O papel do órgão no contexto da prática polifónica nas capelas catedralícias em Portugal no tempo do Cardeal D. Henrique – a figura de António Carreira (c.1530-c.1594)
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2012 |
Tipo de documento: | Artigo de conferência |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10174/7613 |
Resumo: | Durante o reinado de D. João III as catedrais portuguesas lançaram as bases organizativas e financeiras para a formação de corpos de cantores especializados na prática de polifonia sacra. A elevação à cátedra episcopal do Cardeal-Infante D. Henrique concorreu decisivamente para esse facto, tendo-se observado a partir de então a instituição gradual de capelas catedralícias em Portugal. Sob o impulso do seu irmão, o Cardeal-Infante D. Afonso, a Sé de Évora foi testemunho da instituição de uma colegiada de moços de coro educados a expensas do cabido, para cumprir as obrigações musico-litúrgicas. Foi já no reinado de D. Sebastião, na sequência da adopção dos ditames tridentinos, os quais acentuaram radicalmente a romanização litúrgica e o controle social sobre as ideias e os costumes, que a música sacra foi, também ela, objecto de uma extensa revisão. No que releva das suas resultantes práticas importa mencionar a proibição de canto e execução instrumental por parte de religiosos em mosteiros de freiras, a imposição da censura prévia a textos de novos motetes e a proibição do uso de instrumentos, à excepção dos de tecla. É assim que o órgão adquire um relevo que até então não tinha, decorrente do papel assumido no acompanhamento de algumas rubricas. Nesse contexto inscreve-se o nome de António Carreira, a figura mais marcante no âmbito do repertório organístico português de quinhentos. A sua produção de tecla, que se encontra no manuscrito musical 242 da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (P-Cug MM 242), é constituída por um conjunto de tentos e fantasias, cujas funções se integrariam, com toda a probabilidade, no seio do cerimonial litúrgico. A importância do compositor é ainda atestada pelo facto de ter sido Mestre da Capela Real a partir do reinado de D. Sebastião, cargo que manteve durante o governo do Cardeal D. Henrique. No que respeita à produção organística, António Carreira enriqueceu a música de tecla ibérica com um modelo monotemático de tento, desenvolvido a partir das condições naturais inerentes aos instrumentos de tecla. Nesse sentido, preparou o terreno para os futuros tentos monotemáticos de Manuel Rodrigues Coelho e Francisco Correa de Arauxo. O conhecimento profundo das formas instrumentais europeias do seu tempo tornou-o também num dos grandes responsáveis pela estruturação formal do tento a partir de elementos do ricercare, figurando por isso, com toda a legitimidade, ao lado de personalidades da craveira de Andrea Gabrieli, Jacques Buus ou Rocco Rodio. A presente comunicação pretende inscrever a produção de tecla de António Carreira no contexto da dinamização do cerimonial litúrgico, resultante da implementação das orientações tridentinas que marcaram de forma indelével o governo do Cardeal D. Henrique. |
id |
RCAP_6546113afafb4a228be50e5ca7a7a5f4 |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:dspace.uevora.pt:10174/7613 |
network_acronym_str |
RCAP |
network_name_str |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
repository_id_str |
7160 |
spelling |
O papel do órgão no contexto da prática polifónica nas capelas catedralícias em Portugal no tempo do Cardeal D. Henrique – a figura de António Carreira (c.1530-c.1594)António CarreiraTentoCardeal D. HenriqueSé de ÉvoraÓrgãoDurante o reinado de D. João III as catedrais portuguesas lançaram as bases organizativas e financeiras para a formação de corpos de cantores especializados na prática de polifonia sacra. A elevação à cátedra episcopal do Cardeal-Infante D. Henrique concorreu decisivamente para esse facto, tendo-se observado a partir de então a instituição gradual de capelas catedralícias em Portugal. Sob o impulso do seu irmão, o Cardeal-Infante D. Afonso, a Sé de Évora foi testemunho da instituição de uma colegiada de moços de coro educados a expensas do cabido, para cumprir as obrigações musico-litúrgicas. Foi já no reinado de D. Sebastião, na sequência da adopção dos ditames tridentinos, os quais acentuaram radicalmente a romanização litúrgica e o controle social sobre as ideias e os costumes, que a música sacra foi, também ela, objecto de uma extensa revisão. No que releva das suas resultantes práticas importa mencionar a proibição de canto e execução instrumental por parte de religiosos em mosteiros de freiras, a imposição da censura prévia a textos de novos motetes e a proibição do uso de instrumentos, à excepção dos de tecla. É assim que o órgão adquire um relevo que até então não tinha, decorrente do papel assumido no acompanhamento de algumas rubricas. Nesse contexto inscreve-se o nome de António Carreira, a figura mais marcante no âmbito do repertório organístico português de quinhentos. A sua produção de tecla, que se encontra no manuscrito musical 242 da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (P-Cug MM 242), é constituída por um conjunto de tentos e fantasias, cujas funções se integrariam, com toda a probabilidade, no seio do cerimonial litúrgico. A importância do compositor é ainda atestada pelo facto de ter sido Mestre da Capela Real a partir do reinado de D. Sebastião, cargo que manteve durante o governo do Cardeal D. Henrique. No que respeita à produção organística, António Carreira enriqueceu a música de tecla ibérica com um modelo monotemático de tento, desenvolvido a partir das condições naturais inerentes aos instrumentos de tecla. Nesse sentido, preparou o terreno para os futuros tentos monotemáticos de Manuel Rodrigues Coelho e Francisco Correa de Arauxo. O conhecimento profundo das formas instrumentais europeias do seu tempo tornou-o também num dos grandes responsáveis pela estruturação formal do tento a partir de elementos do ricercare, figurando por isso, com toda a legitimidade, ao lado de personalidades da craveira de Andrea Gabrieli, Jacques Buus ou Rocco Rodio. A presente comunicação pretende inscrever a produção de tecla de António Carreira no contexto da dinamização do cerimonial litúrgico, resultante da implementação das orientações tridentinas que marcaram de forma indelével o governo do Cardeal D. Henrique.2013-01-22T16:02:53Z2013-01-222012-10-18T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/conferenceObjecthttp://hdl.handle.net/10174/7613http://hdl.handle.net/10174/7613porsimsimnaofilipe.mesquita.oliveira@gmail.com204Oliveira, Filipeinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-01-03T18:47:59Zoai:dspace.uevora.pt:10174/7613Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T01:02:06.671403Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
dc.title.none.fl_str_mv |
O papel do órgão no contexto da prática polifónica nas capelas catedralícias em Portugal no tempo do Cardeal D. Henrique – a figura de António Carreira (c.1530-c.1594) |
title |
O papel do órgão no contexto da prática polifónica nas capelas catedralícias em Portugal no tempo do Cardeal D. Henrique – a figura de António Carreira (c.1530-c.1594) |
spellingShingle |
O papel do órgão no contexto da prática polifónica nas capelas catedralícias em Portugal no tempo do Cardeal D. Henrique – a figura de António Carreira (c.1530-c.1594) Oliveira, Filipe António Carreira Tento Cardeal D. Henrique Sé de Évora Órgão |
title_short |
O papel do órgão no contexto da prática polifónica nas capelas catedralícias em Portugal no tempo do Cardeal D. Henrique – a figura de António Carreira (c.1530-c.1594) |
title_full |
O papel do órgão no contexto da prática polifónica nas capelas catedralícias em Portugal no tempo do Cardeal D. Henrique – a figura de António Carreira (c.1530-c.1594) |
title_fullStr |
O papel do órgão no contexto da prática polifónica nas capelas catedralícias em Portugal no tempo do Cardeal D. Henrique – a figura de António Carreira (c.1530-c.1594) |
title_full_unstemmed |
O papel do órgão no contexto da prática polifónica nas capelas catedralícias em Portugal no tempo do Cardeal D. Henrique – a figura de António Carreira (c.1530-c.1594) |
title_sort |
O papel do órgão no contexto da prática polifónica nas capelas catedralícias em Portugal no tempo do Cardeal D. Henrique – a figura de António Carreira (c.1530-c.1594) |
author |
Oliveira, Filipe |
author_facet |
Oliveira, Filipe |
author_role |
author |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Oliveira, Filipe |
dc.subject.por.fl_str_mv |
António Carreira Tento Cardeal D. Henrique Sé de Évora Órgão |
topic |
António Carreira Tento Cardeal D. Henrique Sé de Évora Órgão |
description |
Durante o reinado de D. João III as catedrais portuguesas lançaram as bases organizativas e financeiras para a formação de corpos de cantores especializados na prática de polifonia sacra. A elevação à cátedra episcopal do Cardeal-Infante D. Henrique concorreu decisivamente para esse facto, tendo-se observado a partir de então a instituição gradual de capelas catedralícias em Portugal. Sob o impulso do seu irmão, o Cardeal-Infante D. Afonso, a Sé de Évora foi testemunho da instituição de uma colegiada de moços de coro educados a expensas do cabido, para cumprir as obrigações musico-litúrgicas. Foi já no reinado de D. Sebastião, na sequência da adopção dos ditames tridentinos, os quais acentuaram radicalmente a romanização litúrgica e o controle social sobre as ideias e os costumes, que a música sacra foi, também ela, objecto de uma extensa revisão. No que releva das suas resultantes práticas importa mencionar a proibição de canto e execução instrumental por parte de religiosos em mosteiros de freiras, a imposição da censura prévia a textos de novos motetes e a proibição do uso de instrumentos, à excepção dos de tecla. É assim que o órgão adquire um relevo que até então não tinha, decorrente do papel assumido no acompanhamento de algumas rubricas. Nesse contexto inscreve-se o nome de António Carreira, a figura mais marcante no âmbito do repertório organístico português de quinhentos. A sua produção de tecla, que se encontra no manuscrito musical 242 da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (P-Cug MM 242), é constituída por um conjunto de tentos e fantasias, cujas funções se integrariam, com toda a probabilidade, no seio do cerimonial litúrgico. A importância do compositor é ainda atestada pelo facto de ter sido Mestre da Capela Real a partir do reinado de D. Sebastião, cargo que manteve durante o governo do Cardeal D. Henrique. No que respeita à produção organística, António Carreira enriqueceu a música de tecla ibérica com um modelo monotemático de tento, desenvolvido a partir das condições naturais inerentes aos instrumentos de tecla. Nesse sentido, preparou o terreno para os futuros tentos monotemáticos de Manuel Rodrigues Coelho e Francisco Correa de Arauxo. O conhecimento profundo das formas instrumentais europeias do seu tempo tornou-o também num dos grandes responsáveis pela estruturação formal do tento a partir de elementos do ricercare, figurando por isso, com toda a legitimidade, ao lado de personalidades da craveira de Andrea Gabrieli, Jacques Buus ou Rocco Rodio. A presente comunicação pretende inscrever a produção de tecla de António Carreira no contexto da dinamização do cerimonial litúrgico, resultante da implementação das orientações tridentinas que marcaram de forma indelével o governo do Cardeal D. Henrique. |
publishDate |
2012 |
dc.date.none.fl_str_mv |
2012-10-18T00:00:00Z 2013-01-22T16:02:53Z 2013-01-22 |
dc.type.status.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/conferenceObject |
format |
conferenceObject |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
http://hdl.handle.net/10174/7613 http://hdl.handle.net/10174/7613 |
url |
http://hdl.handle.net/10174/7613 |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.relation.none.fl_str_mv |
sim sim nao filipe.mesquita.oliveira@gmail.com 204 |
dc.rights.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/openAccess |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.source.none.fl_str_mv |
reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação instacron:RCAAP |
instname_str |
Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação |
instacron_str |
RCAAP |
institution |
RCAAP |
reponame_str |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
collection |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
repository.name.fl_str_mv |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação |
repository.mail.fl_str_mv |
|
_version_ |
1799136504945049600 |