O perigo das palavras: Uma lição de Wittgenstein para psicólogos e educadores

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Lourenço, Orlando
Data de Publicação: 1999
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.12/5869
Resumo: Psicólogos e educadores esquecem com frequência a mensagem profunda contida na ideia de Wittgenstein de que «devemos passar em silêncio sobre aquilo de que não sabemos falar». Nesta apresentação, eu mostro que os psicólogos (e os educadores) tendem a cair (a) na falácia dos alquimistas (i.e., a usar termos obscuros pensando que assim obtêm um insight mais profundo); (b) na falácia do médico de Molière (i.e., a recorrer a raciocínio tautológico e circular; (c) na falácia do «hipopótamo que falta» (i.e., a acrescentar aditamentos a uma proposição inicial que não pode ser verificada nem refutada); (d) na falácia de Van Helmont (i.e., a não levar em conta factores desconhecidos cuja influência é marcante); e (d) na falácia dos sentidos Pickwickianos (i.e., a assumir que os seus alunos ou sujeitos de pesquisa atribuem a vários termos o mesmo sentido que eles lhes atribuem). Em consequência destas falácias, o campo da Psicologia (e das Ciências da Educação) está poluído com muitas publicações e distorções indesejáveis, confusões conceptuais inaceitáveis, e uma mistura de jogos de linguagem que deixa sem fundamento muitos dos seus conceitos. Para remediar este estado de coisas, psicólogos (e educadores) precisam de aprender a lição que há um tempo e um lugar para as palavras, mas também um tempo e um lugar para o silêncio. Além de apelar para um exercício de rigor no trabalho científico (e pedagógico), a mensagem de Wittgenstein contém uma dimensão ética que interessa explorar e pôr em prática.
id RCAP_526ae547522893b658fd5b38959cf47a
oai_identifier_str oai:repositorio.ispa.pt:10400.12/5869
network_acronym_str RCAP
network_name_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository_id_str 7160
spelling O perigo das palavras: Uma lição de Wittgenstein para psicólogos e educadoresFaláciasPsicologiaEducaçãoFallaciesPsychologyEducationPsicólogos e educadores esquecem com frequência a mensagem profunda contida na ideia de Wittgenstein de que «devemos passar em silêncio sobre aquilo de que não sabemos falar». Nesta apresentação, eu mostro que os psicólogos (e os educadores) tendem a cair (a) na falácia dos alquimistas (i.e., a usar termos obscuros pensando que assim obtêm um insight mais profundo); (b) na falácia do médico de Molière (i.e., a recorrer a raciocínio tautológico e circular; (c) na falácia do «hipopótamo que falta» (i.e., a acrescentar aditamentos a uma proposição inicial que não pode ser verificada nem refutada); (d) na falácia de Van Helmont (i.e., a não levar em conta factores desconhecidos cuja influência é marcante); e (d) na falácia dos sentidos Pickwickianos (i.e., a assumir que os seus alunos ou sujeitos de pesquisa atribuem a vários termos o mesmo sentido que eles lhes atribuem). Em consequência destas falácias, o campo da Psicologia (e das Ciências da Educação) está poluído com muitas publicações e distorções indesejáveis, confusões conceptuais inaceitáveis, e uma mistura de jogos de linguagem que deixa sem fundamento muitos dos seus conceitos. Para remediar este estado de coisas, psicólogos (e educadores) precisam de aprender a lição que há um tempo e um lugar para as palavras, mas também um tempo e um lugar para o silêncio. Além de apelar para um exercício de rigor no trabalho científico (e pedagógico), a mensagem de Wittgenstein contém uma dimensão ética que interessa explorar e pôr em prática.Psychologists (and educationists) often forget Wittgenstein’s deep message that «what we cannot speak about we must pass over in silence». In this talk, I argue that psychologists (and educationists) tend to fall prey to (a) the «fallacy of the alchemists», viz., to use obscure terms and thereby think that one has obtained a deeper insight; (b) the «fallacy of Molière’s physician», viz., to resort to circular or tautological reasoning; (c) the «fallacy of the missing hyppopotamus », viz., to add provisos to an initial proposition that can neither be verified nor refuted; (d) «Van Helmont’s fallacy», viz., not to take into account the influence of important variables on the occurrence of certain results; and (d) «the fallacy of Pickwickian senses», viz., to assume that their students or experimental subjects share the meaning they attribute to several words. As a consequence of these fallacies, too many dispensable publications and distortions, conceptual confusions, and ungrounded concepts polute both Psychology and Educational Sciences. To remedy such state of affairs, psychologists and educationists need to learn that there is a time and a place for words, but also a time and a place for silence. Besides appealing to an exercice of radical rigor in our scientific and educational work, Wittgenstein’s message contains also an ethical dimension that deserves to be explored and put into practice.Instituto Superior de Psicologia AplicadaRepositório do ISPALourenço, Orlando2017-10-21T15:28:29Z1999-01-01T00:00:00Z1999-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.12/5869porAnálise Psicológica, 2(17), 253-263.0870-8231info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2022-09-05T16:41:35Zoai:repositorio.ispa.pt:10400.12/5869Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T15:23:42.556629Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
dc.title.none.fl_str_mv O perigo das palavras: Uma lição de Wittgenstein para psicólogos e educadores
title O perigo das palavras: Uma lição de Wittgenstein para psicólogos e educadores
spellingShingle O perigo das palavras: Uma lição de Wittgenstein para psicólogos e educadores
Lourenço, Orlando
Falácias
Psicologia
Educação
Fallacies
Psychology
Education
title_short O perigo das palavras: Uma lição de Wittgenstein para psicólogos e educadores
title_full O perigo das palavras: Uma lição de Wittgenstein para psicólogos e educadores
title_fullStr O perigo das palavras: Uma lição de Wittgenstein para psicólogos e educadores
title_full_unstemmed O perigo das palavras: Uma lição de Wittgenstein para psicólogos e educadores
title_sort O perigo das palavras: Uma lição de Wittgenstein para psicólogos e educadores
author Lourenço, Orlando
author_facet Lourenço, Orlando
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Repositório do ISPA
dc.contributor.author.fl_str_mv Lourenço, Orlando
dc.subject.por.fl_str_mv Falácias
Psicologia
Educação
Fallacies
Psychology
Education
topic Falácias
Psicologia
Educação
Fallacies
Psychology
Education
description Psicólogos e educadores esquecem com frequência a mensagem profunda contida na ideia de Wittgenstein de que «devemos passar em silêncio sobre aquilo de que não sabemos falar». Nesta apresentação, eu mostro que os psicólogos (e os educadores) tendem a cair (a) na falácia dos alquimistas (i.e., a usar termos obscuros pensando que assim obtêm um insight mais profundo); (b) na falácia do médico de Molière (i.e., a recorrer a raciocínio tautológico e circular; (c) na falácia do «hipopótamo que falta» (i.e., a acrescentar aditamentos a uma proposição inicial que não pode ser verificada nem refutada); (d) na falácia de Van Helmont (i.e., a não levar em conta factores desconhecidos cuja influência é marcante); e (d) na falácia dos sentidos Pickwickianos (i.e., a assumir que os seus alunos ou sujeitos de pesquisa atribuem a vários termos o mesmo sentido que eles lhes atribuem). Em consequência destas falácias, o campo da Psicologia (e das Ciências da Educação) está poluído com muitas publicações e distorções indesejáveis, confusões conceptuais inaceitáveis, e uma mistura de jogos de linguagem que deixa sem fundamento muitos dos seus conceitos. Para remediar este estado de coisas, psicólogos (e educadores) precisam de aprender a lição que há um tempo e um lugar para as palavras, mas também um tempo e um lugar para o silêncio. Além de apelar para um exercício de rigor no trabalho científico (e pedagógico), a mensagem de Wittgenstein contém uma dimensão ética que interessa explorar e pôr em prática.
publishDate 1999
dc.date.none.fl_str_mv 1999-01-01T00:00:00Z
1999-01-01T00:00:00Z
2017-10-21T15:28:29Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10400.12/5869
url http://hdl.handle.net/10400.12/5869
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv Análise Psicológica, 2(17), 253-263.
0870-8231
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Instituto Superior de Psicologia Aplicada
publisher.none.fl_str_mv Instituto Superior de Psicologia Aplicada
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron:RCAAP
instname_str Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron_str RCAAP
institution RCAAP
reponame_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
collection Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository.name.fl_str_mv Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1799130097943314432