Elites Agrárias e Acção Pública. O Alentejo entre 1800 e 1930

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Baiôa, Manuel
Data de Publicação: 2001
Outros Autores: Fernandes, Paulo Silva
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10174/11686
Resumo: O estudo da elite agrária alentejana ao longo do século XIX e início do século XX permitiu-nos detectar algumas linhas de continuidade e mudança relativamente à importância da sua intervenção pública. Desde logo, constatou-se uma diminuição gradual do peso desta elite nas vereações camarárias por nós estudadas, embora este processo não fosse linear, tendo-se registado, em momentos pontuais, situações em que ganham grande importância, em oposição a outros em que quase desaparecem da cena política local. No entanto, a perda de importância dos agrários nos órgãos de gestão concelhios terá sido menor nos meios rurais do que nos meios urbanos. Pelo menos assim o indicam alguns estudos existentes, nos quais se torna claro também que nos grandes momentos de rupturas políticas nacionais, as continuidades foram maiores nos pequenos municípios do que nas cidades . Tal facto é compreensível em virtude de um maior conservadorismo e uma maior resistência à mudança nos meios rurais, bem como a persistência do patrocinato tradicional. Por outro lado, deve-se também salientar a ausência, nestes meios, de alternativas aos notáveis que controlavam a vida política local. O triunfo do Liberalismo em 1834, na vila de Montemor-o-Novo, e a instauração da República em 1910, na cidade de Évora, provocaram profundas alterações no tecido social das elites políticas dominantes. As reformas administrativas introduzidas pelo Liberalismo e pela República e a perseguição política que se seguiu a estes momentos de ruptura, levaram à formação de uma nova elite camarária mais diferenciada socialmente. Após 1834 assistiu-se a um alargamento da elite política, embora as classes possidentes agrárias continuassem a predominar. Com a República verificou-se, num primeiro momento, uma ruptura que conduziu ao afastamento dos cargos municipais da elite agrária, quase toda ela ligada aos meios monárquicos. Esta elite manteve-se afastada do Poder até à Ditadura de Pimenta de Castro, altura em que regressa em força, para ser afastada novamente com o fim da Ditadura em Maio de 1915. Com o Sidonismo, a elite agrária voltou a reintegrar as vereações, situação que se manterá até 1930, embora nunca tivesse conseguido atingir a importância que tivera durante a Monarquia. Ao longo do período estudado verificou-se um progressivo alargamento do universo de potenciais vereadores o que, obviamente, obrigou a elite agrária a partilhar o seu espaço de intervenção política com indivíduos ligados a outras actividades económicas e com origens sociais muito diferenciadas. A elite agrária que começou por ter o monopólio da acção pública no início de Oitocentos, viu assim, progressivamente, no decurso do séculos XIX e XX outros grupos sociais conquistarem notoriedade e visibilidade pública, conseguindo aceder a determinadas instituições. Nalguns casos, estes novos grupos sociais aceitaram partilhar o poder com as elites agrárias, noutros, porém, afastaram-nas temporariamente.
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