Risco e medicina oncológica na primeira metade do séc XX: o caso Português

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Moreira, Ricardo Oliveira Santos Gomes
Data de Publicação: 2016
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10451/25376
Resumo: Pretendemos neste artigo dar conta de como da institucionalização da oncologia em Portugal emergiu uma configuração moderna da relação entre medicina e risco, apoiada no uso de informação estatística e no valor científico do caso clínico individual e da objectividade. Desde finais do século XIX o cancro foi considerado uma enfermidade passível de cura, desde que precocemente diagnosticada. O aparecimento das novas tecnologias médicas da radioterapia e dos raios X transformou não só os métodos de diagnóstico mas também a acção terapêutica, permitindo novas formas de percepção do corpo e uma nova compreensão do risco oncológico. O arquivo hospitalar criado por Francisco Gentil em 1915 terá sido um dos mais eloquentes testemunhos de uma primeira tentativa de lidar com o cancro e o risco oncológico a uma escala nacional, com as suas colecções de patologia e os registos clínicos individuais. A partir de uma análise socio-histórica dos vestígios que nos chegam hoje deste repositório médico, sustentamos que no desenvolvimento do Estado sanitário moderno e da acção da medicina oncológica se desenharam alguns dos elementos mais marcantes da institucionalização da medicina moderna, assente numa acção simultaneamente individualizada, massificada e objectiva, sobre o corpo individual e colectivo. As novas técnicas de diagnóstico e terapia, apoiadas na imagem radiográfica do corpo ou nas inovações radioterapêuticas, permitiram o desenvolvimento de projectos hospitalares modernos cujo objectivo era simultaneamente implementar formas de diagnóstico e terapia eficazes e combater pela investigação e pela acção social o avanço do cancro nas populações. A partir do estudo do surgimento dos estudos do cancro em Portugal, este artigo visa reflectir sobre a emergência de uma forma moderna da relação entre corpo, risco e patologia, num contexto histórico marcado pelo surgimento da medicina de base laboratorial e tecnológica.
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