Onde pára a classe média? Breves notas sobre o conceito e a realidade portuguesa

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Estanque, Elísio
Data de Publicação: 2016
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: https://doi.org/10.7458/SPP2017839971
Resumo: O presente texto centra-se no conceito de classe média e suas implicações sociopolíticas. Tratando-se de um tema que desde há cerca de duzentos anos tem alimentado sucessivas polémicas no campo académico, esta abordagem procura “desconstruir” alguns dos lugares-comuns que ao longo dos tempos envolveram esta categoria, designadamente a conotação com apatia política, individualismo e adesão acrítica ao statu quo “burguês”. O autor recorre a exemplos retirados do recente ciclo de rebeliões sociais induzidas pela crise económica e as políticas de austeridade — em especial os protestos que ocorreram na Europa do Sul e no Brasil —, procurando explorar a hipótese de que o potencial radicalismo e a força transformadora desses movimentos se devem não a um sentido “vanguardista” ou identidade “proletária”, mas antes a uma “pulsão de classe média” que deriva justamente dos valores e estilos de vida incorporados — mas não consolidados — por estes segmentos; ou seja, o descontentamento da classe média (tanto dos setores ascendentes como dos setores em declínio) é resultado de expectativas, ambições e desejos de ascensão social que o atual sistema económico e a classe dirigente “prometeram”, mas que não conseguiram satisfazer, pelo contrário, vendo-se agora ameaçados de empobrecimento. O possível ressurgimento da conflitualidade, seja ela de caráter progressista ou nacionalista e conservadora, passará seguramente pelo protagonismo destas categorias, marcadas pela instabilidade e precariedade do emprego e do modelo social com que um dia sonharam.
id RCAP_75a77fb5216c42e56c8f8159179929fe
oai_identifier_str oai:ojs.revistas.rcaap.pt:article/9971
network_acronym_str RCAP
network_name_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository_id_str 7160
spelling Onde pára a classe média? Breves notas sobre o conceito e a realidade portuguesa¿Dónde anda la clase media? Breves notas sobre el concepto y la realidad portuguesaOù se situe la classe moyenne? Brèves notes sur le concept et la réalité portugaiseOnde pára a classe média? Breves notas sobre o conceito e a realidade portuguesaArtigosO presente texto centra-se no conceito de classe média e suas implicações sociopolíticas. Tratando-se de um tema que desde há cerca de duzentos anos tem alimentado sucessivas polémicas no campo académico, esta abordagem procura “desconstruir” alguns dos lugares-comuns que ao longo dos tempos envolveram esta categoria, designadamente a conotação com apatia política, individualismo e adesão acrítica ao statu quo “burguês”. O autor recorre a exemplos retirados do recente ciclo de rebeliões sociais induzidas pela crise económica e as políticas de austeridade — em especial os protestos que ocorreram na Europa do Sul e no Brasil —, procurando explorar a hipótese de que o potencial radicalismo e a força transformadora desses movimentos se devem não a um sentido “vanguardista” ou identidade “proletária”, mas antes a uma “pulsão de classe média” que deriva justamente dos valores e estilos de vida incorporados — mas não consolidados — por estes segmentos; ou seja, o descontentamento da classe média (tanto dos setores ascendentes como dos setores em declínio) é resultado de expectativas, ambições e desejos de ascensão social que o atual sistema económico e a classe dirigente “prometeram”, mas que não conseguiram satisfazer, pelo contrário, vendo-se agora ameaçados de empobrecimento. O possível ressurgimento da conflitualidade, seja ela de caráter progressista ou nacionalista e conservadora, passará seguramente pelo protagonismo destas categorias, marcadas pela instabilidade e precariedade do emprego e do modelo social com que um dia sonharam.The present text focuses on the concept of middle class and its sociopolitical implications. Inasmuch as this is a topic that has been fuelling successive arguments in the academic field for some two hundred years, the author’s approach seeks to “deconstruct” some of the commonplaces that have involved this category over the years — particularly the connotation with political apathy, individualism and uncritical adherence to the “bourgeois” status quo. He takes examples from the recent cycle of social rebellions generated by the economic crisis and austerity policies — especially the protests that took place in Southern Europe and Brazil — to explore the hypothesis that the potential radicalism and transforming force of these movements are due not to a sense of “vanguardism” or “proletarian” identity, but rather to a “middle class initiative” derived precisely from the values and lifestyles incorporated — but not consolidated — by these segments. To put it another way, the discontent of the middle class (both the sectors that are moving upwards and those that are in decline) is a result of expectations, ambitions and desires to climb the social ladder, which the current economic system and governing class “promised”, but were unable to fulfil, with the middle class now threatened with impoverishment instead. The possible resurgence of conflict, be it either progressive or nationalist and conservative in nature, will certainly entail a prominent role on the part of these categories, marked as they are by instability, job precarity and the social model they once dreamed of.El presente texto se centra en el concepto de clase media y sus implicaciones sociopolíticas. Tratándose de un tema que desde hace cerca de doscientos años ha alimentado sucesivas polémicas en el campo académico, este abordaje procura “deconstruir” algunos de los lugares comunes que a lo largo de los tiempos envolvieron esta categoría, a saber, la connotación con apatía política, individualismo y adhesión acrítica al statu quo “burgués”. El autor recurre a ejemplos extraídos del reciente ciclo de rebeliones sociales inducidas por la crisis económica y las políticas de austeridad — en especial las protestas que ocurrieron en Europa del Sur y en Brasil —, procurando explorar la hipótesis de que el potencial radicalismo y fuerza transformadora de esos movimientos no se deben a un sentido “vanguardista” o identidad “proletaria”, sino a una “pulsión de clase media” que deriva justamente de los valores y estilos de vida incorporados — pero no consolidados — por estos segmentos; o sea, el descontento de la clase media (tanto los sectores ascendentes como los sectores en declive) es resultado de expectativas, ambiciones y deseos de ascensión social que el actual sistema económico y la clase dirigente “prometieron”, pero que no consiguieron satisfacer, por el contrario, viéndose ahora amenazados por el empobrecimiento. El posible resurgimiento del conflicto, sea este de carácter progresista o nacionalista y conservador, pasará seguramente por el protagonismo de estas categorías, marcadas por la inestabilidad y precariedad del empleo y del modelo social con que un día soñaron.Ce texte est centré sur le concept de classe moyenne et ses implications sociopolitiques, un thème qui n’a cessé d’alimenter diverses polémiques dans le champ académique, depuis près de deux cents ans. Cette approche tente de “ déconstruire ” certains des lieux communs associés à cette catégorie au long des temps, notamment sa connotation avec l’apathie politique, l’individualisme et l’adhésion acritique au statu quo “bourgeois”. L’auteur s’appuie sur des exemples tirés du cycle récent de rébellions sociales suscitées par la crise économique et les politiques d’austérité — en particulier les protestations qui se sont multipliées en Europe du Sud et au Brésil —, afin d’explorer l’hypothèse selon laquelle le radicalisme potentiel et la force transformatrice de ces mouvements sont dus non pas à un élan “ avant-gardiste ” ou à une identité “ prolétarienne ”,  mais plutôt à une “ pulsion de classe moyenne” qui dérive justement des valeurs et des styles de vie assimilés — mais non consolidés — par ces segments. Autrement dit, le mécontentement de la classe moyenne (tant des secteurs ascendants que des secteurs en déclin) est le résultat des attentes, des ambitions et des désirs d’ascension sociale que le système économique actuel et la classe dirigeante “ ont promis ” mais n’ont pas réussi à satisfaire. Au contraire, ils se voient aujourd’hui menacés d’appauvrissement. La réapparition possible de la conflictualité, qu’elle soit progressiste ou nationaliste et conservatrice, passera assurément par l’intervention de ces catégories, marquées par l’instabilité et la précarité de l’emploi et du modèle social dont ils ont rêvé un jour.Mundos Sociais, CIES-IUL, Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL)2016-12-14info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articlehttps://doi.org/10.7458/SPP2017839971por2182-79070873-6529Estanque, Elísioinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-03-28T12:16:30Zoai:ojs.revistas.rcaap.pt:article/9971Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T17:46:34.394266Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
dc.title.none.fl_str_mv Onde pára a classe média? Breves notas sobre o conceito e a realidade portuguesa
¿Dónde anda la clase media? Breves notas sobre el concepto y la realidad portuguesa
Où se situe la classe moyenne? Brèves notes sur le concept et la réalité portugaise
Onde pára a classe média? Breves notas sobre o conceito e a realidade portuguesa
title Onde pára a classe média? Breves notas sobre o conceito e a realidade portuguesa
spellingShingle Onde pára a classe média? Breves notas sobre o conceito e a realidade portuguesa
Estanque, Elísio
Artigos
title_short Onde pára a classe média? Breves notas sobre o conceito e a realidade portuguesa
title_full Onde pára a classe média? Breves notas sobre o conceito e a realidade portuguesa
title_fullStr Onde pára a classe média? Breves notas sobre o conceito e a realidade portuguesa
title_full_unstemmed Onde pára a classe média? Breves notas sobre o conceito e a realidade portuguesa
title_sort Onde pára a classe média? Breves notas sobre o conceito e a realidade portuguesa
author Estanque, Elísio
author_facet Estanque, Elísio
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Estanque, Elísio
dc.subject.por.fl_str_mv Artigos
topic Artigos
description O presente texto centra-se no conceito de classe média e suas implicações sociopolíticas. Tratando-se de um tema que desde há cerca de duzentos anos tem alimentado sucessivas polémicas no campo académico, esta abordagem procura “desconstruir” alguns dos lugares-comuns que ao longo dos tempos envolveram esta categoria, designadamente a conotação com apatia política, individualismo e adesão acrítica ao statu quo “burguês”. O autor recorre a exemplos retirados do recente ciclo de rebeliões sociais induzidas pela crise económica e as políticas de austeridade — em especial os protestos que ocorreram na Europa do Sul e no Brasil —, procurando explorar a hipótese de que o potencial radicalismo e a força transformadora desses movimentos se devem não a um sentido “vanguardista” ou identidade “proletária”, mas antes a uma “pulsão de classe média” que deriva justamente dos valores e estilos de vida incorporados — mas não consolidados — por estes segmentos; ou seja, o descontentamento da classe média (tanto dos setores ascendentes como dos setores em declínio) é resultado de expectativas, ambições e desejos de ascensão social que o atual sistema económico e a classe dirigente “prometeram”, mas que não conseguiram satisfazer, pelo contrário, vendo-se agora ameaçados de empobrecimento. O possível ressurgimento da conflitualidade, seja ela de caráter progressista ou nacionalista e conservadora, passará seguramente pelo protagonismo destas categorias, marcadas pela instabilidade e precariedade do emprego e do modelo social com que um dia sonharam.
publishDate 2016
dc.date.none.fl_str_mv 2016-12-14
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://doi.org/10.7458/SPP2017839971
url https://doi.org/10.7458/SPP2017839971
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv 2182-7907
0873-6529
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Mundos Sociais, CIES-IUL, Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL)
publisher.none.fl_str_mv Mundos Sociais, CIES-IUL, Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL)
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron:RCAAP
instname_str Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron_str RCAAP
institution RCAAP
reponame_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
collection Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository.name.fl_str_mv Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1799131549263724544