Evolução do ensino médico universitário na República da Guiné-Bissau 1985-2020
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Data de Publicação: | 2022 |
Outros Autores: | , , |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10362/148753 |
Resumo: | Introdução A República da Guiné-Bissau (RGB) apresenta um cenário de escassez e mal-distribuição dos recursos humanos da saúde (RHS). O ensino médico surge na RGB na década de 1980, destacando-se a Faculdade de Medicina Raúl Díaz-Argüelles García (FM), tutelada pela cooperação cubana. O presente trabalho teve por objetivo contribuir para uma proposta de oferta formativa mais adequada às necessidades deste Estado, partindo da análise do que se tem feito e dos resultados da implementação de iniciativas formativas, enquadrando-a nas tensões entre a colonialidade das parcerias internacionais e o realismo africano. Materiais e métodos Seguiu-se um modelo lógico construído para o efeito, recorrendo a uma abordagem de métodos mistos. Os dados foram recolhidos com recurso a um questionário misto aplicado a alunos do curso de medicina; a entrevistas semiestruturadas a atores chave em matéria de formação de RHS; a um grupo focal com personalidades ligadas ao ensino e gestão de RHS; a revisão narrativa da literatura publicada sobre a matéria; e a análise de documentos oficiais relacionados com o tema. Procedeu-se a análise de conteúdo dos dados qualitativos obtidos. Foram definidas seis categorias de análise de acordo com o modelo lógico do estudo. Procedeu-se a análise estatística descritiva dos dados quantitativos obtidos nos questionários. A apresentação de resultados e consequente discussão foram orientadas pelo modelo lógico do estudo. Resultados e discussão A RGB vive a realidade descrita para grande parte dos estados africanos que passa pela colonialidade do saber e dos mercados; limitada capacidade de formação de recursos humanos da saúde; falta de políticas adequadas para profissionais de saúde; e ausência de planos de formação em recursos humanos da saúde. Verifica-se um desfasamento entre produção e necessidades destes recursos, bem como entre qualidade e quantidade de quadros formados, realidades que espelham falhas de planeamento. Na sequência do contexto complexo observado, e associado à intervenção de atores dominante e relações de poder entre estes, a evolução do ensino médico na RGB resulta de uma convergência de planeamento estratégico deliberado e do reconhecimento de estratégias emergentes. A estratégia deliberada reflete-se de duas formas: num contexto de colonialidade, na tentativa deliberada de entrada de atores internacionais – concretamente a cooperação cubana; ou, numa perspetiva pan-africana de harmonização regional da formação. São conhecidas as limitações associadas à falta de um planeamento estratégico deliberado por parte da RGB. Apesar da proposta da CEDEAO para uma convergência regional em matéria de formação de RHS, na RGB sobressai a posição de colonialidade do ensino médico a par com um currículo académico não adaptado à realidade guineense. Conclusão A urgência da necessidade de a RGB desenvolver uma estratégia e um compromisso público com o ensino universitário, permitindo uma maior integração regional e uma oferta mais sustentável da formação médica, torna-se a grande conclusão deste trabalho. As soluções encontradas terão de ter em conta um contexto particularmente complexo e de grande fragilidade das instituições deste Estado, numa aposta de desconstrução da colonialidade do conhecimento, assumindo o realismo africano. |
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Evolução do ensino médico universitário na República da Guiné-Bissau 1985-2020Evolution of University Medical Education in the Republic of Guinea-Bissau 1985-2020Formação médica universitáriacooperação cubanacolonialidaderealismo africanorecursos humanos da SaúdeRepública da Guiné-BissauLA History of educationLB2300 Higher EducationR MedicineSDG 1 - No PovertySDG 3 - Good Health and Well-beingSDG 4 - Quality EducationIntrodução A República da Guiné-Bissau (RGB) apresenta um cenário de escassez e mal-distribuição dos recursos humanos da saúde (RHS). O ensino médico surge na RGB na década de 1980, destacando-se a Faculdade de Medicina Raúl Díaz-Argüelles García (FM), tutelada pela cooperação cubana. O presente trabalho teve por objetivo contribuir para uma proposta de oferta formativa mais adequada às necessidades deste Estado, partindo da análise do que se tem feito e dos resultados da implementação de iniciativas formativas, enquadrando-a nas tensões entre a colonialidade das parcerias internacionais e o realismo africano. Materiais e métodos Seguiu-se um modelo lógico construído para o efeito, recorrendo a uma abordagem de métodos mistos. Os dados foram recolhidos com recurso a um questionário misto aplicado a alunos do curso de medicina; a entrevistas semiestruturadas a atores chave em matéria de formação de RHS; a um grupo focal com personalidades ligadas ao ensino e gestão de RHS; a revisão narrativa da literatura publicada sobre a matéria; e a análise de documentos oficiais relacionados com o tema. Procedeu-se a análise de conteúdo dos dados qualitativos obtidos. Foram definidas seis categorias de análise de acordo com o modelo lógico do estudo. Procedeu-se a análise estatística descritiva dos dados quantitativos obtidos nos questionários. A apresentação de resultados e consequente discussão foram orientadas pelo modelo lógico do estudo. Resultados e discussão A RGB vive a realidade descrita para grande parte dos estados africanos que passa pela colonialidade do saber e dos mercados; limitada capacidade de formação de recursos humanos da saúde; falta de políticas adequadas para profissionais de saúde; e ausência de planos de formação em recursos humanos da saúde. Verifica-se um desfasamento entre produção e necessidades destes recursos, bem como entre qualidade e quantidade de quadros formados, realidades que espelham falhas de planeamento. Na sequência do contexto complexo observado, e associado à intervenção de atores dominante e relações de poder entre estes, a evolução do ensino médico na RGB resulta de uma convergência de planeamento estratégico deliberado e do reconhecimento de estratégias emergentes. A estratégia deliberada reflete-se de duas formas: num contexto de colonialidade, na tentativa deliberada de entrada de atores internacionais – concretamente a cooperação cubana; ou, numa perspetiva pan-africana de harmonização regional da formação. São conhecidas as limitações associadas à falta de um planeamento estratégico deliberado por parte da RGB. Apesar da proposta da CEDEAO para uma convergência regional em matéria de formação de RHS, na RGB sobressai a posição de colonialidade do ensino médico a par com um currículo académico não adaptado à realidade guineense. Conclusão A urgência da necessidade de a RGB desenvolver uma estratégia e um compromisso público com o ensino universitário, permitindo uma maior integração regional e uma oferta mais sustentável da formação médica, torna-se a grande conclusão deste trabalho. As soluções encontradas terão de ter em conta um contexto particularmente complexo e de grande fragilidade das instituições deste Estado, numa aposta de desconstrução da colonialidade do conhecimento, assumindo o realismo africano.Global Health and Tropical Medicine (GHTM)Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT)Population health, policies and services (PPS)Universidade NOVA de LisboaRUNSá Guerreiro, CátiaNeves, ClotildeSilva, Augusto Paulo SilvaFerrinho, P2023-02-06T22:18:05Z2022-10-222022-10-22T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/article17application/pdfhttp://hdl.handle.net/10362/148753por0303-7762PURE: 50146946https://doi.org/10.25761/anaisihmt.431info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-11T05:30:24Zoai:run.unl.pt:10362/148753Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T03:53:28.360958Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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