Factores que influenciam a abundância e condição nutricional das larvas de peixes nos rios Mira e Guadiana

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Esteves, Eduardo
Data de Publicação: 1999
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.1/18182
Resumo: A investigação sobre os mecanismos que regulam o recrutamento tem sido tema de vários estudos desde o início deste século e várias hipóteses têm sido apresentadas para explicar as flutuações no recrutamento. Entre os contributos mais recentes para a compreensão daqueles mecanismos encontra-se a análise da condição nutricional, sendo que o desenvolvimento de técnicas que possibilitem avaliar a taxa de crescimento das larvas e que permitem distinguir a sua condição nutricional tem sido tema central da investigação recente em ictioplanctonologia. De entre as várias metodologias existentes destaca-se a análise de componentes químicos, designadamente os ácidos nucleicos e proteinas, e o cálculo de índices de condição (razões RNA/DNA, PROT/DNA ou PROT/RNA, por exemplo). A aplicação destes índices ecofisiológicos de condição permitirá esclarecer, embora preliminarmente, a importância relativa de alguns factores que determinam a mortalidade larvar e o recrutamento. Assim, neste trabalho pretendeu-se, por um lado, adaptar, aplicar e comparar técnicas para a determinação de ácidos nucleicos e proteínas às larvas de peixe recolhidas nos rios Mira e Guadiana e, por outro, estudar a influência da temperatura, da salinidade e da abundância de potenciais presas e predadores sobre a distribuição espacial e nictemeral das larvas de peixe (Clupeidae, Engraulidae, Gobiidae, Blennidae e Atherinidae) e a sua condição nutricional. Entre Março e Setembro de 1997, recolheram-se amostras de micro-, meso- e ictioplâncton e registou-se a temperatura e salinidade superficiais, em 18 estações estabelecidas nos rios Mira (n=8, ~30 km do rio) e Guadiana (n=10, ~178 km do rio). Complementarmente, foram colhidas amostras durante ciclos de 24 horas de amostragem realizados em Vila Nova de Milfontes e Vila Real de Santo António em Maio, Junho, Julho e Setembro. No laboratório triaram-se as amostras formolizadas e identificaram-se os organismos recolhidos. As larvas de peixe congeladas em azoto líquido foram identificadas e os conteúdos em ácidos nucleicos determinados com duas técnicas fluorimétricas. Compararam-se os resultados obtidos com os dois protocolos e calcularam-se equações para a sua inter-calibração. As proteínas foram determinadas com um método espectrofluorimétrico. Estudaram-se as relações entre a densidade dos ovos e das larvas de peixe (ind. 100 m-3) e a condição nutricional larval (razões RNA/DNA, PROT/DNA, PROT/DNA e Gpi) e os parâmetros abióticos e bióticos considerados através de análise de correlação e regressão múltipla. Os ovos e larvas de peixe foram relativamente pouco comuns. Os estados larvares ocorreram geralmente em densidades inefriores a 100 ind. 100 m-3, excepto nos ciclos de e ocorreram de forma diferente à descrita na literatura. A distribuição espacial e nictemeral dos ictioplanctontes parece reflectir, por um lado, o comportamento reprodutivo dos adultos e, por outro, a influencia de factores hidrológicos. A anchova, os gobiídeos e os blenídeos parecem incluir-se no primeiro grupo, enquanto os clupeídeos integraram o segundo. Entre os parâmetros estudados, a temperatura e a abundância de alguns taxa de predadores potenciais explicaram parte significativa da variabilidade da densidade ictioplanctónica (R2<0,88). A temperatura constitui um factor estruturante de habitats e biologicamente limitante, enquanto a predação determina a mortalidade larvar. Os resultados da comparação de metodologias de quantificação de ácidos nucleicos confirmaram a ideia de que os valores obtidos variam com o protocolo usado. Alguns aspectos das metodologias, designadamente a interferência dos compostos utilizados para purificar os homogeneizados ou a actividade variável da ribonuclease, poderão explicar as diferenças encontradas. Por outro lado, verificou-se que os métodos se aplicam de modo diferente às populações larvares estudadas. No entanto, calcularam-se equações para inter-calibração de resultados entre técnicas. Em função dos aspectos metodológicos discutidos neste estudo, o método de Caldarone & Buckley (1991) apresentou vantagens importantes (simplicidade, rapidez e maior número de larvas analisadas por periodo de tempo) e que aconselham a sua utilização para estudos de rotina da condição nutricional larvar. A generalidade das larvas encontravam-se em boas condições nutricionais, sendo que as percentagens de larvas com RNA/DNA<1,3 ou 1,0 não ultrapassaram 14% (11 - 13% nos blenídeos e <7,1% nas restantes famílias). Os resultados da análise das percentagens de larvas em estado de inanição através de Gpi<0% dia-1 confirmaram genericamente os referidos acima. A condição nutricional larvar correlacionou-se significativamente com a temperatura e com maior número de variáveis indicadores da abudância de potenciais presas relativamente aos predadores potenciais (R2£0,95). A temperatura influencia o metabolismo das larvas e a disponibilidade de alimento condiciona a sobrevivência larvar. Apenas se obtiveram diferenças significativas entre rios nos valores médios da razão RNA/DNA para gobiídeos. O número de larvas analisadas, a aplicabilidade das metodologias e o impacte distinto dos factores abióticos e bióticos estudados poderão explicar aqueles resultados. As maiores percentagens de larvas em estado de inanição (>5,6%) verificaram-se no rio Mira, designadamente em clupeídeos e blenídeos. Pelo contrário, os gobiídeos e aterinídeos encontravam-se em piores condições no rio Guadiana (>2,9%). Tendo em consideração que a disponibilidade de alimento foi relativamente semelhante nos dois rios, a temperatura e abundância de predadores parecem ter sido os factores mais determinantes. A temperatura influencia a distribuição e a condição nutricional larvar, através do seu efeito sobre as taxas de crescimento e mortalidade, enquanto os predadores poderão remover as larvas em piores condições. Em conclusão, a distribuição das larvas de peixe parece condicionada pela temperatura e pela pressão da predação, enquanto a condição nutricional parece depender da temperatura e da disponibilidade de alimento, sendo, no entanto, controlada pela predação, através da sua acção sobre a mortalidade larvar. Os modelos empíricos obtidos para a distribuição da densidade (R2<0,88) e para análise de condição larvar (R2<0,95) parecem confirmar estas hipóteses.
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De entre as várias metodologias existentes destaca-se a análise de componentes químicos, designadamente os ácidos nucleicos e proteinas, e o cálculo de índices de condição (razões RNA/DNA, PROT/DNA ou PROT/RNA, por exemplo). A aplicação destes índices ecofisiológicos de condição permitirá esclarecer, embora preliminarmente, a importância relativa de alguns factores que determinam a mortalidade larvar e o recrutamento. Assim, neste trabalho pretendeu-se, por um lado, adaptar, aplicar e comparar técnicas para a determinação de ácidos nucleicos e proteínas às larvas de peixe recolhidas nos rios Mira e Guadiana e, por outro, estudar a influência da temperatura, da salinidade e da abundância de potenciais presas e predadores sobre a distribuição espacial e nictemeral das larvas de peixe (Clupeidae, Engraulidae, Gobiidae, Blennidae e Atherinidae) e a sua condição nutricional. Entre Março e Setembro de 1997, recolheram-se amostras de micro-, meso- e ictioplâncton e registou-se a temperatura e salinidade superficiais, em 18 estações estabelecidas nos rios Mira (n=8, ~30 km do rio) e Guadiana (n=10, ~178 km do rio). Complementarmente, foram colhidas amostras durante ciclos de 24 horas de amostragem realizados em Vila Nova de Milfontes e Vila Real de Santo António em Maio, Junho, Julho e Setembro. No laboratório triaram-se as amostras formolizadas e identificaram-se os organismos recolhidos. As larvas de peixe congeladas em azoto líquido foram identificadas e os conteúdos em ácidos nucleicos determinados com duas técnicas fluorimétricas. Compararam-se os resultados obtidos com os dois protocolos e calcularam-se equações para a sua inter-calibração. As proteínas foram determinadas com um método espectrofluorimétrico. Estudaram-se as relações entre a densidade dos ovos e das larvas de peixe (ind. 100 m-3) e a condição nutricional larval (razões RNA/DNA, PROT/DNA, PROT/DNA e Gpi) e os parâmetros abióticos e bióticos considerados através de análise de correlação e regressão múltipla. Os ovos e larvas de peixe foram relativamente pouco comuns. Os estados larvares ocorreram geralmente em densidades inefriores a 100 ind. 100 m-3, excepto nos ciclos de e ocorreram de forma diferente à descrita na literatura. A distribuição espacial e nictemeral dos ictioplanctontes parece reflectir, por um lado, o comportamento reprodutivo dos adultos e, por outro, a influencia de factores hidrológicos. A anchova, os gobiídeos e os blenídeos parecem incluir-se no primeiro grupo, enquanto os clupeídeos integraram o segundo. Entre os parâmetros estudados, a temperatura e a abundância de alguns taxa de predadores potenciais explicaram parte significativa da variabilidade da densidade ictioplanctónica (R2<0,88). A temperatura constitui um factor estruturante de habitats e biologicamente limitante, enquanto a predação determina a mortalidade larvar. Os resultados da comparação de metodologias de quantificação de ácidos nucleicos confirmaram a ideia de que os valores obtidos variam com o protocolo usado. Alguns aspectos das metodologias, designadamente a interferência dos compostos utilizados para purificar os homogeneizados ou a actividade variável da ribonuclease, poderão explicar as diferenças encontradas. Por outro lado, verificou-se que os métodos se aplicam de modo diferente às populações larvares estudadas. No entanto, calcularam-se equações para inter-calibração de resultados entre técnicas. Em função dos aspectos metodológicos discutidos neste estudo, o método de Caldarone & Buckley (1991) apresentou vantagens importantes (simplicidade, rapidez e maior número de larvas analisadas por periodo de tempo) e que aconselham a sua utilização para estudos de rotina da condição nutricional larvar. A generalidade das larvas encontravam-se em boas condições nutricionais, sendo que as percentagens de larvas com RNA/DNA<1,3 ou 1,0 não ultrapassaram 14% (11 - 13% nos blenídeos e <7,1% nas restantes famílias). Os resultados da análise das percentagens de larvas em estado de inanição através de Gpi<0% dia-1 confirmaram genericamente os referidos acima. A condição nutricional larvar correlacionou-se significativamente com a temperatura e com maior número de variáveis indicadores da abudância de potenciais presas relativamente aos predadores potenciais (R2£0,95). A temperatura influencia o metabolismo das larvas e a disponibilidade de alimento condiciona a sobrevivência larvar. Apenas se obtiveram diferenças significativas entre rios nos valores médios da razão RNA/DNA para gobiídeos. O número de larvas analisadas, a aplicabilidade das metodologias e o impacte distinto dos factores abióticos e bióticos estudados poderão explicar aqueles resultados. As maiores percentagens de larvas em estado de inanição (>5,6%) verificaram-se no rio Mira, designadamente em clupeídeos e blenídeos. Pelo contrário, os gobiídeos e aterinídeos encontravam-se em piores condições no rio Guadiana (>2,9%). Tendo em consideração que a disponibilidade de alimento foi relativamente semelhante nos dois rios, a temperatura e abundância de predadores parecem ter sido os factores mais determinantes. A temperatura influencia a distribuição e a condição nutricional larvar, através do seu efeito sobre as taxas de crescimento e mortalidade, enquanto os predadores poderão remover as larvas em piores condições. Em conclusão, a distribuição das larvas de peixe parece condicionada pela temperatura e pela pressão da predação, enquanto a condição nutricional parece depender da temperatura e da disponibilidade de alimento, sendo, no entanto, controlada pela predação, através da sua acção sobre a mortalidade larvar. Os modelos empíricos obtidos para a distribuição da densidade (R2<0,88) e para análise de condição larvar (R2<0,95) parecem confirmar estas hipóteses.Projeto PRAXIS XXI (refª CA/3/3.2/1981/95); Programa INTERREG II (refª 15/REGII/2/96)Andrade, José PedroSapientiaEsteves, Eduardo2022-08-26T14:13:32Z1999-111999-11-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.1/18182porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-06T02:03:18Zoai:sapientia.ualg.pt:10400.1/18182Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T20:07:57.470541Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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Assim, neste trabalho pretendeu-se, por um lado, adaptar, aplicar e comparar técnicas para a determinação de ácidos nucleicos e proteínas às larvas de peixe recolhidas nos rios Mira e Guadiana e, por outro, estudar a influência da temperatura, da salinidade e da abundância de potenciais presas e predadores sobre a distribuição espacial e nictemeral das larvas de peixe (Clupeidae, Engraulidae, Gobiidae, Blennidae e Atherinidae) e a sua condição nutricional. Entre Março e Setembro de 1997, recolheram-se amostras de micro-, meso- e ictioplâncton e registou-se a temperatura e salinidade superficiais, em 18 estações estabelecidas nos rios Mira (n=8, ~30 km do rio) e Guadiana (n=10, ~178 km do rio). Complementarmente, foram colhidas amostras durante ciclos de 24 horas de amostragem realizados em Vila Nova de Milfontes e Vila Real de Santo António em Maio, Junho, Julho e Setembro. No laboratório triaram-se as amostras formolizadas e identificaram-se os organismos recolhidos. 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A distribuição espacial e nictemeral dos ictioplanctontes parece reflectir, por um lado, o comportamento reprodutivo dos adultos e, por outro, a influencia de factores hidrológicos. A anchova, os gobiídeos e os blenídeos parecem incluir-se no primeiro grupo, enquanto os clupeídeos integraram o segundo. Entre os parâmetros estudados, a temperatura e a abundância de alguns taxa de predadores potenciais explicaram parte significativa da variabilidade da densidade ictioplanctónica (R2<0,88). A temperatura constitui um factor estruturante de habitats e biologicamente limitante, enquanto a predação determina a mortalidade larvar. Os resultados da comparação de metodologias de quantificação de ácidos nucleicos confirmaram a ideia de que os valores obtidos variam com o protocolo usado. Alguns aspectos das metodologias, designadamente a interferência dos compostos utilizados para purificar os homogeneizados ou a actividade variável da ribonuclease, poderão explicar as diferenças encontradas. Por outro lado, verificou-se que os métodos se aplicam de modo diferente às populações larvares estudadas. No entanto, calcularam-se equações para inter-calibração de resultados entre técnicas. Em função dos aspectos metodológicos discutidos neste estudo, o método de Caldarone & Buckley (1991) apresentou vantagens importantes (simplicidade, rapidez e maior número de larvas analisadas por periodo de tempo) e que aconselham a sua utilização para estudos de rotina da condição nutricional larvar. A generalidade das larvas encontravam-se em boas condições nutricionais, sendo que as percentagens de larvas com RNA/DNA<1,3 ou 1,0 não ultrapassaram 14% (11 - 13% nos blenídeos e <7,1% nas restantes famílias). Os resultados da análise das percentagens de larvas em estado de inanição através de Gpi<0% dia-1 confirmaram genericamente os referidos acima. A condição nutricional larvar correlacionou-se significativamente com a temperatura e com maior número de variáveis indicadores da abudância de potenciais presas relativamente aos predadores potenciais (R2£0,95). A temperatura influencia o metabolismo das larvas e a disponibilidade de alimento condiciona a sobrevivência larvar. Apenas se obtiveram diferenças significativas entre rios nos valores médios da razão RNA/DNA para gobiídeos. O número de larvas analisadas, a aplicabilidade das metodologias e o impacte distinto dos factores abióticos e bióticos estudados poderão explicar aqueles resultados. As maiores percentagens de larvas em estado de inanição (>5,6%) verificaram-se no rio Mira, designadamente em clupeídeos e blenídeos. Pelo contrário, os gobiídeos e aterinídeos encontravam-se em piores condições no rio Guadiana (>2,9%). Tendo em consideração que a disponibilidade de alimento foi relativamente semelhante nos dois rios, a temperatura e abundância de predadores parecem ter sido os factores mais determinantes. A temperatura influencia a distribuição e a condição nutricional larvar, através do seu efeito sobre as taxas de crescimento e mortalidade, enquanto os predadores poderão remover as larvas em piores condições. Em conclusão, a distribuição das larvas de peixe parece condicionada pela temperatura e pela pressão da predação, enquanto a condição nutricional parece depender da temperatura e da disponibilidade de alimento, sendo, no entanto, controlada pela predação, através da sua acção sobre a mortalidade larvar. Os modelos empíricos obtidos para a distribuição da densidade (R2<0,88) e para análise de condição larvar (R2<0,95) parecem confirmar estas hipóteses.
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