O cinema de Joshua Oppenheimer: uma leitura a partir de Nietzsche e Dostoiévski
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2021 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10362/135940 |
Resumo: | Esta dissertação sugere uma leitura detalhada dos filmes The Act of Killing e The Look of Silence, realizados por Joshua Oppenheimer, a partir de Nietzsche e Dostoiévski. As duas obras em análise têm como temática central os atos cometidos durante o Massacre de 1965 na Indonésia. O principal objetivo do realizador é quebrar com a impunidade e ausência de responsabilização por parte dos agressores, oferecendo – com esse intuito - às vítimas, a hipótese de começar um debate até então impossível por força da índole dogmática do sistema autoritário vigente. No primeiro filme, Oppenheimer propõe aos agressores que encenem detalhadamente os atos por si perpetrados, com total liberdade e direção criativa, relembrando que lhes cabe somente a eles escolher o que incluem e o que deixam de fora, documentando todo o processo. Já no segundo, o realizador coloca-nos na ótica das vítimas que, vendo impossibilitado o diálogo aberto sobre os acontecimentos, têm apenas o silêncio como ferramenta de sobrevivência e o ressentimento como lembrete vívido do passado que a propaganda esconde. A nossa reflexão começa com uma breve contextualização histórica e sociocultural antes de abordarmos as problemáticas que surgem ao representar no cinema um massacre, acontecimento proibido de ser imaginado. Estabelecemos, então, uma relação com a representação da Shoah e como a imaginação e o olhar perspetivo podem iniciar um processo de julgamento moral. Seguidamente socorremo-nos de Nietzsche e das suas teses sobre objetividade, perspetivismo e interpretação para ilustrar a abordagem de Oppenheimer a agressores e suas vítimas. É através desta análise que tentamos provar a pertinência das obras enquanto reveladoras da autoilusão e da mentira narrativa empreendida pelo Governo indonésio sobre o Massacre de 1965. Por último, escrutinamos as ideias filosóficas e mecanismos psicológicos que os protagonistas desenvolvem como reação ao acontecimento. Para esse efeito, empregamos novamente a filosofia nietzschiana, bem como personagens da obra de Dostoiévski. Estas revelam-se fundamentais na compreensão das interpretações necessárias para minimizar o remorso dos agressores e, por outro lado, para que as vítimas suportem o silêncio a que foram sujeitas durante os quarenta anos que distam o Massacre da ação. A Anwar Congo e Adi Zukaldry – os agressores - comparamos Raskólnikov, de Crime e Castigo (2001) e Ivan Karamázov, de Os Irmãos Karamázov (2002), respetivamente, enquanto que a Adi Rukun – a vítima em foco e personificação de todos os lesados – equiparamos o homem do subterrâneo, de Memórias do Subterrâneo (2017). |
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O cinema de Joshua Oppenheimer: uma leitura a partir de Nietzsche e DostoiévskiCinemaJoshua OppenheimerNietzscheDostoiévskiInterpretaçãoOppenheimerinterpretationDomínio/Área Científica::Humanidades::Filosofia, Ética e ReligiãoEsta dissertação sugere uma leitura detalhada dos filmes The Act of Killing e The Look of Silence, realizados por Joshua Oppenheimer, a partir de Nietzsche e Dostoiévski. As duas obras em análise têm como temática central os atos cometidos durante o Massacre de 1965 na Indonésia. O principal objetivo do realizador é quebrar com a impunidade e ausência de responsabilização por parte dos agressores, oferecendo – com esse intuito - às vítimas, a hipótese de começar um debate até então impossível por força da índole dogmática do sistema autoritário vigente. No primeiro filme, Oppenheimer propõe aos agressores que encenem detalhadamente os atos por si perpetrados, com total liberdade e direção criativa, relembrando que lhes cabe somente a eles escolher o que incluem e o que deixam de fora, documentando todo o processo. Já no segundo, o realizador coloca-nos na ótica das vítimas que, vendo impossibilitado o diálogo aberto sobre os acontecimentos, têm apenas o silêncio como ferramenta de sobrevivência e o ressentimento como lembrete vívido do passado que a propaganda esconde. A nossa reflexão começa com uma breve contextualização histórica e sociocultural antes de abordarmos as problemáticas que surgem ao representar no cinema um massacre, acontecimento proibido de ser imaginado. Estabelecemos, então, uma relação com a representação da Shoah e como a imaginação e o olhar perspetivo podem iniciar um processo de julgamento moral. Seguidamente socorremo-nos de Nietzsche e das suas teses sobre objetividade, perspetivismo e interpretação para ilustrar a abordagem de Oppenheimer a agressores e suas vítimas. É através desta análise que tentamos provar a pertinência das obras enquanto reveladoras da autoilusão e da mentira narrativa empreendida pelo Governo indonésio sobre o Massacre de 1965. Por último, escrutinamos as ideias filosóficas e mecanismos psicológicos que os protagonistas desenvolvem como reação ao acontecimento. Para esse efeito, empregamos novamente a filosofia nietzschiana, bem como personagens da obra de Dostoiévski. Estas revelam-se fundamentais na compreensão das interpretações necessárias para minimizar o remorso dos agressores e, por outro lado, para que as vítimas suportem o silêncio a que foram sujeitas durante os quarenta anos que distam o Massacre da ação. A Anwar Congo e Adi Zukaldry – os agressores - comparamos Raskólnikov, de Crime e Castigo (2001) e Ivan Karamázov, de Os Irmãos Karamázov (2002), respetivamente, enquanto que a Adi Rukun – a vítima em foco e personificação de todos os lesados – equiparamos o homem do subterrâneo, de Memórias do Subterrâneo (2017).This essay presents a detailed reading of the documentaries The Act of Killing and The Look of Silence, directed by Joshua Oppenheimer, from the works of Nietzsche and Dostoevsky. Both films under analysis are centered on the acts carried out by death squads during the 1965 Massacre in Indonesia. The director's main objective is to do away with the impunity enjoyed by the perpetrators, as well as their general lack of accountability for their actions, by offering victims the chance to directly confront the people who murdered their relatives, tackling a taboo topic in the authoritarian Indonesian society. In the first documentary, Oppenheimer challenges the offenders by asking them to accurately portray their actions to their liking, relinquishing all creative control and reminding them they can choose what to include and what to leave out, documenting the entire process as it unfolds. The second movie focuses on the victim´s quest for justice and reconciliation with their own ressentiment imposed by the silence and indoctrination forced upon them by governmental propaganda. I briefly offer historical and cultural context before approaching the problematic of representing a massacre, an event barred from imagination. For that purpose, we turn to the representation of another massacre, the Shoah, and how imagination and perspectival seeing can initiate a process of moral judgement. I further enlist Nietzsche's help, particularly his work on objectivity, perspectivism and interpretation, to be able to illustrate Oppenheimer's approach to offenders and their victims. It is through this analysis that we attempt to prove the work´s pertinence as tools to unveil the narrative lies told by the Indonesian government ever since the events took place, as well as the theme of self-delusion. Finally, I explore the psychological mechanisms and philosophical ideas developed by the protagonists to cope with the event. To that effect, and still in alignment with Nietzschean philosophy, I equate our protagonists to three characters in Dostoevsky's work, in order to properly understand the necessary interpretations to minimize the offender´s remorse, and, on the other hand, to allow victims to endure such heavy silence from the time those actions initially take place to the present day. To Anwar Congo and Adi Zukaldry - the offenders - I compare Raskolnikov, from Crime and Punishment and Ivan Karamazov, from The Brothers Karamazov, respectively. For Adi Rukun - the victim in focus and personification of their plight - we turn to the underground man, from Notes from Underground.Stellino, PaoloConstâncio, JoãoRUNBarroco, Ana Maria Belo Cachola Resende2022-04-06T16:15:07Z2022-01-172021-08-092022-01-17T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10362/135940TID:202951618porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-05-22T18:00:58Zoai:run.unl.pt:10362/135940Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openairemluisa.alvim@gmail.comopendoar:71602024-05-22T18:00:58Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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