A política do medicamento e a troika: entre constrangimentos internos e oportunidades externas
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2018 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10362/58337 |
Resumo: | Durante a crise do euro alguns Estados-membros, perante ataques dos mercados e das agências de rating, foram pressionados a fazer reformas em troca de ajuda financeira externa. A crença recorrentemente veiculada na opinião pública, máxime pelos responsá-veis políticos, residia na ‘falta de margem de manobra’ do governo perante os credores internacionais. Ora, as negociações internacionais, inerentes à preparação do Programa de ajuda externa (ou Memorando de entendimento), conduzidas pelos governos configu-ram ser, na ótica de Vreeland, um caso de «decisão conjunta» entre o governo e as enti-dades credoras internacionais, longe dos olhares do público. Nesse sentido, publicamente os governos podem arguir que se tratam das medidas impostas pelos credores externos, mas in-doors podem negociar essas mesmas medidas com as entidades internacionais, podendo até pedir para algumas serem especificamente incluídas no Memorando. Donde pode derivar o corolário paradoxal de que os governos estão presos outdoors, mas livres in-doors. A literatura existente sobre os resgates ou foca-se em políticas macro (v.g., a la-boral) ou na relação entre o governo e grupos de interesse ‘tradicionais’ (dos trabalhado-res). Neste contexto, focamo-nos no estudo da política (micro) do medicamento e no ‘mapeamento’ das relações entre o governo e a Indústria Farmacêutica Inovadora que se constitui como um grupo de interesse que, além de interno, é também multinacional. Baseando-nos no método do process tracing, intentámos saber se o governo con-seguiu explorar o contexto de crise e respetivo resgate para se fortalecer vis-à-vis à In-dústria Farmacêutica. As evidências empíricas mostram-nos que o governo explorou o contexto de crise e a pressão externa inerente ao resgate para se fortalecer perante a In-dústria Farmacêutica. Todavia, esse fortalecimento foi desafiado, dado que a Indústria, ela própria, devido aos seus vastos recursos de lobbying, acesso privilegiado ao nível supranacional de governance e fazendo uso do seu caráter multinacional conseguiu tam-bém pressionar o governo, resistindo ao resgate melhor do que um grupo de interesse puramente interno, em princípio, conseguiria. Esta evidência empírica corrobora a ocor-rência do paradoxo da fraqueza de Grande, em que o governo usou as negociações inter-nacionais para se fortalecer perante um grupo interno. Não obstante, como o nosso caso de estudo demonstra, trata-se também de um grupo de interesse multinacional com acesso privilegiado ao nível supranacional. Neste sentido, e como os movimentos políticos da Indústria demonstraram, advogámos que se verificou também a ocorrência do paradoxo da fraqueza invertido, i.e., no mesmo sistema de decisão conjunta onde o governo procura reforçar a sua posição face a grupos internos, um grupo multinacional com o tipo de acesso privilegiado ao nível supranacional como o que a Indústria Farmacêutica possui, então, este pode também fortalecer a sua posição perante o governo que pretende pressi-onar. Nesta medida, a assimetria de informação foi consideravelmente mitigada. Em que medida a interação simultânea dos dois paradoxos – o da fraqueza tradicional de Grande e o da fraqueza invertido – não pode conduzir à manutenção do status quo potenciado pela inércia política que o alimenta? O caso da Política do medicamento e a troika de-monstra como essa interação simultânea dos dois paradoxos cristaliza nesse desfecho. Porque, de facto, por vezes, é preciso fazer tudo para que, no essencial, tudo fique na mesma. |
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A política do medicamento e a troika: entre constrangimentos internos e oportunidades externasPortugalIndústria FarmacêuticaEstadoMemorando de entendimentoPolítica do medicamentoPortugalTroikaStatus quoStatePharmaceutical IndustryMemorandum of UnderstandingMedicines policyDomínio/Área Científica::Ciências Sociais::Ciências PolíticasDurante a crise do euro alguns Estados-membros, perante ataques dos mercados e das agências de rating, foram pressionados a fazer reformas em troca de ajuda financeira externa. A crença recorrentemente veiculada na opinião pública, máxime pelos responsá-veis políticos, residia na ‘falta de margem de manobra’ do governo perante os credores internacionais. Ora, as negociações internacionais, inerentes à preparação do Programa de ajuda externa (ou Memorando de entendimento), conduzidas pelos governos configu-ram ser, na ótica de Vreeland, um caso de «decisão conjunta» entre o governo e as enti-dades credoras internacionais, longe dos olhares do público. Nesse sentido, publicamente os governos podem arguir que se tratam das medidas impostas pelos credores externos, mas in-doors podem negociar essas mesmas medidas com as entidades internacionais, podendo até pedir para algumas serem especificamente incluídas no Memorando. Donde pode derivar o corolário paradoxal de que os governos estão presos outdoors, mas livres in-doors. A literatura existente sobre os resgates ou foca-se em políticas macro (v.g., a la-boral) ou na relação entre o governo e grupos de interesse ‘tradicionais’ (dos trabalhado-res). Neste contexto, focamo-nos no estudo da política (micro) do medicamento e no ‘mapeamento’ das relações entre o governo e a Indústria Farmacêutica Inovadora que se constitui como um grupo de interesse que, além de interno, é também multinacional. Baseando-nos no método do process tracing, intentámos saber se o governo con-seguiu explorar o contexto de crise e respetivo resgate para se fortalecer vis-à-vis à In-dústria Farmacêutica. As evidências empíricas mostram-nos que o governo explorou o contexto de crise e a pressão externa inerente ao resgate para se fortalecer perante a In-dústria Farmacêutica. Todavia, esse fortalecimento foi desafiado, dado que a Indústria, ela própria, devido aos seus vastos recursos de lobbying, acesso privilegiado ao nível supranacional de governance e fazendo uso do seu caráter multinacional conseguiu tam-bém pressionar o governo, resistindo ao resgate melhor do que um grupo de interesse puramente interno, em princípio, conseguiria. Esta evidência empírica corrobora a ocor-rência do paradoxo da fraqueza de Grande, em que o governo usou as negociações inter-nacionais para se fortalecer perante um grupo interno. Não obstante, como o nosso caso de estudo demonstra, trata-se também de um grupo de interesse multinacional com acesso privilegiado ao nível supranacional. Neste sentido, e como os movimentos políticos da Indústria demonstraram, advogámos que se verificou também a ocorrência do paradoxo da fraqueza invertido, i.e., no mesmo sistema de decisão conjunta onde o governo procura reforçar a sua posição face a grupos internos, um grupo multinacional com o tipo de acesso privilegiado ao nível supranacional como o que a Indústria Farmacêutica possui, então, este pode também fortalecer a sua posição perante o governo que pretende pressi-onar. Nesta medida, a assimetria de informação foi consideravelmente mitigada. Em que medida a interação simultânea dos dois paradoxos – o da fraqueza tradicional de Grande e o da fraqueza invertido – não pode conduzir à manutenção do status quo potenciado pela inércia política que o alimenta? O caso da Política do medicamento e a troika de-monstra como essa interação simultânea dos dois paradoxos cristaliza nesse desfecho. Porque, de facto, por vezes, é preciso fazer tudo para que, no essencial, tudo fique na mesma.During the euro crisis, some Member States, faced with market and rating agencies' attacks, were pressured to make reforms in exchange for external financial aid. The belief spread in public opinion, especially by politicians, lies in the government's "lack of room for manoeuvre" in front of international creditors. The international nego-tiations inherent in the preparation of the External Assistance Program (or Memorandum of Understanding) led by governments are, in Vreeland's view, a case of 'joint decision' between the government and international creditors far from the public eyes. In that sense, governments can publicly argue that the measures imposed by external creditors, but they, in-doors, can negotiate those measures with international internations, and may even ask for some to be specifically included in the Memorandum. Then, we face a paradoxical corollary: governments are trapped outdoors, but free in-doors. Existing literature on bailouts or focuses on macro (e.g. labour) policies or on the relationship between government and 'traditional' interest groups (workers groups). In this context, we focus on the study of the (micro) policy of the drug and on the 'mapping' of relations between the government and the Innovative Pharmaceutical Industry, which constitutes an interest group that, besides being internal, is also multinational. Based on the process tracing method, we tried to know if the government was able to exploit the context of crisis and the bailout to strengthen itself vis-à-vis the Pharma-ceutical Industry. The empirical evidence shows that the government exploited the con-text of crisis and the external pressure inherent to the bailout to strengthen itself before the Pharmaceutical Industry. However, this strengthening was challenged, given that the industry itself, because of its vast lobbying resources, privileged access to the supra-na-tional level of governance and making use of its multinational character also managed to put pressure on the government, resisting to the bailout better than one purely internal interest group, in principle, would do. This empirical evidence corroborates the occur-rence of the paradox of the Grande weakness, in which the Government used the interna-tional negotiations to strengthen itself before an internal group. Nonetheless, as our case study demonstrates, it is also a multinational interest group with privileged access at the supranational level. In this sense, and as the political movements of Industry have demon-strated, we have argued that the paradox of inverted weakness has also occurred, i.e., in the same joint decision-making system where the Government seeks to strengthen its po-sition vis-à-vis internal groups, a multinational group with the type of privileged access at the supranational level as what the Pharmaceutical Industry has, then it can also strengthen its position vis-à-vis the government it intends to press. To this extent, infor-mation asymmetry has been considerably mitigated. To what extent can the simultaneous interaction of the two paradoxes - that of the traditional weakness of Great and that of inverted weakness - not lead to the maintenance of the status quo boosted by the political inertia that fuels it? The case of Medicines Policy and troika demonstrates how this sim-ultaneous interaction of the two paradoxes crystallizes in this outcome. Because, in fact, sometimes we have to do everything so that, essentially, everything remains equal.Moury, CatherineBarros, Pedro PitaRUNPereira, Diogo José Teixeira2021-12-17T01:30:23Z2018-12-172018-11-092018-12-17T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10362/58337TID:202136736porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-11T04:28:08Zoai:run.unl.pt:10362/58337Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T03:33:14.587503Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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