Consumo e transformação de peixe entre o mundo romano e o mundo islâmico

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Bernardes, João Pedro
Data de Publicação: 2015
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.1/10575
Resumo: É conhecido na Antiguidade o gosto por um conjunto de produtos à base de peixe, onde se destaca o famoso garum. Esta palavra, de origem grega (Plínio, N.H. XXXI, 93; Isidoro, Etym. XX, 3, 19)1, é a que melhor retrata o gosto de Gregos e Romanos pelos preparados de peixe, uma vez que constituiu o produto mais refinado e luxuoso dentro de uma vasta gama de derivados piscícolas e que, por isso mesmo, foi o mais aludido na literatura greco-latina que se refere aos produtos alimentícios oriundos do mar. É um étimo que tende a perpetuar-se no tempo, acabando por servir para designar, já em plena Idade Média, qualquer preparado de peixe, mesmo que nada tenha a ver com as características específicas e genuínas do produto original referido por autores gregos e romanos que, amiúde, elogiaram a superior qualidade do que era produzido no Sudoeste Peninsular. Com efeito, uma das regiões do Império mais activas na captura e transformação do pescado foi o extremo ocidente do Mediterrâneo, com centro em Cádis, de que a literatura clássica faz eco e os vestígios arqueológicos testemunham. A costa andaluza, o norte de Marrocos e o sul de Portugal (o golfo luso-hispano- marroquino ou o pré-mediterrâneo de que fala Orlando Ribeiro, 1961: 83) concentram os mais abundantes vestígios de fábricas de peixe do mundo romano, onde se destaca Tróia como maior complexo piscícola conhecido com mais de uma vintena de fábricas instaladas (Étienne et al., 1994). Ainda em Portugal, é no Algarve que arqueologicamente a actividade está melhor atestada, conhe- cendo-se mais de uma trintena de fábricas com uma capacidade instalada que permitiria a produção de vários milhares de metros cúbicos de preparados de peixe, entre molhos, pastas e salgas sólidas (Fabião, 2006). As fontes literárias e a Arqueologia testemunham o atum, a sardinha e a cavala como os peixes capturados mais comuns nesta área do mundo romano.
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