A repetição e a música
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2019 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10362/69923 |
Resumo: | Esta dissertação apresenta uma reflexão sobre o que da música pode ser concebido como repetição, a um nível ontológico, formal e ainda de comportamentos. A reflexão é estruturada em dois momentos principais. Num primeiro momento, parte-se da comparação de várias ontologias musicais de particular relevo histórico, nas quais a música foi concebida como um eco do universo, da natureza, da Vontade, como um reflexo de sentimentos humanos ou ainda como uma repetição de si própria — concepções aqui tomadas como sendo variantes da ideia de que a música consiste nalgum tipo de repetição —, para procurar identificar um conjunto de problemas específicos a cada uma dessas concepções. A superação dos mesmos problemas é tentada com recurso ao pensamento de Gilles Deleuze, o qual conduz a uma concepção da música como uma repetição original, uma singularidade sem modelo precedente, que não é, porém, gerada num vazio, mas a partir de um ser humano específico e num determinado contexto e localização, tanto históricos como circunstanciais. Num segundo momento, procura-se mostrar o modo como a presença da repetição literal de motivos, ritmos ou partes de uma peça musical não significa uma multiplicação estéril de conjuntos iguais de tons e ritmos porque a repetição musical, bem como qualquer outra repetição, não é uma repetição do Mesmo. Em particular, explora-se a ideia de que cada repetição musical, que comporta inevitavelmente diferenças, em particular diferenças interpretativas e o seu distanciamento no tempo, implica uma alteração estrutural da peça musical. Por outro lado, tendo em atenção que os ouvintes da música incorporam a repetição na sua experiência das peças musicais, procura-se ainda demonstrar que o que se repete na experiência musical não é o Mesmo, mas a experimentação em si, na medida em que não há condições acústicas, instrumentos musicais e plateias semelhantes e na medida em que nós próprios não existimos como ouvintes imutáveis. Por último, e com base na análise das razões que levam à repetição na música, seja esta convocada pelo compositor que inclui, nas peças que compõe, partes aparentemente iguais, seja ela solicitada ou esperada pelo ouvinte que busca a repetição da experiência musical, conclui-se que o que o compositor procura obter da repetição literal são frequentemente também os efeitos que os ouvintes sentem na audição de uma peça com repetições internas, bem como o que os leva a buscar experiências repetidas de audição. |
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A repetição e a músicaMúsicaMusicDeleuzeDomínio/Área Científica::Humanidades::Filosofia, Ética e ReligiãoEsta dissertação apresenta uma reflexão sobre o que da música pode ser concebido como repetição, a um nível ontológico, formal e ainda de comportamentos. A reflexão é estruturada em dois momentos principais. Num primeiro momento, parte-se da comparação de várias ontologias musicais de particular relevo histórico, nas quais a música foi concebida como um eco do universo, da natureza, da Vontade, como um reflexo de sentimentos humanos ou ainda como uma repetição de si própria — concepções aqui tomadas como sendo variantes da ideia de que a música consiste nalgum tipo de repetição —, para procurar identificar um conjunto de problemas específicos a cada uma dessas concepções. A superação dos mesmos problemas é tentada com recurso ao pensamento de Gilles Deleuze, o qual conduz a uma concepção da música como uma repetição original, uma singularidade sem modelo precedente, que não é, porém, gerada num vazio, mas a partir de um ser humano específico e num determinado contexto e localização, tanto históricos como circunstanciais. Num segundo momento, procura-se mostrar o modo como a presença da repetição literal de motivos, ritmos ou partes de uma peça musical não significa uma multiplicação estéril de conjuntos iguais de tons e ritmos porque a repetição musical, bem como qualquer outra repetição, não é uma repetição do Mesmo. Em particular, explora-se a ideia de que cada repetição musical, que comporta inevitavelmente diferenças, em particular diferenças interpretativas e o seu distanciamento no tempo, implica uma alteração estrutural da peça musical. Por outro lado, tendo em atenção que os ouvintes da música incorporam a repetição na sua experiência das peças musicais, procura-se ainda demonstrar que o que se repete na experiência musical não é o Mesmo, mas a experimentação em si, na medida em que não há condições acústicas, instrumentos musicais e plateias semelhantes e na medida em que nós próprios não existimos como ouvintes imutáveis. Por último, e com base na análise das razões que levam à repetição na música, seja esta convocada pelo compositor que inclui, nas peças que compõe, partes aparentemente iguais, seja ela solicitada ou esperada pelo ouvinte que busca a repetição da experiência musical, conclui-se que o que o compositor procura obter da repetição literal são frequentemente também os efeitos que os ouvintes sentem na audição de uma peça com repetições internas, bem como o que os leva a buscar experiências repetidas de audição.This dissertation offers a discussion of what, in music, can be conceived of as repetition, at the levels of ontology, form and also behaviour. It is structured in two main parts. In the first one, it compares several musical ontologies of high historical relevance, in which music was conceived either as an echo of the universe, nature, Will, as a reflection of human feelings or even as a repetition of itself, — which we take as variations of the idea that music is some sort of repetition —, and it identifies a set of problems raised by each one of these conceptions. An attempt to overcome these problems is undertaken by resorting to Gilles Deleuze's thinking, leading to a conception of music as an original repetition, that is to say, as a singularity with no previous model, which is, however, not created in a vacuum, but humanly generated and within a certain context and location, both historical and circumstantial. The second part tries to show that the presence of literal repetition of motives, rhythms or parts of a piece of music does not correspond to a sterile multiplication of equal sets of tones and rhythms because musical repetition, as any other repetition, is not a repetition of the Same. More precisely, it argues that each musical repetition inevitably contains differences, notably interpretative differences and their distance in time, and that it thus entails a structural change in the piece of music. On the other hand, it takes into consideration the fact that music listeners incorporate repetition into their experience of pieces of music and it claims that what is repeated in musical experience is not the Same, but experimentation itself, given the impossibility of identical acoustic conditions, musical instruments and audiences, as well as of unchanging listeners. Lastly, by drawing on the analysis of the reasons that lead to repetition, both when the composer resorts to repeating apparently similar parts in its pieces of music, and when the listener seeks repetition and expects in its musical experience, it comes to the conclusion that what the composer strives for when resorting to literal repetition often is what listeners feel as an effect in listening to music pieces with internal repetition, as well as what drives them to pursue repeated listening experiences.Branco, Maria João MayerRUNMateus, Ana Rita Ribeiro2019-05-17T11:22:57Z2019-04-082019-04-08T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10362/69923TID:202228088porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-11T04:33:10Zoai:run.unl.pt:10362/69923Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T03:35:02.483454Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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