Refugiados e retóricas nacionalistas

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Rocha, Bruno Filipe Castro
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10284/10139
Resumo: A vaga de migração humanitária para o continente europeu tem sido vista como um dos maiores desafios políticos para a União Europeia e os respetivos Estados-membros. O período de crise humanitária, correspondente ao grande exercício migratório da última década, ficou conhecido como uma crise de refugiados. O termo utilizado para descrever a emergência humanitária serve de preâmbulo para retratar a perceção europeia em relação ao significado desta emergência. Não só passou a ser debatido qual o grau de responsabilidade europeia, como imediatamente surgiu uma dualidade de retóricas, na qual se passou a defender, por um lado, tratar-se de uma vaga de migração económica, e de forma oposta, tratar-se de uma emergência humanitária. A opinião das sociedades europeias só converge na catalogação do problema como complexo. Através da utilização de uma retórica antagónica à crise, partidos e figuras políticas de extrema-direita emergiram como vozes defensoras de valores europeus e, consequentemente, nacionais, que consideram estar em risco por requerentes de asilo. A procura de preservar uma herança de valores europeus históricos provocou uma chamada de atenção para perceber qual é, de facto, a herança de valores históricos que precisa de ser preservada. A resposta obriga a um recuo na história europeia, nomeadamente a do século XX. Vítimas e agressores concentraram-se na Europa numa época que ficou marcada por regimes autoritários, que causaram, eles próprios, uma vaga de refugiados. O grande regime de tirania sobre grupos desassociados dos valores culturais do grupo dominante encontra-se no nazismo. A segregação institucional e o extermínio derivam de uma cultura de antissemitismo. Esta memória coletiva é atualmente colocada em causa, não apenas pela indiferença que voltou a surgir após a migração humanitária da última década, mas também pela permissividade concebida a partidos de extrema-direita. Não se passou apenas a assistir ao crescimento destes partidos. A corrente política mainstream passou a incorporar uma retórica que se alinha com ideias da extrema-direita. A narrativa nativista reemergiu, numa altura em que a herança coletiva europeia deveria sugerir o contrário. O debate sobre a necessidade ou não de redução dos elevados números de migração involuntária a que se assistiu em 2015 expôs o crescimento da islamofobia. Para além dos discursos e das práticas relativas refugiados e migração, uma crise humanitária prevalece.
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A opinião das sociedades europeias só converge na catalogação do problema como complexo. Através da utilização de uma retórica antagónica à crise, partidos e figuras políticas de extrema-direita emergiram como vozes defensoras de valores europeus e, consequentemente, nacionais, que consideram estar em risco por requerentes de asilo. A procura de preservar uma herança de valores europeus históricos provocou uma chamada de atenção para perceber qual é, de facto, a herança de valores históricos que precisa de ser preservada. A resposta obriga a um recuo na história europeia, nomeadamente a do século XX. Vítimas e agressores concentraram-se na Europa numa época que ficou marcada por regimes autoritários, que causaram, eles próprios, uma vaga de refugiados. O grande regime de tirania sobre grupos desassociados dos valores culturais do grupo dominante encontra-se no nazismo. A segregação institucional e o extermínio derivam de uma cultura de antissemitismo. Esta memória coletiva é atualmente colocada em causa, não apenas pela indiferença que voltou a surgir após a migração humanitária da última década, mas também pela permissividade concebida a partidos de extrema-direita. Não se passou apenas a assistir ao crescimento destes partidos. A corrente política mainstream passou a incorporar uma retórica que se alinha com ideias da extrema-direita. A narrativa nativista reemergiu, numa altura em que a herança coletiva europeia deveria sugerir o contrário. O debate sobre a necessidade ou não de redução dos elevados números de migração involuntária a que se assistiu em 2015 expôs o crescimento da islamofobia. Para além dos discursos e das práticas relativas refugiados e migração, uma crise humanitária prevalece.The wave of humanitarian migration to the European continent has been seen as one of the major political challenges of the European Union and respective Member-States. The humanitarian crisis period, corresponding to a massive migration exercise of the last decade, was labelled as a refugee crisis. The expression used to describe the humanitarian emergence suits itself as preamble to portray the European perception regarding the meaning of this emergence. Not only started been debated the level of European responsibility, but also a duality of rhetoric emerged, in which stand, on one side, the argument of an economic migration wave, and on the opposite side, the one of an humanitarian emergence. European society’s opinion only convergences to catalogue the problem as a complex one. Through the use of antagonist rhetoric regarding the crisis, far-right political parties and people emerge as the caretakers of European and national values that are at risk of jeopardy because of asylum-seekers. The quest to preserve the heritage of historic European values calls for a necessity to understand: which is indeed the heritage of historic values that need to be preserved? To answer such question, a return to European history is required, namely the twentieth century. Victims and aggressors concentrates Europe in a period that was marked by for authoritarian regimes, that themselves cause, a wave of refugees. The grand regime of tyranny over culturally dissociated groups from the dominant group can be seen on the Nazi regime. Institutional segregation and eradication springs from a cultural-based anti-Semitism. The collective memory is currently placed at jeopardy, not only for the insignificance that emerged after last decade’s humanitarian crisis, but because of the permissiveness concede to far-right parties. Not only has been seen the rise of this parties, but also the mainstream political parties started incorporating in their speech ideas aligned with far-right views. The nativist narrative emerged in a time that European collective heritage should suggest otherwise. The debate on whether, or not, the reduction of massive involuntary migration numbers, seen during 2015, is needed, an increased on Islamophobic views happened. Beyond debates and practices on the refugee and migration, a humanitarian crisis prevails.Toldy, Teresa MartinhoRepositório Institucional da Universidade Fernando PessoaRocha, Bruno Filipe Castro2021-08-02T14:45:03Z2021-07-212021-07-21T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10284/10139TID:202978281porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-02-27T02:03:43Zoai:bdigital.ufp.pt:10284/10139Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T15:46:54.414246Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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