A utensilagem óssea de uso comum do povoado pré-histórico de Leceia (Oeiras)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Cardoso, João Luís
Data de Publicação: 2003
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.2/6073
Resumo: A indústria óssea recolhida no povoado de Leceia, agora objecto de um primeiro estudo de síntese, corresponde ao maior conjunto pré-histórico estratigrafado até ao presente estudado em Portugal. Reflecte as actividades domésticas desenvolvidas ao longo de cerca de mil anos naquele povoado: assim, os formões podem associar-se à preparação das peles e de madeiras, incluindo a execução de recipientes que, naturalmente, não se conservaram; as espátulas, e os alisadores/brunidores, relacionar-se-ão com o fabrico de uma diversificada panóplia doméstica de barro, bem denunciada pela existência de abundantes restos cerâmicos e justificada pela disponibilidade de matéria-prima na imediata envolvência do povoado (as margas do Cenomaniano Superior que ali afloram); a grande diversidade de furadores denuncia, por seu turno, a produção de vestuário ou de peles utilizadas nos espaços habitados (coberturas, tabiques, enxergas), obtidas dos muitos animais, caçados ou domésticos, cujos restos, encontrados em grande número, foram já objecto de estudo específico (CARDOSO & DETRY, 2001/2002); a importância da produção de vestuário encontra-se, aliás, particularmente sublinhada pela abundância de agulhas/sovelas, que corresponde ao grupo artefactual mais numeroso, tanto no Neolítico Final, como no decurso do Calcolítico, verificando-se, mesmo, um significativo acréscimo percentual do Calcolítico Inicial para o Calcolítico Pleno. Como se referiu, tal acréscimo pode relacionar-se com a intensificação e a diversificação produtivas verificadas ao longo do III milénio a.C. na Estremadura, já que, para além do recurso às fibras e às peles dos animais, a produção de fibras vegetais, como o linho, conhecido no povoado coevo de Vila Nova de São Pedro, Azambuja (PAÇO & ARTHUR, 1953) deverá ter então experimentado significativo aumento. Tal realidade é sugerida pelo aumento em Leceia das placas de barro utilizadas na tecelagem, no Calcolítico Pleno, face às identificadas no Calcolítico Inicial. Enfim, outros artefactos, como os recipientes de osso, reflectem a existência de produtos farmacêuticos ou outros, assim conservados; aliás, a eventual prática da cirurgia parece encontrar-se sugerida pela presença, tanto no Calcolítico Inicial, como no Calcolítico Pleno, de aceradas pontas executadas em ossos de ave, utilizadas como lancetas.
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