O sagrado no museu: musealizacão de objectos do culto católico em contexto português

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Roque, Maria Isabel
Data de Publicação: 2011
Tipo de documento: Livro
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10174/12534
Resumo: Este trabalho analisa a forma como o museu refere o sagrado: como exprime o pensamento imaterial e os sentimentos religiosos e como são referenciados os objectos litúrgicos e devocionais numa apresentação museológica. Para isso, circunscrevemos a abordagem à realidade que nos é mais próxima, focalizando a musealização de objectos do culto católico em contexto português. A metodologia de investigação pressupõe a pesquisa histórica e o estudo de caso, baseados nos métodos de análise da história e da sociologia da arte, numa abordagem interdisciplinar que analise o tema sob os vários aspectos da arte, história, museologia e estudos religiosos. Na museologia da arte religiosa, distingue-se a seguinte tipologia: museus e tesouros de iniciativa e tutela eclesiástica; museus de arte com colecções de objectos religiosos; museus de religião sem tutela eclesiástica. Em Portugal, o processo evolutivo das instituições museológicas com objectos religiosos teve início após a amortização dos conventos e respectivos espólios, em 1834: primeiro, os museus nacionais, em que destacamos o Museu de Belas Artes (actualmente Museu Nacional de Arte Antiga), que se organizou e desenvolveu entre os finais do século XIX e inícios do século XX; quase em simultâneo, a musealização dos tesouros eclesiásticos, como os de Coimbra ou Viseu, restaurados com equipamentos museográficos e sistemas de conservação e segurança; a criação de museus regionais, como em Aveiro ou Évora, permitindo uma maior aproximação dos espólios aos seus locais de origem, após as leis republicanas de 1911; um longo e irrelevante período marcado por algumas exposições temporárias de arte sacra; e, na última década do século XX, um período de renovação museológica no âmbito da arte religiosa, protagonizado pela hierarquia eclesiástica que promoveu várias exposições com objectivos pastorais, como tem sido recomendado pelo Vaticano. A diferença que a prevalência do valor artístico ou religioso implica no programa museográfico regista-se, antes de mais, na organização dos acervos: no museu de arte, as alfaias litúrgicas integram-se nas secções de ourivesaria e joalharia, enquanto os paramentos se incluem na secção dos têxteis; no museu de religião, este espólio tende a organizar-se de acordo com a funcionalidade litúrgica. A investigação no museu começa, agora, a considerar tanto O museu actual preocupa-se com a exposição dos dados imateriais e a recontextualização do objecto em relação à anterior função sagrada, começando a considerar tanto o contexto, a função e o significado quanto os seus aspectos materiais, formais e históricos. A arquitectura e o equipamento museográfico constituem a primeira estratégia para anunciar o significado do objecto, mas é a documentação textual que o apresenta ao visitante da exposição. O objecto prevalece, pelo que o espaço envolvente se apresenta neutro e a informação é sintética e subtil na proximidade da exposição, tornando-se mais profusa à medida que se afasta do percurso, acompanhando o visitante para lá do museu. Neste aspecto, as novas tecnologias permitem ligar o espólio aos mais diversos campos do conhecimento: o museu pode providenciar-lhe toda a gama de significados e estabelecer no espaço virtual conexões com o lugar de origem e com objectos similares ou afins. O estudo do objecto religioso encontra aqui uma vantagem crescente, ao permitir a sua apropriação sem risco de o profanar.
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