_name_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository_id_str 7160
spelling Equilíbrio impossível: a necessidade do artifício e o mito da naturezaArquitecturaUrbanismoHistóriaNaturezaAmbienteArchitectureUrbanismHistoryNatureEnvironmentReflectir sobre o conceito de equilíbrio no âmbito das disciplinas da arquitectura e do urbanismo remete necessariamente a considerações sobre o carácter de artifício dos fenomenos urbano e arquitectónico analisados: construir casas ou cidades, actividade especificamente humana enquanto transcende a simples urgência de protecção e de abrigo para entrar no domínio das associações semânticas, configurase inevitavelmente como uma intervenção perturbadora de estados anteriores supostamente “equilibrados”. a história das cidades, de acordo com os dados que as descobertas arqueológicas colocam hoje à disposição da nossa capacidade interpretativa, coincide com o aparecimento de outro fenómeno especificamente humano, o da escrita, e confunde-se portanto com a história cultural da humanidade, dos seus mítos e das suas narrativas. A modificação artificial do meio-ambiente, no sentido de adaptá-lo a exigências humanas de diferente ordem, prática ou simbólica, ou ambas, acompanha-se com o desenvolvimento de conceitos e teorías sobre o próprio significado da intervenção humana no mundo físico e sobre a avaliação de todas as suas consequências. os diferentes aspectos e conotações da relação entre “artifício”, entendido como resultado consciente da manipulação de recursos naturais por parte do homem no sentido de satisfazer exigências materias e simbólicas, e “natureza”, embora este conceito possa assumir conotações variáveis e, em alguns casos, até opostas, de acordo com o período histórico e a localização geográfica, apresentam- se portanto como categorias críticas recorrentes, quase inevitaveis, em grande parte da produção teórica ocidental sobre a arquitectura e a cidade. Uma reflexão actualizada sobre as possiveis conotações da relação, harmónica ou conflitual, entre artifício e natureza, devería portanto constituir uma premissa indispensável para orientar as actividades de projecto arquitectónico e urbano. A reflection about the idea of equilibrium in architecture and urbanism involves necessarily some considerations about relationship between artifice and nature: building houses and cities, a specifically human activity when thought not only as a simple response to the urgency of protection, but as a significant activity, is an action that influences and perturb existing, equilibrated situations. in urban history, according to archaeological studies, the development of stable settlements corresponds to both agricultural development and invention of writing; urban history thus corresponds to the possibility of transmitting and fixing cultural history, with its myths and narrations, as well as with the development of organized strategy of modification and controlling of nature for economic purposes. Artificial modification of the environment, for both practical and symbolic purposes, appears to be a necessary principle for architecture and urbanism and is accompanied by a development of theories and concepts about the deep signification of the human intervention on the physical world and a reflection about its impact and consequences. all the distinct aspects of the relationship between artifice, as intentional modification of natural environment through the human action for both symbolic and practical purposes, and nature, though this concept should be object of a deeper reflection according to the different and variable value it had along cultural history, appear to be fundamental critical categories in western theoretical architectonic literature. a contemporary evaluation of the possible connotation and consequences of the relationship, either harmonic or conflictive, between artifice and nature, should therefore be considered an unavoidable starting point in order to rethink the principles of architectonic and urban design.Edições Universidade Fernando Pessoadir. Álvaro MonteiroRepositório Institucional da Universidade Fernando PessoaCancelliere, Francesco2008-09-22T13:15:07Z2007-01-01T00:00:00Z2007-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10284/732porA obra nasce: revista de Arquitectura da Universidade Fernando Pessoa. Porto. ISSN 1645-8729. 4 (Fev. 2007) 15-24.1645-8729info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2022-09-27T02:00:27Zoai:bdigital.ufp.pt:10284/732Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T15:38:27.580892Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
dc.title.none.fl_str_mv Equilíbrio impossível: a necessidade do artifício e o mito da natureza
title Equilíbrio impossível: a necessidade do artifício e o mito da natureza
spellingShingle Equilíbrio impossível: a necessidade do artifício e o mito da natureza
Cancelliere, Francesco
Arquitectura
Urbanismo
História
Natureza
Ambiente
Architecture
Urbanism
History
Nature
Environment
title_short Equilíbrio impossível: a necessidade do artifício e o mito da natureza
title_full Equilíbrio impossível: a necessidade do artifício e o mito da natureza
title_fullStr Equilíbrio impossível: a necessidade do artifício e o mito da natureza
title_full_unstemmed Equilíbrio impossível: a necessidade do artifício e o mito da natureza
title_sort Equilíbrio impossível: a necessidade do artifício e o mito da natureza
author Cancelliere, Francesco
author_facet Cancelliere, Francesco
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv dir. Álvaro Monteiro
Repositório Institucional da Universidade Fernando Pessoa
dc.contributor.author.fl_str_mv Cancelliere, Francesco
dc.subject.por.fl_str_mv Arquitectura
Urbanismo
História
Natureza
Ambiente
Architecture
Urbanism
History
Nature
Environment
topic Arquitectura
Urbanismo
História
Natureza
Ambiente
Architecture
Urbanism
History
Nature
Environment
description Reflectir sobre o conceito de equilíbrio no âmbito das disciplinas da arquitectura e do urbanismo remete necessariamente a considerações sobre o carácter de artifício dos fenomenos urbano e arquitectónico analisados: construir casas ou cidades, actividade especificamente humana enquanto transcende a simples urgência de protecção e de abrigo para entrar no domínio das associações semânticas, configurase inevitavelmente como uma intervenção perturbadora de estados anteriores supostamente “equilibrados”. a história das cidades, de acordo com os dados que as descobertas arqueológicas colocam hoje à disposição da nossa capacidade interpretativa, coincide com o aparecimento de outro fenómeno especificamente humano, o da escrita, e confunde-se portanto com a história cultural da humanidade, dos seus mítos e das suas narrativas. A modificação artificial do meio-ambiente, no sentido de adaptá-lo a exigências humanas de diferente ordem, prática ou simbólica, ou ambas, acompanha-se com o desenvolvimento de conceitos e teorías sobre o próprio significado da intervenção humana no mundo físico e sobre a avaliação de todas as suas consequências. os diferentes aspectos e conotações da relação entre “artifício”, entendido como resultado consciente da manipulação de recursos naturais por parte do homem no sentido de satisfazer exigências materias e simbólicas, e “natureza”, embora este conceito possa assumir conotações variáveis e, em alguns casos, até opostas, de acordo com o período histórico e a localização geográfica, apresentam- se portanto como categorias críticas recorrentes, quase inevitaveis, em grande parte da produção teórica ocidental sobre a arquitectura e a cidade. Uma reflexão actualizada sobre as possiveis conotações da relação, harmónica ou conflitual, entre artifício e natureza, devería portanto constituir uma premissa indispensável para orientar as actividades de projecto arquitectónico e urbano. A reflection about the idea of equilibrium in architecture and urbanism involves necessarily some considerations about relationship between artifice and nature: building houses and cities, a specifically human activity when thought not only as a simple response to the urgency of protection, but as a significant activity, is an action that influences and perturb existing, equilibrated situations. in urban history, according to archaeological studies, the development of stable settlements corresponds to both agricultural development and invention of writing; urban history thus corresponds to the possibility of transmitting and fixing cultural history, with its myths and narrations, as well as with the development of organized strategy of modification and controlling of nature for economic purposes. Artificial modification of the environment, for both practical and symbolic purposes, appears to be a necessary principle for architecture and urbanism and is accompanied by a development of theories and concepts about the deep signification of the human intervention on the physical world and a reflection about its impact and consequences. all the distinct aspects of the relationship between artifice, as intentional modification of natural environment through the human action for both symbolic and practical purposes, and nature, though this concept should be object of a deeper reflection according to the different and variable value it had along cultural history, appear to be fundamental critical categories in western theoretical architectonic literature. a contemporary evaluation of the possible connotation and consequences of the relationship, either harmonic or conflictive, between artifice and nature, should therefore be considered an unavoidable starting point in order to rethink the principles of architectonic and urban design.
publishDate 2007
dc.date.none.fl_str_mv 2007-01-01T00:00:00Z
2007-01-01T00:00:00Z
2008-09-22T13:15:07Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10284/732
url http://hdl.handle.net/10284/732
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv A obra nasce: revista de Arquitectura da Universidade Fernando Pessoa. Porto. ISSN 1645-8729. 4 (Fev. 2007) 15-24.
1645-8729
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Edições Universidade Fernando Pessoa
publisher.none.fl_str_mv Edições Universidade Fernando Pessoa
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron:RCAAP
instname_str Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron_str RCAAP
institution RCAAP
reponame_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
collection Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository.name.fl_str_mv Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1817550524575121408