Caracterização das lesões auto-infligidas não letais no âmbito das perícias médico-legais
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2014 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10400.6/4892 |
Resumo: | As lesões auto-infligidas não letais incluem todos os comportamentos nos quais um indivíduo, directa e deliberadamente, causa dano a si próprio, sem a intenção de cometer suicídio. Estas lesões parecem surgir em cerca de quatro por cento da população adulta, sendo que, as que pretendem simular crimes, são mais frequentes em jovens entre a segunda e a terceira década de vida, solteiros e desempregados. Para se realizar o diagnóstico destas lesões é fundamental realizar uma entrevista clínica estruturada e pormenorizada e um exame físico sistemático, procedendo ao registo de todas as informações recolhidas directa ou indirectamente, bem como à descrição das lesões e ao seu registo fotográfico sempre que possível. Existem vários mecanismos pelos quais se podem cometer “auto-lesões”, sendo o mais frequente a incisão de cortes superficiais e suaves na pele, sendo para isso utilizados materiais cortantes, como sejam, facas, agulhas, giletes ou as próprias unhas. Outros mecanismos são contusões, queimaduras (por ponta de cigarro, por exemplo), cortes profundos, fracturas ou amputações. Habitualmente, os cortes são superficiais, lineares, uniformes, agrupados e paralelos, acompanhando a curvatura da superfície corporal e mantendo a mesma profundidade em todo o seu comprimento, podendo, obviamente, adquirir outros padrões menos comuns. Todos os tipos de lesões tendem a apresentar-se de forma simétrica ou com predominância do lado não-dominante, em zonas controláveis com a visão do próprio e alcançáveis pelas próprias mãos, poupando áreas corporais mais sensíveis. Tipicamente as roupas não são afectadas ou, se são, os danos nas roupas não são consistentes com o dano corporal. A ausência de lesões de defesa também ajuda a confirmar o diagnóstico de lesões auto-infligidas, assim como o padrão linear e pouco destrutivo das lesões, na maioria dos casos, incongruente com a descrição dramática da agressão contada pela “vítima”. Os objectivos para a realização destes actos podem ser divididos em três grandes grupos: simulação de ofensas criminais para acusação de alguém, fraudes a companhias de seguro com perspectivas de lucro económico, e simulações entre soldados e prisioneiros para obtenção de algum tipo de benefício pessoal. Muitas vezes, as lesões são realizadas para dar mais credibilidade à simulação de assalto ou rapto, podendo ser ou não de carácter sexual. Com alguma frequência, está por trás uma história de separação dramática, a dissimulação de traições amorosas, a vingança de alguém especificamente, a obtenção de compaixão por terceiros, entre muitos outros motivos. No que toca a fraudes a seguradoras, geralmente o objectivo é simular um acidente do qual resultou a amputação de uma parte distal do corpo, como um ou vários dedos da mão não-dominante, sendo típica a existência de uma ou várias apólices contratadas recentemente que tornam aquele acidente bastante vantajoso para a suposta vítima. Nos prisioneiros e soldados, estes comportamentos têm como fim obter vantagens dentro das instituições onde estes se encontram, resultando numa situação mais confortável para o indivíduo em questão. Para melhor compreender estes comportamentos auto-agressivos, apresentam-se dois casos a título de exemplo: o primeiro, relativo a senhora que simulou agressão sexual por parte de um colega de trabalho com lesões cortantes superficiais; e, o segundo, envolvendo empregado de farmácia que simulou acidente com machado, implicando corte de quatro dedos da mão esquerda, para receber prémios de seguros. |
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Caracterização das lesões auto-infligidas não letais no âmbito das perícias médico-legaisDiagnósticoFraudeLesões Auto-InfligidasPadrão da LesãoSimulação de AgressãoDomínio/Área Científica::Ciências Médicas::Ciências da Saúde::MedicinaAs lesões auto-infligidas não letais incluem todos os comportamentos nos quais um indivíduo, directa e deliberadamente, causa dano a si próprio, sem a intenção de cometer suicídio. Estas lesões parecem surgir em cerca de quatro por cento da população adulta, sendo que, as que pretendem simular crimes, são mais frequentes em jovens entre a segunda e a terceira década de vida, solteiros e desempregados. Para se realizar o diagnóstico destas lesões é fundamental realizar uma entrevista clínica estruturada e pormenorizada e um exame físico sistemático, procedendo ao registo de todas as informações recolhidas directa ou indirectamente, bem como à descrição das lesões e ao seu registo fotográfico sempre que possível. Existem vários mecanismos pelos quais se podem cometer “auto-lesões”, sendo o mais frequente a incisão de cortes superficiais e suaves na pele, sendo para isso utilizados materiais cortantes, como sejam, facas, agulhas, giletes ou as próprias unhas. Outros mecanismos são contusões, queimaduras (por ponta de cigarro, por exemplo), cortes profundos, fracturas ou amputações. Habitualmente, os cortes são superficiais, lineares, uniformes, agrupados e paralelos, acompanhando a curvatura da superfície corporal e mantendo a mesma profundidade em todo o seu comprimento, podendo, obviamente, adquirir outros padrões menos comuns. Todos os tipos de lesões tendem a apresentar-se de forma simétrica ou com predominância do lado não-dominante, em zonas controláveis com a visão do próprio e alcançáveis pelas próprias mãos, poupando áreas corporais mais sensíveis. Tipicamente as roupas não são afectadas ou, se são, os danos nas roupas não são consistentes com o dano corporal. A ausência de lesões de defesa também ajuda a confirmar o diagnóstico de lesões auto-infligidas, assim como o padrão linear e pouco destrutivo das lesões, na maioria dos casos, incongruente com a descrição dramática da agressão contada pela “vítima”. Os objectivos para a realização destes actos podem ser divididos em três grandes grupos: simulação de ofensas criminais para acusação de alguém, fraudes a companhias de seguro com perspectivas de lucro económico, e simulações entre soldados e prisioneiros para obtenção de algum tipo de benefício pessoal. Muitas vezes, as lesões são realizadas para dar mais credibilidade à simulação de assalto ou rapto, podendo ser ou não de carácter sexual. Com alguma frequência, está por trás uma história de separação dramática, a dissimulação de traições amorosas, a vingança de alguém especificamente, a obtenção de compaixão por terceiros, entre muitos outros motivos. No que toca a fraudes a seguradoras, geralmente o objectivo é simular um acidente do qual resultou a amputação de uma parte distal do corpo, como um ou vários dedos da mão não-dominante, sendo típica a existência de uma ou várias apólices contratadas recentemente que tornam aquele acidente bastante vantajoso para a suposta vítima. Nos prisioneiros e soldados, estes comportamentos têm como fim obter vantagens dentro das instituições onde estes se encontram, resultando numa situação mais confortável para o indivíduo em questão. Para melhor compreender estes comportamentos auto-agressivos, apresentam-se dois casos a título de exemplo: o primeiro, relativo a senhora que simulou agressão sexual por parte de um colega de trabalho com lesões cortantes superficiais; e, o segundo, envolvendo empregado de farmácia que simulou acidente com machado, implicando corte de quatro dedos da mão esquerda, para receber prémios de seguros.The concept of non-lethal self-inflicted lesions embraces all the behaviours in which a certain individual hurts himself, directly and intentionally, without the intention of committing suicide. These lesions may occur in about four percent of the adult population, whereas the ones that intend to simulate crimes are more frequent amongst single and unemployed individuals, aged between the second and the third decade of life. In order to diagnose this kind of injuries it’s crucial to make a well structured and thorough clinic interview as well as a systematic physical examination, recording all the directly and indirectly gathered information and a full description of the injuries with photographic records if possible. There are several mechanisms that can be used to self-inflict injuries, being the most frequent the incision of superficial and smooth cuts on the skin with the help of sharp materials such as knives, needles, razor blades or even fingernails. Other ways to inflict damage are contusions, burns (with cigarette butts for instance), deep cuts, fractures or amputations. Usually the cuts are shallow, linear, uniform, grouped and parallel. They maintain the body’s surface curvature and also the same depth in their length, although they can also present less common patterns. All kinds of lesions have a tendency to present a symmetrical way throw-out the body or with predominance for the non-dominant side of the body. They appear in vision controllable parts of the body, reachable by the individual’s own hands, spearing the most sensible body parts. Typically, clothing does not present damage. However when there is damage, it is inconsistent with the damaged inflicted to the body. The absence of defensive wounds as well as the linear and non-destructive pattern of the injuries also helps to confirm the diagnosis of self-inflicted lesions, which in most cases is unrelated with the dramatic description of the attack portrayed by the “victim”. The intentions behind this kind of actions can be divided in three main categories: simulation of criminal acts in order to indict another individual, insurance fraud with the purpose of obtaining economical profits and simulations between soldiers or prisoners to obtain some kind of personal benefit. Quite often the lesions are used as credibility enhancers for the simulation of robberies or kidnappings. Regarding the simulation of an assault, the lesions may or not be sexual related, involving frequently a dramatic separation background, the simulation of couple cheating, personal revenge or just to obtain compassion from other individuals, amongst other reasons. In order to commit an insurance fraud, usually the objective is to simulate an accident from which resulted the amputation of a distal body part, such as one or several fingers of the non-dominant hand. The existence of a recent insurance policy made by the supposed victim makes this kind of accident quite advantageous. Between prisoners or soldiers, this kind of behaviour is frequently used by individuals to obtain advantages within the institutions they belong to, resulting in a more comfortable situation for a certain individual. In order to better understand this kind of auto-aggressive behaviours, two specific cases are presented: the first one describes a lady who simulates a sexual assault by a co-worker presenting shallow cuts; and the second one is a pharmacy employee who simulates an accident with an axe resulting in the chopping of four fingers in his left hand to obtain an insurance prize.Vieira, Duarte NunouBibliorumRibeiro, Mariline Ranginha2018-07-09T14:45:59Z2014-5-62014-06-162014-06-16T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.6/4892TID:201639181porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-12-15T09:42:20Zoai:ubibliorum.ubi.pt:10400.6/4892Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T00:45:55.539398Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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