Cenare quomodo rex: as políticas do javali na Roma de Marcial

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Lopes, Maria José Ferreira
Data de Publicação: 2022
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.14/42534
Resumo: O poeta Marcial é uma das mais notórias fontes sobre a alimentação do seu tempo, nomeadamente a propósito do quanto pesava nas relações sociais e na própria expressão literária. Os seus incisivos versos, mesmo parecendo algo triviais e até grotescos, revelam que, no contexto política e socialmente novedoso do primeiro século do Império, cenare quomodo rex (Petrónio, Satyricon, 38) implicava, acima de tudo, consumir carne de javali. Esta iguaria transportava em si múltiplos sentidos: símbolo de Marte e atestado de valentia do caçador, protagonista de episódios mitológicos marcantes e repetidamente recriados na arena, o aper exemplificava o novo tipo de status, conquistado através da riqueza. De facto, era quase tão oneroso obtê-lo quanto prepará-lo, o que intensificava um sabor per se delicioso, convertendo-o num chamariz para aficionados e num meio de concretizar propósitos interesseiros. O javali era um símbolo da desigualdade social que tanto incomodava Marcial, preso a um sistema de clientela, cansativo e humilhante, que subvertera as relações e as virtudes tradicionais. O simbolismo mitológico do animal permite ao poeta alusões eruditas que remetem para a tradição épica, integrando-o num bestiário que ultrapassa a dimensão satírica para representar a fragilidade que caracteriza o ser humano.
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