Depressão, Apatia e Alexitimia Secundários ao Acidente Vascular Cerebral
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2015 |
Outros Autores: | |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | https://doi.org/10.25752/psi.4463 |
Resumo: | Introdução: São diversas as alterações comportamentais decorrentes do acidente vascular cerebral (AVC). Vários estudos avaliaram a frequência e gravidade de depressão, apatia e alexitimia consequente ao AVC, sendo os resultados publicados contraditórios. Objectivo: Este artigo pretende realizar uma revisão da literatura sobre os conceitos de depressão, apatia e alexitimia e sobre os correlatos neuroanatómicos, conhecidos até à data, que suportam estes achados psicopatológicos no pós-AVC. Métodos: Revisão não sistemática da literatura através da pesquisa em referências bibliográficas consideradas relevantes pelos autores suplementada por artigos obtidos através de pesquisa na base de dados Medline/Pubmed utilizando combinações das seguintes palavras-chave: “stroke”, “apathy”, “alexithymia”, “depression”, publicados entre 1973 e 2013. Foram ainda consultadas referências bibliográficas dos artigos obtidos e livros. Resultados e Conclusões: Após o AVC, muitos doentes sofrem de défices sequelares, resultando num processo de luto, sendo que esta resposta emocional considerada consequência normativa a problemas pós-AVC. Percebeu-se que a dimensão depressiva está associada com o funcionamento do lobo frontal esquerdo (a chamada “teoria do lobo frontal esquerdo”),contudo, a dimensão apática está associada com os gânglios da base. A taxa de apatia é mais baixa em pacientes sem doença cerebrovascular prévia, sendo que a apatia ‘pura’ (sem depressão concomitante) é duas vezes mais frequente que a taxa de depressão ‘pura’ (sem apatia concomitante). Doentes apáticos têm maior frequência de quadros depressivos graves e défice cognitivo quando comparados com os pacientes não-apáticos. Os mecanismos da consciência emocional reduzida e do embotamento expressivo após o AVC da artéria cerebral média são mal compreendidos. Enquanto que a apatia e a adinamia podem ser explicadas pela lesão tecidular na ínsula ou nos gânglios da base, a consciência emocional reduzida pode ter origem da alteração de actividade em regiões cerebrais distantes. As alterações funcionais e estruturais no córtex cingulado anterior já foram implicadas nos mecanismos da alexitimia. Comparado com o hemisfério esquerdo, o direito parece ser superior no processamento e organização da experiência emocional. A forma adquirida de alexitimia pode suceder secundariamente às lesões que ocorrem no território da artéria cerebral média direita (ACMD) e isto torna-se significativo porque pode alterar a apresentação tradicional de um quadro depressivo. Estudos no futuro deverão examinar se estas diferenças na localização da lesão e a sua influência na recuperação funcional poderão também fazer-se reflectir nos diferentes padrões de resposta ao tratamento, separadamente ou em conjunto. |
id |
RCAP_80fa1a92d9b319f173aee9bd09e39f07 |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:ojs.revistas.rcaap.pt:article/4463 |
network_acronym_str |
RCAP |
network_name_str |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
repository_id_str |
7160 |
spelling |
Depressão, Apatia e Alexitimia Secundários ao Acidente Vascular CerebralDepressão, Apatia e Alexitimia Secundários ao Acidente Vascular CerebralArtigos de RevisãoIntrodução: São diversas as alterações comportamentais decorrentes do acidente vascular cerebral (AVC). Vários estudos avaliaram a frequência e gravidade de depressão, apatia e alexitimia consequente ao AVC, sendo os resultados publicados contraditórios. Objectivo: Este artigo pretende realizar uma revisão da literatura sobre os conceitos de depressão, apatia e alexitimia e sobre os correlatos neuroanatómicos, conhecidos até à data, que suportam estes achados psicopatológicos no pós-AVC. Métodos: Revisão não sistemática da literatura através da pesquisa em referências bibliográficas consideradas relevantes pelos autores suplementada por artigos obtidos através de pesquisa na base de dados Medline/Pubmed utilizando combinações das seguintes palavras-chave: “stroke”, “apathy”, “alexithymia”, “depression”, publicados entre 1973 e 2013. Foram ainda consultadas referências bibliográficas dos artigos obtidos e livros. Resultados e Conclusões: Após o AVC, muitos doentes sofrem de défices sequelares, resultando num processo de luto, sendo que esta resposta emocional considerada consequência normativa a problemas pós-AVC. Percebeu-se que a dimensão depressiva está associada com o funcionamento do lobo frontal esquerdo (a chamada “teoria do lobo frontal esquerdo”),contudo, a dimensão apática está associada com os gânglios da base. A taxa de apatia é mais baixa em pacientes sem doença cerebrovascular prévia, sendo que a apatia ‘pura’ (sem depressão concomitante) é duas vezes mais frequente que a taxa de depressão ‘pura’ (sem apatia concomitante). Doentes apáticos têm maior frequência de quadros depressivos graves e défice cognitivo quando comparados com os pacientes não-apáticos. Os mecanismos da consciência emocional reduzida e do embotamento expressivo após o AVC da artéria cerebral média são mal compreendidos. Enquanto que a apatia e a adinamia podem ser explicadas pela lesão tecidular na ínsula ou nos gânglios da base, a consciência emocional reduzida pode ter origem da alteração de actividade em regiões cerebrais distantes. As alterações funcionais e estruturais no córtex cingulado anterior já foram implicadas nos mecanismos da alexitimia. Comparado com o hemisfério esquerdo, o direito parece ser superior no processamento e organização da experiência emocional. A forma adquirida de alexitimia pode suceder secundariamente às lesões que ocorrem no território da artéria cerebral média direita (ACMD) e isto torna-se significativo porque pode alterar a apresentação tradicional de um quadro depressivo. Estudos no futuro deverão examinar se estas diferenças na localização da lesão e a sua influência na recuperação funcional poderão também fazer-se reflectir nos diferentes padrões de resposta ao tratamento, separadamente ou em conjunto.Introduction: Several behavioural changes can occur as a consequence of stroke. A large number of studies have evaluated the frequency and severity of post-stroke depression, apathy and alexithymia that result from stroke, however the published data is contradictory. Aims: The aim of this article is to present a literature review of the concepts of depression, apathy and alexithymia and post-stroke neuroanatomical findings that support these psychopathological observations. Methods: Literature review of selected articles and books deemed relevant by the authors, using Medline/Pubmed database with the combination of the following key-words: “stroke”, “apathy”, “alexithymia”, “depression”, published between 1973 and 2013. References of the selected articles and books were also considered. Results and Conclusions: After stroke, many patients are left with variable levels of disability, resulting in a mourning process, and this emotional response is thought to be a normative one to post-stroke problems. It has been understood that the depressive dimension is associated with left frontal lobe functioning (the so-called left frontal lobe theory), whereas the apathetic dimension is associated with the basal ganglia. The rate of apathy is lower in patients without previous cerebrovascular disease; the rate of ‘pure’ apathy (without concomitant depression) is twice as frequent as the rate of ‘pure’ depression (without concomitant apathy). Apathetic patients are more frequently and severely depressed and cognitively impaired in comparison to nonapathetic patients. The mechanisms underlying reduced emotional consciousness and emotional blunting following stroke of the MCA are still poorly understood. Apathy and adynamia can be attributed to lesions in the insula and basal ganglia, however reduced emotional awareness can occur as a consequence of changes in the cerebral activity of distant regions. Functional and structural alterations in the anterior cingulate cortex have been implicated with the mechanisms of alexithymia. The right hemisphere seems to be superior in the processing and organization of emotional experience when compared with the left hemisphere. Acquired alexithymia can occur as a consequence of lesions in the right MCA territory and this can be significant as it alters the traditional presentation of a depressive episode. Future research should evaluate if these differences in the lesion localization and their influence in functional recovery can, separately or together, originate different patterns of response to treatment.Departamento de Saúde Mental | Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, EPE2015-06-03T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articlehttps://doi.org/10.25752/psi.4463por2182-31461646-091XCorreia Pinto, Oriana Horta RendeiroRibeiro, Lúciainfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2022-05-16T14:11:56Zoai:ojs.revistas.rcaap.pt:article/4463Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T14:57:07.457723Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
dc.title.none.fl_str_mv |
Depressão, Apatia e Alexitimia Secundários ao Acidente Vascular Cerebral Depressão, Apatia e Alexitimia Secundários ao Acidente Vascular Cerebral |
title |
Depressão, Apatia e Alexitimia Secundários ao Acidente Vascular Cerebral |
spellingShingle |
Depressão, Apatia e Alexitimia Secundários ao Acidente Vascular Cerebral Correia Pinto, Oriana Horta Rendeiro Artigos de Revisão |
title_short |
Depressão, Apatia e Alexitimia Secundários ao Acidente Vascular Cerebral |
title_full |
Depressão, Apatia e Alexitimia Secundários ao Acidente Vascular Cerebral |
title_fullStr |
Depressão, Apatia e Alexitimia Secundários ao Acidente Vascular Cerebral |
title_full_unstemmed |
Depressão, Apatia e Alexitimia Secundários ao Acidente Vascular Cerebral |
title_sort |
Depressão, Apatia e Alexitimia Secundários ao Acidente Vascular Cerebral |
author |
Correia Pinto, Oriana Horta Rendeiro |
author_facet |
Correia Pinto, Oriana Horta Rendeiro Ribeiro, Lúcia |
author_role |
author |
author2 |
Ribeiro, Lúcia |
author2_role |
author |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Correia Pinto, Oriana Horta Rendeiro Ribeiro, Lúcia |
dc.subject.por.fl_str_mv |
Artigos de Revisão |
topic |
Artigos de Revisão |
description |
Introdução: São diversas as alterações comportamentais decorrentes do acidente vascular cerebral (AVC). Vários estudos avaliaram a frequência e gravidade de depressão, apatia e alexitimia consequente ao AVC, sendo os resultados publicados contraditórios. Objectivo: Este artigo pretende realizar uma revisão da literatura sobre os conceitos de depressão, apatia e alexitimia e sobre os correlatos neuroanatómicos, conhecidos até à data, que suportam estes achados psicopatológicos no pós-AVC. Métodos: Revisão não sistemática da literatura através da pesquisa em referências bibliográficas consideradas relevantes pelos autores suplementada por artigos obtidos através de pesquisa na base de dados Medline/Pubmed utilizando combinações das seguintes palavras-chave: “stroke”, “apathy”, “alexithymia”, “depression”, publicados entre 1973 e 2013. Foram ainda consultadas referências bibliográficas dos artigos obtidos e livros. Resultados e Conclusões: Após o AVC, muitos doentes sofrem de défices sequelares, resultando num processo de luto, sendo que esta resposta emocional considerada consequência normativa a problemas pós-AVC. Percebeu-se que a dimensão depressiva está associada com o funcionamento do lobo frontal esquerdo (a chamada “teoria do lobo frontal esquerdo”),contudo, a dimensão apática está associada com os gânglios da base. A taxa de apatia é mais baixa em pacientes sem doença cerebrovascular prévia, sendo que a apatia ‘pura’ (sem depressão concomitante) é duas vezes mais frequente que a taxa de depressão ‘pura’ (sem apatia concomitante). Doentes apáticos têm maior frequência de quadros depressivos graves e défice cognitivo quando comparados com os pacientes não-apáticos. Os mecanismos da consciência emocional reduzida e do embotamento expressivo após o AVC da artéria cerebral média são mal compreendidos. Enquanto que a apatia e a adinamia podem ser explicadas pela lesão tecidular na ínsula ou nos gânglios da base, a consciência emocional reduzida pode ter origem da alteração de actividade em regiões cerebrais distantes. As alterações funcionais e estruturais no córtex cingulado anterior já foram implicadas nos mecanismos da alexitimia. Comparado com o hemisfério esquerdo, o direito parece ser superior no processamento e organização da experiência emocional. A forma adquirida de alexitimia pode suceder secundariamente às lesões que ocorrem no território da artéria cerebral média direita (ACMD) e isto torna-se significativo porque pode alterar a apresentação tradicional de um quadro depressivo. Estudos no futuro deverão examinar se estas diferenças na localização da lesão e a sua influência na recuperação funcional poderão também fazer-se reflectir nos diferentes padrões de resposta ao tratamento, separadamente ou em conjunto. |
publishDate |
2015 |
dc.date.none.fl_str_mv |
2015-06-03T00:00:00Z |
dc.type.status.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/article |
format |
article |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
https://doi.org/10.25752/psi.4463 |
url |
https://doi.org/10.25752/psi.4463 |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.relation.none.fl_str_mv |
2182-3146 1646-091X |
dc.rights.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/openAccess |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.publisher.none.fl_str_mv |
Departamento de Saúde Mental | Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, EPE |
publisher.none.fl_str_mv |
Departamento de Saúde Mental | Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, EPE |
dc.source.none.fl_str_mv |
reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação instacron:RCAAP |
instname_str |
Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação |
instacron_str |
RCAAP |
institution |
RCAAP |
reponame_str |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
collection |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
repository.name.fl_str_mv |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação |
repository.mail.fl_str_mv |
|
_version_ |
1799129845147369472 |