Tradição e Modernidade na Baixa do Cassanje, 1961

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Correia, Fernando
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10362/101306
Resumo: Em Angola, o ano de 1961 foi marcado por uma crise social e política, que teve como antecedente próximo a mudança do paradigma que se repercutiu no plano colonial e jurídico e que levou à instituição do sistema das regedorias e, ao mesmo tempo, à designada revolta da Baixa do Kasanji. A causa dessa perturbação foi provavelmente determinada por motivos sociais, culturais e políticos, a saber: oposição dos povos à aculturação portuguesa; resistência ao regime do indigenato, cuja prática promoveu à inversão dos valores de família, pedra angular do cristianismo; concessão, em regime de monopólio, para a cultura e a comercialização do algodão à empresa Cotonang - Companhia do Algodão de Angola, SARL; trabalho forçado ou compelido; e a influência de seitas negras, como a de Simão Toco, de Simão Kimbangu ou, eventualmente, de Maria Nkoie, sacerdotisa congolesa que incitava os seus súbditos a revoltarem-se contra a presença dos europeus em África, o que pode ter resultado, nesse ano, na Revolta da Baixa do Kasanji (Parreira, 1990:146). Em razão estavam as acusações contra Portugal, por ter desenvolvido naquela área uma economia de trabalho forçado e pela imposição de uma vida de pobreza às populações locais. Com a revolta, seguiram-se manifestações com rituais messiânicos, iniciáticos, cânticos e preces em louvor ao nome de “Maria”, provavelmente como referente cristão à “virgem Maria” ou a “Fátima”, rainha espiritual de Portugal. As diferenças comportamentais entre Maholos da RDC e os Maholos da Baixa do Kasanji eram assinaladas pelos primeiros que mostravam um comportamento alegre e exuberante e, com isso, espalhavam o seu ideal independentista. Clamavam: “Africa para os Africanos” e, com isso, pretendiam erigir uma República que unisse, debaixo da mesma bandeira, a etnia dos Maholos. Os segundos, os Jingas, etnia maioritária da Baixa do Kasanji, mais urbanizados, mas infiltrados pelo PSA, buscaram na teologia cristã o auxílio de que necessitavam. Instruíram-se e tornaram-se fortes opositores à aculturação portuguesa. Assim, o objeto deste estudo é determinar as causas sociais e culturais que propiciaram transformações sociais e políticas dos povos da Baixa do Kasanji, favorecidas por alguns partidos existentes em territórios vizinhos, nomeadamente na RDC, ocorridas em tempo anterior do que se convencionou chamar de “A Revolta da Baixa do Kasanji”, ou seja, entre 1940 e 1961.
id RCAP_819f4a9a0dcfbe07dc7049eb14ccf90b
oai_identifier_str oai:run.unl.pt:10362/101306
network_acronym_str RCAP
network_name_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository_id_str 7160
spelling Tradição e Modernidade na Baixa do Cassanje, 1961AngolaHistóriaTradiçãoModernidadeGuerra ColonialBaixa do KasanjiMaholosJingasHistoryTraditionModernityColonial WarDowntown KasanjiDomínio/Área Científica::Humanidades::História e ArqueologiaEm Angola, o ano de 1961 foi marcado por uma crise social e política, que teve como antecedente próximo a mudança do paradigma que se repercutiu no plano colonial e jurídico e que levou à instituição do sistema das regedorias e, ao mesmo tempo, à designada revolta da Baixa do Kasanji. A causa dessa perturbação foi provavelmente determinada por motivos sociais, culturais e políticos, a saber: oposição dos povos à aculturação portuguesa; resistência ao regime do indigenato, cuja prática promoveu à inversão dos valores de família, pedra angular do cristianismo; concessão, em regime de monopólio, para a cultura e a comercialização do algodão à empresa Cotonang - Companhia do Algodão de Angola, SARL; trabalho forçado ou compelido; e a influência de seitas negras, como a de Simão Toco, de Simão Kimbangu ou, eventualmente, de Maria Nkoie, sacerdotisa congolesa que incitava os seus súbditos a revoltarem-se contra a presença dos europeus em África, o que pode ter resultado, nesse ano, na Revolta da Baixa do Kasanji (Parreira, 1990:146). Em razão estavam as acusações contra Portugal, por ter desenvolvido naquela área uma economia de trabalho forçado e pela imposição de uma vida de pobreza às populações locais. Com a revolta, seguiram-se manifestações com rituais messiânicos, iniciáticos, cânticos e preces em louvor ao nome de “Maria”, provavelmente como referente cristão à “virgem Maria” ou a “Fátima”, rainha espiritual de Portugal. As diferenças comportamentais entre Maholos da RDC e os Maholos da Baixa do Kasanji eram assinaladas pelos primeiros que mostravam um comportamento alegre e exuberante e, com isso, espalhavam o seu ideal independentista. Clamavam: “Africa para os Africanos” e, com isso, pretendiam erigir uma República que unisse, debaixo da mesma bandeira, a etnia dos Maholos. Os segundos, os Jingas, etnia maioritária da Baixa do Kasanji, mais urbanizados, mas infiltrados pelo PSA, buscaram na teologia cristã o auxílio de que necessitavam. Instruíram-se e tornaram-se fortes opositores à aculturação portuguesa. Assim, o objeto deste estudo é determinar as causas sociais e culturais que propiciaram transformações sociais e políticas dos povos da Baixa do Kasanji, favorecidas por alguns partidos existentes em territórios vizinhos, nomeadamente na RDC, ocorridas em tempo anterior do que se convencionou chamar de “A Revolta da Baixa do Kasanji”, ou seja, entre 1940 e 1961.In Angola, 1961 was marked by a social and political crisis, which had as a close precedent the change in the paradigm that had repercussions at the colonial and legal levels and which led to the establishment of the system of the regencies and, at the same time, to the designated revolt of Kasanji downtown. The cause of this disturbance was probably determined by social, cultural and political reasons, namely: People opposed to Portuguese acculturation; resistance to the indigent regime, whose practice promoted the inversion of family values, the cornerstone of Christianity; concession, under a monopoly regime, for cotton cultivation and commercialization to the company Cotonang - Companhia do Algodão de Angola, SARL; forced or compelled labor; and the influence of black sects, such as Simão Toco, Simão Kimbangu or, eventually, Maria Nkoie, Congolese priestess who incited her subjects to revolt against the presence of Europeans in Africa, which may have resulted in the Kasanji Uprising that year (Parreira, 1990:146). In reason were the accusations against Portugal, for having developed an economy of forced labor in that area and for the imposition of a life of poverty on the local populations. With the revolt, demonstrations followed with messianic rituals, initiatics, chants and prayers in praise of the name “Maria”, probably as a Christian referent to the “virgin Mary” or “Fátima”, spiritual queen of Portugal. The behavioral differences between Maholos of the CDR and the Maholos of Downtown Kasanji were pointed out by the first who showed a cheerful and exuberant behavior and, with that, spread their independence idealism. They claimed: “Africa for Africans” and, with that, they intended to build a Republic that would unite, under the same flag, the ethnicity of the Maholos. The latter, the Jingas, the preponderant ethnicity of Downtown Kasanji, more urbanized, but infiltrated by the PSA, sought in Christian theology the help they needed. They were educated and became strong opponents of Portuguese acculturation. Thus, the object of this study is to determine the social and cultural causes that led to the ideological contamination of the peoples of Downtown Kasanji, favored by some parties existing in neighboring territories, namely in the DRC, which took place before what was conventionally called “The Uprising of Downtown Kasanji”, that is, between 1940 and 1961.Fernandes, Paulo JorgeRUNCorreia, Fernando2020-07-23T11:39:44Z2020-05-292020-07-202020-05-29T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10362/101306TID:202489574porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-11T04:47:22Zoai:run.unl.pt:10362/101306Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T03:39:29.176199Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
dc.title.none.fl_str_mv Tradição e Modernidade na Baixa do Cassanje, 1961
title Tradição e Modernidade na Baixa do Cassanje, 1961
spellingShingle Tradição e Modernidade na Baixa do Cassanje, 1961
Correia, Fernando
Angola
História
Tradição
Modernidade
Guerra Colonial
Baixa do Kasanji
Maholos
Jingas
History
Tradition
Modernity
Colonial War
Downtown Kasanji
Domínio/Área Científica::Humanidades::História e Arqueologia
title_short Tradição e Modernidade na Baixa do Cassanje, 1961
title_full Tradição e Modernidade na Baixa do Cassanje, 1961
title_fullStr Tradição e Modernidade na Baixa do Cassanje, 1961
title_full_unstemmed Tradição e Modernidade na Baixa do Cassanje, 1961
title_sort Tradição e Modernidade na Baixa do Cassanje, 1961
author Correia, Fernando
author_facet Correia, Fernando
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Fernandes, Paulo Jorge
RUN
dc.contributor.author.fl_str_mv Correia, Fernando
dc.subject.por.fl_str_mv Angola
História
Tradição
Modernidade
Guerra Colonial
Baixa do Kasanji
Maholos
Jingas
History
Tradition
Modernity
Colonial War
Downtown Kasanji
Domínio/Área Científica::Humanidades::História e Arqueologia
topic Angola
História
Tradição
Modernidade
Guerra Colonial
Baixa do Kasanji
Maholos
Jingas
History
Tradition
Modernity
Colonial War
Downtown Kasanji
Domínio/Área Científica::Humanidades::História e Arqueologia
description Em Angola, o ano de 1961 foi marcado por uma crise social e política, que teve como antecedente próximo a mudança do paradigma que se repercutiu no plano colonial e jurídico e que levou à instituição do sistema das regedorias e, ao mesmo tempo, à designada revolta da Baixa do Kasanji. A causa dessa perturbação foi provavelmente determinada por motivos sociais, culturais e políticos, a saber: oposição dos povos à aculturação portuguesa; resistência ao regime do indigenato, cuja prática promoveu à inversão dos valores de família, pedra angular do cristianismo; concessão, em regime de monopólio, para a cultura e a comercialização do algodão à empresa Cotonang - Companhia do Algodão de Angola, SARL; trabalho forçado ou compelido; e a influência de seitas negras, como a de Simão Toco, de Simão Kimbangu ou, eventualmente, de Maria Nkoie, sacerdotisa congolesa que incitava os seus súbditos a revoltarem-se contra a presença dos europeus em África, o que pode ter resultado, nesse ano, na Revolta da Baixa do Kasanji (Parreira, 1990:146). Em razão estavam as acusações contra Portugal, por ter desenvolvido naquela área uma economia de trabalho forçado e pela imposição de uma vida de pobreza às populações locais. Com a revolta, seguiram-se manifestações com rituais messiânicos, iniciáticos, cânticos e preces em louvor ao nome de “Maria”, provavelmente como referente cristão à “virgem Maria” ou a “Fátima”, rainha espiritual de Portugal. As diferenças comportamentais entre Maholos da RDC e os Maholos da Baixa do Kasanji eram assinaladas pelos primeiros que mostravam um comportamento alegre e exuberante e, com isso, espalhavam o seu ideal independentista. Clamavam: “Africa para os Africanos” e, com isso, pretendiam erigir uma República que unisse, debaixo da mesma bandeira, a etnia dos Maholos. Os segundos, os Jingas, etnia maioritária da Baixa do Kasanji, mais urbanizados, mas infiltrados pelo PSA, buscaram na teologia cristã o auxílio de que necessitavam. Instruíram-se e tornaram-se fortes opositores à aculturação portuguesa. Assim, o objeto deste estudo é determinar as causas sociais e culturais que propiciaram transformações sociais e políticas dos povos da Baixa do Kasanji, favorecidas por alguns partidos existentes em territórios vizinhos, nomeadamente na RDC, ocorridas em tempo anterior do que se convencionou chamar de “A Revolta da Baixa do Kasanji”, ou seja, entre 1940 e 1961.
publishDate 2020
dc.date.none.fl_str_mv 2020-07-23T11:39:44Z
2020-05-29
2020-07-20
2020-05-29T00:00:00Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10362/101306
TID:202489574
url http://hdl.handle.net/10362/101306
identifier_str_mv TID:202489574
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron:RCAAP
instname_str Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron_str RCAAP
institution RCAAP
reponame_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
collection Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository.name.fl_str_mv Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1799138010613153792