Moita da Ladra (Vila Franca de Xira) : resultados preliminares da escavação integral de um povoado calcolítico muralhado

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Cardoso, João Luís
Data de Publicação: 2010
Outros Autores: Caninas, João Carlos
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.2/2387
Resumo: O povoado calcolítico muralhado de Moita da Ladra implanta-se no topo de uma elevada chaminé vulcânica, que domina todo o estuário do Tejo. O pretendido prosseguimento da exploração de uma pedreira de basalto no local determinou a sua escavação integral, realizada por uma vasta equipa sob orientação dos signatários, entre Setembro de 2003 e Março de 2005, prosseguindo ainda (Maio de 2006) a exploração de uma estrutura fechada, localizada na área extramuros, aquando do desmonte acompanhado das estruturas arqueológicas, pelo que a sua publicação será efectuada noutra oportunidade.As estruturas identificadas são de carácter defensivo e habitacional. As primeiras integram uma muralha de contorno elipsoidal, em parte desaparecida, mas cujo comprimento foi possivel estimar em cerca de 80m, possuido a largura de cerca de 44m, englobando duas torres maciças e uma entrada, voltada para o estuário do Tejo, que se estende do lado sul. É interessante notar que a zona do recinto com maior visibilidade-e também mais monumental-, correspondente à área onde se construíram as duas torres e a entrada referidas, incorpora massivamente blocos de revestimento, correspondentes aos paramentos interno e externo das estruturas, de calcário branco e compacto, extraídos dos afloramentos cretácicos encaixantes do macio basáltico existentes no sopé do morro. Tal operação envolveu o corte, transporte e colocação de várias dezenas de toneladas de blocos rochosos, quando, no próprio local, o podiam obter em abundância, com idêntica qualidade. O enorme esforço construtivo envolvido em tal operação explica-se, sobretudo, pela preocupação de conferir visibilidade acrescida ao dispositivo implantado no topo da elevação, até pelo contraste oferecido com a coloração negra dos basaltos aflorantes. Esta evidência conduz a admitir que, a par da função defensiva corporizada pelo recinto muralhado - e talvez mais importante que ela - estaria implícita, na sua construção,a necessidade de sinalizar visualmente o lugar, através de verdadeiro marco construído na paisagem, constituindo referência regional incontronável, especialmente para quem abordasse a região vindo do estuário do Tejo, ou nele circulasse. Por outro lado, a implantação deste povoado calcolítico pode relacionar-se com o controlo do acesso à vasta bacia interior correspondente à várzea de Loures, cuja rede de drenagem se articula, a montante, com a bacia hidográfica do rio Sizandro, na parte vestibular da qual se localiza o povoado calcolítico fortificado do Zambujal. A linha de circulaçao natural assim definida articularia o litoral atlântico com o interior do estuário do Tejo, constituindo um caminho privilegiado para o abastecimento daquele e de outros povoados, situados no "hinterland" da baixa Estremadura, de produtos oriundos do Alentejo, através do rio Tejo e da sua rede de afluentes da margem esquerda(cobre, anfibolitos). Nesta hipótese, avulta, a localização, entre outros, do povoado calcotíco fortificado do Penedo de Lexim (Mafra), o qual, implantando-se também em imponente chaminé vulcânica dominando a paisagem envolvente, ocupa a parte intermédia do referido caminho natural. As estruturas habitacionais identificadas no interior do recinto estão representadas por covachos abertos na rocha basáltica alterada, podendo corresponder, nos casos de menores dimensões, a buracos de poste das cabanas ali existentes, ou a estruturas negativas reaproveitadas como lixeiras, como sugere o preenchimento de duas delas por cinzas e de outra por conchas de amêijoa, nalguns casos com as duas valvas ainda em conexão. Uma estrutura baixa, de planta circular, poderá corresponder a uma lareira relacionada com a metalurgia do cobre.O espólio arqueológico recolhido provém de um único depósito pouco potente, formado sobretudo pela acumulação, ao longo da parede interna do recinto muralhado, dos materiais arrastados da parte mais alta da elevação, onde as rochas basálticas afloram actualmente. Do ponto de vista tipológico, trata-se de um conjunto coerente, caracterizado pela associação das cerâmicas decoradas do grupo "folha de acácia/crucífera" a produções campaniformes, de técnica pontilhada, integrando vasos" marítimos" e vasos com decorações geométricas. Encontra-se representada, al´´em da metalurgia do cobre, a tecelagem e a transformação de produtos lácteos, documentando, a par de vários machados e de uma enxó de anfibolito(rocha exclusiva na utensilagem calcolítica de pedra polida), a existência de uma comunidade economicamente aberta ao exterior, possibilitando a obtenção de matérias-primas inexistentes na região .A única fase de ocupação identificada, condiz, por seu turno, com o facto de a edificação do dispositivo muralhado ter sido efectuada de uma única vez, o que configura curto periodo de ocupação do sítio, que não terá excedido algumas dezenas de anos. Aquando do desmonte das estruturas calcolíticas, com correspondente rebaixamento do nível de ocupação que lhes corresponde, foram recolhidos diversos materiais neolíticos, onde avultam as cerãmicas com decorações impressas e incisas, utensilagem de pedra lascada e de pedra polida (com destaque para uma enxó votiva e um machado, ambos com os gumes intactos, de fibrolite), corporizando importante ocupação do Neolítico antigo evolucionado, circunscrita à zona sul-ocidental da elevação, a qual tem paralelo em outros sítios de carácter habitacional implantados em zonas altas desta mesma região.
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As primeiras integram uma muralha de contorno elipsoidal, em parte desaparecida, mas cujo comprimento foi possivel estimar em cerca de 80m, possuido a largura de cerca de 44m, englobando duas torres maciças e uma entrada, voltada para o estuário do Tejo, que se estende do lado sul. É interessante notar que a zona do recinto com maior visibilidade-e também mais monumental-, correspondente à área onde se construíram as duas torres e a entrada referidas, incorpora massivamente blocos de revestimento, correspondentes aos paramentos interno e externo das estruturas, de calcário branco e compacto, extraídos dos afloramentos cretácicos encaixantes do macio basáltico existentes no sopé do morro. Tal operação envolveu o corte, transporte e colocação de várias dezenas de toneladas de blocos rochosos, quando, no próprio local, o podiam obter em abundância, com idêntica qualidade. O enorme esforço construtivo envolvido em tal operação explica-se, sobretudo, pela preocupação de conferir visibilidade acrescida ao dispositivo implantado no topo da elevação, até pelo contraste oferecido com a coloração negra dos basaltos aflorantes. Esta evidência conduz a admitir que, a par da função defensiva corporizada pelo recinto muralhado - e talvez mais importante que ela - estaria implícita, na sua construção,a necessidade de sinalizar visualmente o lugar, através de verdadeiro marco construído na paisagem, constituindo referência regional incontronável, especialmente para quem abordasse a região vindo do estuário do Tejo, ou nele circulasse. Por outro lado, a implantação deste povoado calcolítico pode relacionar-se com o controlo do acesso à vasta bacia interior correspondente à várzea de Loures, cuja rede de drenagem se articula, a montante, com a bacia hidográfica do rio Sizandro, na parte vestibular da qual se localiza o povoado calcolítico fortificado do Zambujal. A linha de circulaçao natural assim definida articularia o litoral atlântico com o interior do estuário do Tejo, constituindo um caminho privilegiado para o abastecimento daquele e de outros povoados, situados no "hinterland" da baixa Estremadura, de produtos oriundos do Alentejo, através do rio Tejo e da sua rede de afluentes da margem esquerda(cobre, anfibolitos). Nesta hipótese, avulta, a localização, entre outros, do povoado calcotíco fortificado do Penedo de Lexim (Mafra), o qual, implantando-se também em imponente chaminé vulcânica dominando a paisagem envolvente, ocupa a parte intermédia do referido caminho natural. As estruturas habitacionais identificadas no interior do recinto estão representadas por covachos abertos na rocha basáltica alterada, podendo corresponder, nos casos de menores dimensões, a buracos de poste das cabanas ali existentes, ou a estruturas negativas reaproveitadas como lixeiras, como sugere o preenchimento de duas delas por cinzas e de outra por conchas de amêijoa, nalguns casos com as duas valvas ainda em conexão. Uma estrutura baixa, de planta circular, poderá corresponder a uma lareira relacionada com a metalurgia do cobre.O espólio arqueológico recolhido provém de um único depósito pouco potente, formado sobretudo pela acumulação, ao longo da parede interna do recinto muralhado, dos materiais arrastados da parte mais alta da elevação, onde as rochas basálticas afloram actualmente. Do ponto de vista tipológico, trata-se de um conjunto coerente, caracterizado pela associação das cerâmicas decoradas do grupo "folha de acácia/crucífera" a produções campaniformes, de técnica pontilhada, integrando vasos" marítimos" e vasos com decorações geométricas. Encontra-se representada, al´´em da metalurgia do cobre, a tecelagem e a transformação de produtos lácteos, documentando, a par de vários machados e de uma enxó de anfibolito(rocha exclusiva na utensilagem calcolítica de pedra polida), a existência de uma comunidade economicamente aberta ao exterior, possibilitando a obtenção de matérias-primas inexistentes na região .A única fase de ocupação identificada, condiz, por seu turno, com o facto de a edificação do dispositivo muralhado ter sido efectuada de uma única vez, o que configura curto periodo de ocupação do sítio, que não terá excedido algumas dezenas de anos. Aquando do desmonte das estruturas calcolíticas, com correspondente rebaixamento do nível de ocupação que lhes corresponde, foram recolhidos diversos materiais neolíticos, onde avultam as cerãmicas com decorações impressas e incisas, utensilagem de pedra lascada e de pedra polida (com destaque para uma enxó votiva e um machado, ambos com os gumes intactos, de fibrolite), corporizando importante ocupação do Neolítico antigo evolucionado, circunscrita à zona sul-ocidental da elevação, a qual tem paralelo em outros sítios de carácter habitacional implantados em zonas altas desta mesma região.The chalcolithic fortified settlement of Moita da Ladra is located on a high volcanic overlooking the Tagus estuary. A resquest for the exploitation of basaltic resources on the site has lead to the total excavation of it, performed by a large team under the supervision of the authors of this study, between September 2003 and March 2005. It is still going on (May 2006)the excavation on a closed structure located outside the fortified area and found when the archeological excavation was undertaken. Its publication will be made elsewhere.The structures identified are defensive and domestic. The former integrate a wall having an ellipsoidal shape, in part lost, and whose length was estimated in about 80m, having a width of 44m, encompassing two massive towers and entrance, facing the estuary of Tagus, extending to the southern area. It is interesting to note that the area of the precint with the highest visibility and also the more monumental, corresponds to the local where the two towers and the entrence have been built and incorporates massif coating blocks corresponding to the internal and external faces of the structures, made of white compact limestone, extracted from the cretaceous layers surrounding the basaltic massif on the base of the hill. Such operation included the cutting and transport of several tones of rocks when,on the site itself, they could obtained them in abundance, made of compact basalt. The huge construtive effort involved in such operation can be explained especially by the concern to give more visibility to the fortification located on the top of the hill, which contrast which contrasts with the blak color of the basaltic rocks of the volcanic chimmey.This evidence leads to the conjecture that, not only there was a defensive function for the fortified precinct but also, and even more important, there would be the need to strongly outstand the site as a true landscape mark, as a visual unmistakable reference especially for those that would travel in the region coming from the estuary of Tagus or circulating in it.In fact, the location of this chalcolithic settlement can be related to the control of the access to the vast inner lowland basin of Loures, whose drainage network is articulated with the upper hydrographic basin of the river Sizandro, in the lower part of which is located the fortified chalcolithic settlement of Zambujal, near the atlantic coast. This natural circulation way thus defined could articulate the Atlantic littoral and the inside part of Tagus estuary, setting a route for the supply of this and other settlements, located in the hinterland of Lisbon peninsula, for products originated in Alentejo, through the Tagus river(copper,amphibolites). In this case, one must remember the location, among others, of the fortified settlement of Penedo de Lexim(Mafra)which is located also in a majestic volcanic chimney dominating the entire landscape and occupying the middle part of the referred natural pathway.The Habitat structures identified inside the precinct are represented by holes open in the altered basaltic rock and can correspond, in the case of those having the smallest dimenensions, to the post holes for the huts that should have existed there, or to container structures reutilised as dump holes, as suggested by the filling of two by ashes and another one by clam shells, in some cases still connected. A low size structure having a circular plant can correspond to a fireplace related to the copper metallurgy. The archeological remains lies in a single deposit of sediments accumulated along the inner wall of the precinct, from the highest part of the elevation, where the basaltic rocks are now at the surface. From a typological point of view, it is a coherent group of materials, characterized by the association of decorated ceramics of the group "acacia leaves/crucifera" to bell beaker productions, integrating maritime bowls (A00, herringbone variety)and other vessels decorated with geometric patterns. The copper metallurgy is represented, accompanied by weaving weights and by cheese-press artifacts, related to the transformation of milk. Several axes and an adzes made os amphibolite, documented a commmunity economically facing the outside and with the possibility to use basic supplies not existing in the region, obtained by change.The only phase of occupation that have been identified agrees on the other hand with the fact that the edification of the fortified walls must been made only once, which indicates a short occupation of the site, not more than a few decades. When the uncover of the chalcolithic structures was made, several neolithic artefacts were collected, where characteristic decorated ceramics are abundant, both impressed and incised, as also flint and polished stone utensils indicating an important ocupation of an advanced phase of the Early Neolithic, circumscribed to the southeastern pat of the hill, which has parallel on other hill-tops of the Lisbon peninsula,that can be attributed to residential sites, occupied along all the year.Câmara Municipal de CascaisRepositório AbertoCardoso, João LuísCaninas, João Carlos2013-03-13T16:55:35Z20102010-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.2/2387porCardoso, João Luís; Caninas, João Carlos - Moita da Ladra (Vila Franca de Xira)[Em linha] : resultados preliminares da escavação integral de um povoado calcolítico muralhado. In Colóquio Internacional, Cascais, 2005 - "Transformações e Mudanças no Centro e Sul de Portugal: 4º e o 3º milénios a.n.e.: actas". Editado por Victor S. Gonçalves e Ana Catarina Sousa. Cascais: Câmara Municipal, 2010. ISBN 978-972-637-000-0. Vol. 2. p. 65-94978-972-637-000-0info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-11-16T15:15:47Zoai:repositorioaberto.uab.pt:10400.2/2387Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T22:43:51.615417Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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É interessante notar que a zona do recinto com maior visibilidade-e também mais monumental-, correspondente à área onde se construíram as duas torres e a entrada referidas, incorpora massivamente blocos de revestimento, correspondentes aos paramentos interno e externo das estruturas, de calcário branco e compacto, extraídos dos afloramentos cretácicos encaixantes do macio basáltico existentes no sopé do morro. Tal operação envolveu o corte, transporte e colocação de várias dezenas de toneladas de blocos rochosos, quando, no próprio local, o podiam obter em abundância, com idêntica qualidade. O enorme esforço construtivo envolvido em tal operação explica-se, sobretudo, pela preocupação de conferir visibilidade acrescida ao dispositivo implantado no topo da elevação, até pelo contraste oferecido com a coloração negra dos basaltos aflorantes. Esta evidência conduz a admitir que, a par da função defensiva corporizada pelo recinto muralhado - e talvez mais importante que ela - estaria implícita, na sua construção,a necessidade de sinalizar visualmente o lugar, através de verdadeiro marco construído na paisagem, constituindo referência regional incontronável, especialmente para quem abordasse a região vindo do estuário do Tejo, ou nele circulasse. Por outro lado, a implantação deste povoado calcolítico pode relacionar-se com o controlo do acesso à vasta bacia interior correspondente à várzea de Loures, cuja rede de drenagem se articula, a montante, com a bacia hidográfica do rio Sizandro, na parte vestibular da qual se localiza o povoado calcolítico fortificado do Zambujal. A linha de circulaçao natural assim definida articularia o litoral atlântico com o interior do estuário do Tejo, constituindo um caminho privilegiado para o abastecimento daquele e de outros povoados, situados no "hinterland" da baixa Estremadura, de produtos oriundos do Alentejo, através do rio Tejo e da sua rede de afluentes da margem esquerda(cobre, anfibolitos). Nesta hipótese, avulta, a localização, entre outros, do povoado calcotíco fortificado do Penedo de Lexim (Mafra), o qual, implantando-se também em imponente chaminé vulcânica dominando a paisagem envolvente, ocupa a parte intermédia do referido caminho natural. 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Do ponto de vista tipológico, trata-se de um conjunto coerente, caracterizado pela associação das cerâmicas decoradas do grupo "folha de acácia/crucífera" a produções campaniformes, de técnica pontilhada, integrando vasos" marítimos" e vasos com decorações geométricas. Encontra-se representada, al´´em da metalurgia do cobre, a tecelagem e a transformação de produtos lácteos, documentando, a par de vários machados e de uma enxó de anfibolito(rocha exclusiva na utensilagem calcolítica de pedra polida), a existência de uma comunidade economicamente aberta ao exterior, possibilitando a obtenção de matérias-primas inexistentes na região .A única fase de ocupação identificada, condiz, por seu turno, com o facto de a edificação do dispositivo muralhado ter sido efectuada de uma única vez, o que configura curto periodo de ocupação do sítio, que não terá excedido algumas dezenas de anos. Aquando do desmonte das estruturas calcolíticas, com correspondente rebaixamento do nível de ocupação que lhes corresponde, foram recolhidos diversos materiais neolíticos, onde avultam as cerãmicas com decorações impressas e incisas, utensilagem de pedra lascada e de pedra polida (com destaque para uma enxó votiva e um machado, ambos com os gumes intactos, de fibrolite), corporizando importante ocupação do Neolítico antigo evolucionado, circunscrita à zona sul-ocidental da elevação, a qual tem paralelo em outros sítios de carácter habitacional implantados em zonas altas desta mesma região.
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