A obsessão do diagnóstico? Fronteiras da interpretação paleopatológica a propósito de um estudo de caso da Colecção de Esqueletos Identificados do Museu Bocage (Museu Nacional de História Natural, Lisboa)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Matos, Vítor
Data de Publicação: 2008
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10316/14780
https://doi.org/10.14195/2182-7982_25_6
Resumo: Um dos desafios inerentes à interpretação paleopatológica radica na distinção entre o carácter normal e o patológico de determinadas alterações ósseas. Esta dicotomia nem sempre é linear e, frequentemente, dificulta ou impossibilita um diagnóstico retrospectivo concreto. O presente trabalho tem por objectivo exemplificar a fluidez da fronteira da interpretação paleopatológica, através do estudo de um esqueleto pertencente à Colecção de Esqueletos Identificados do Museu Bocage (Lisboa, Portugal). Este terá pertencido a uma mulher, doméstica, que em 1916, aos 35 anos, faleceu de tuberculose pulmonar. Das alterações macroscópicas observadas, destaca-se a presença de um canal no terço distal da clavícula esquerda com espessamento da metade acromial e bifurcação cortical do terço lateral balizada pela região do tubérculo conóide. O exame radiográfico confirmou a existência de uma zona de menor densidade na área descrita, não tendo revelado, no entanto, evidências de linha de fractura. Várias hipóteses etiológicas são discutidas assumindo-se como mais plausíveis: 1) fractura mal consolidada (intra-uterina, obstétrica ou ocorrida em tenra idade), cuja subsequente remodelação envolveu o encapsulamento das estruturas nervosas e venosas adjacentes, formando-se um canal circundado por tecido cartilagíneo; 2) bifurcação unilateral incompleta da clavícula. Neste estudo de caso, tal como em muitos outros, foi impossível efectuar um diagnóstico retrospectivo concreto. No entanto, e apesar das dificuldades e dos limites da interpretação paleopatológica, a análise de esqueletos humanos pretéritos é, com frequência, dominada por uma obsessão do diagnóstico, em detrimento, quer de descrições pormenorizadas, quer da exploração exaustiva das hipóteses etiológicas adscritas ao diagnóstico diferencial das alterações observadas.
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