Entre ciências e etnociências
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Data de Publicação: | 2005 |
Outros Autores: | |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10174/3118 |
Resumo: | O pensamento ocidental tem estruturado muito dos seus alicerces fundamentais, a partir de dualidades mutáveis que vai refazendo e modificando. Da Filosofia Grega, nomeadamente platónica, irromperam com grande amplitude muitas destas dualidades enfatizando-se aqui a dicotomia entre epistéme e dóxa. Na medida em que se constituem como suportes de segurança para o pensar e para o viver, pois sempre se têm desmultiplicado, quer como grelhas de orientação mental, quer como matrizes de conduta axiológica, estas polaridades têm actuado como realidades mistas, entre o que é defendido como excelência da razão e o que é usado como grelha facilitadora por hábito. Com o tempo foi-se a dualidade agudizando para transformar-se em nítida oposição ao contrapor diametral e significativamente o eco socrático (epistéme, conhecimento) à argumentação sofística (dóxa, opinião). Oposição que a literatura expandiu, em seguida, outras a tantas oposições contrapondo razão e pré-juízos ou mitos, ciência e fé ou crença, verdadeiro e falso, erudito e popular, teórico e prático, abstracto e concreto. É tendo como pano de fundo este universo de dicotomias com relevo para a oposição entre epistéme e dóxa que se podem encontrar as determinantes da denegação - oposição do senso comum por parte do conhecimento científico. Esta oposição começou a ser questionada pela Pós -Modernidade, ao contribuir para que o pensamento se vá desconstruindo e emancipando desse passado. Desta contestação sai a denúncia da ignorância, da arrogância e da inexactidão subjacentes a uma literacia científica baseada em posturas teórico-práticas que são afinal preconceituosas ao desdenhar a análise rigorosa preferindo desconhecer, subalternizar e desprezar o conhecimento e o saber fazer popular, autóctone ou indígena. Posturas teórico-práticas que entretanto começaram a abrir brechas, devido a certa adesão às Etnociências, por parte da comunidade científica. A novidade relativa das etnociências a par com a sua natureza interdisciplinar que apela em geral a uma grande variedade de áreas do saber, engendra problemáticas relacionadas com o campo legítimo de estudo. Com efeito, as etnociências vêm juntar de novo o que antes foi separado alterando o status quo. Áreas disciplinares, que foi necessário individualizar no passado confluem numa nova disciplina (o que não se faz sem convulsões), cuja diferente perspectiva obriga a toda uma recontextualização, determinando transformações de natureza, conteúdos e formas. Daqui deriva também a necessidade de ajustar metodologias e procurar novos procedimentos. Da emergência a contextos actuais colocam-se temáticas aliadas ao enquadramento científico de saberes fazeres tanto passados como actuais que têm subjacentes diferentes universos cognitivos, diferentes formas de viver e interpretar o mundo bem como longos percursos históricos por vários ambientes, várias naturezas, vários continentes. O diálogo entre as novas etnociências e as áreas disciplinares que nela confluem continuará certamente intenso, permanente e mutuamente enriquecedor até que seja (se for) cortado o cordão umbilical. Da existência de diálogo e desafio no seio destas relações complexas resulta um ambiente propício ao aparecimento de algumas novidades como seja, por exemplo, o Jardin des Premières-Nations por certo o primeiro grande Jardim Etnobotânico, tornado realidade em 2001, no seio do Jardin Botanique de Montreal, considerado o terceiro maior jardim botânico em diversidade de espécies à escala mundial. |
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