Deconstructing the Mirror: dystopian endings, science fiction and technology in Black Mirror (2011– )

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Ramos, Diana Alexandra Oliveira
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: eng
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10451/51372
Resumo: A presente dissertação aborda uma série de grande sucesso da plataforma de streaming Netflix, Black Mirror, reflectindo sobre os sentidos plurais do título adoptado e explorando episódios relevantes para a sua caracterização porque incidentes em tópicos fulcrais nas sociedades actuais e futuras. A Introdução apresenta a história da série e como a mesma começou a ser criada e produzida. Charlie Brooker e Annabel Jones conheceram-se quando ambos trabalhavam na empresa Endemol. A determinada altura, o chefe criativo do canal britânico Channel 4 questionou ambos sobre um novo projecto para o canal. Charlie Brooker explicou-lhe que gostaria de criar e produzir uma série em formato de antologia, semelhante a títulos como Tales of The Unexpected e The Twilight Zone, com episódios com a duração de cerca de uma hora. Apesar de “Fifteen Million Merits” ter sido o primeiro episódio a ser apresentado, a série terá ido para o ar com o primeiro episódio definido “The National Anthem”. Era algo ambicioso, uma vez que ninguém estava disposto a produzir séries antológicas, especialmente de ficção científica à data. A série foi um sucesso que cresceu ainda mais quando as primeiras duas temporadas foram lançadas nos Estados Unidos da América através da plataforma de streaming Netflix. O canal britânico não teria, no entanto, planos para renovação da série e os direitos da mesma terão sido ganhos pela plataforma Netflix num processo contratual com Charlie Brooker e Annabel Jones. Com um orçamento superior, os criadores da série passaram a conseguir produzir mais episódios – uma vez que anteriormente só conseguiam produzir três episódios por temporada, passando agora a seis – e a explorar conceitos que anteriormente não era possível. A terceira e quarta temporadas foram um enorme sucesso, bem recebidas pelo público e pela crítica especializada, com o episódio “San Junipero” a ganhar um prémio Emmy na categoria de “melhor filme televisivo”. Em 2018 é lançado um filme interactivo intitulado Black Mirror: Bandersnatch. O primeiro capítulo aborda a história da ficção científica e a sua relação com a série, bem como algumas definições do género. No que a estas diz respeito, são enunciadas três definições: a de Darko Suvin, que no seu artigo “On the poetics of Science Fiction” considera que ficção científica é um género no qual o universo apresentado é uma subversão e/ou alteração do universo vivido pelo autor; a de Robert A. Heinlein que no artigo “Science Fiction: Its Nature, Faults and Virtues” a define como uma especulação de eventos futuros numa visão realista e entendedora do método científico; e por Kingsley Amis que no seu livro New Maps of Hell identifica ficção científica como um modalidade de prosa que trabalha uma possibilidade de ocorrência, com base na inovação, tecnologia ou ciência de origem humana ou extraterrestre. Estas duas últimas definições são as escolhidas, uma vez que a série Black Mirror demonstra e especula sobre experiências dos nossos dias e a nossa relação com a tecnologia, criando cenários possíveis caso essa mesma relação não se modifique. O segundo capítulo explora algumas interpretações atribuídas ao espelho e ao reflexo de forma a se definir que tipo de espelho é apresentado em Black Mirror. São abordados vários mitos e especulações filosóficas, desde o mito de Narciso, que morre ao apaixonar-se pelo seu reflexo, passando pelo argumento filosófico de Platão e Aristóteles, até à representação do espelho em obras como a Branca de Neve e os Sete Anões (irmãos Grimm), O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde), O Senhor dos Anéis (J.R.R.Tolkien) ou Harry Potter e a Pedra Filosofal (J.K.Rowling). Black Mirror é então um espelho que especula o que pode acontecer de errado na relação entre máquina e humanos, assim como entre humanos que utilizam as máquinas e a tecnologia como arma, podendo reflectir uma visão não-ortodoxa da religião através de representações do Céu ou do Inferno em episódios como “San Junipero” e “White Christmas”. O espelho é também negro, não só por ser uma representação de um ecrã quando apagado, mas por ser, metaforicamente, a premonição de um mau futuro para os humanos, caso não mudem a sua relação com as máquinas. O terceiro capítulo aborda a associação entre a tecnologia e o que pode correr mal, não só na série como em obras anteriores. É mencionada a relação entre Frankenstein de Mary Shelley cujo monstro foi construído através de partes de vários cadáveres e, por exemplo, o roubo de cadáveres em cemitérios ingleses de forma a que a escola de medicina tivesse corpos para estudar — estabelecendo uma relação entre a ciência e o potencial comportamento nefasto do ser humano. No que diz respeito a esta relação, são analisado três episódios de Black Mirror destacando os elementos que espelham a vida real. O episódio “The Waldo Moment” conta a história de um comediante que através da sua personagem, Waldo, decide concorrer às eleições para deputado num concelho inglês criando uma série de problemas para os outros candidatos. O que torna o episódio tão interessante é a utilização do Waldo e da sua presença nas redes sociais para a manipulação das eleições, que no final do episódio se traduz na instauração de um regime totalitário. A ideia de que as eleições podem ser manipuladas através das redes sociais aquando da emissão do episódio era algo longínquo e difícil de acontecer, mas as eleições de 2016 nos Estados Unidos da América provaram que tal não é impossível. Outro episódio analisado foi o “Nosedive”, onde a personagem principal, Lacie, vive num mundo onde todas as acções são avaliadas nas redes sociais e cujas pontuações criam um efeito dominó na vida dela. Quando Lacie tenta subir a sua pontuação, acaba por sofrer as consequências das sua acções e a perda de pontos termina com a perda de liberdade, algo que nos dias de hoje já vai acontecendo em zonas da China devido ao sistema de pontos introduzido, articulado com uma rede governamental que produz consequências na vida das pessoas. O quarto capítulo trata da importância dos finais distópicos começando por uma breve explicação dos termos utopia e distopia. De forma a fazer uma melhor articulação entre as diferenças de ambos os géneros, é analisado um episódio utópico de Black Mirror: “San Junipero”. Este é o primeiro episódio da série com um final que se pode dizer positivo e o primeiro episódio a abordar uma relação homossexual. O episódio passa-se numa cidade virtual chamada San Junipero, onde a consciência de pessoas idosas e/ou em estado terminal pode, durante um determinado número de horas, viver e agir como se essas pessoas tivessem pouco mais de 20 anos. Há a possibilidade de a consciência ser colocada para sempre na plataforma aquando da morte do utilizador, tornando San Junipero uma versão tecnológica do Paraíso. Em contraponto, em episódios como “U.S.S. Callister”, a personagem principal tem a sua consciência presa numa plataforma similar, mas completamente sozinha, revelando-se um inferno tecnológico. A maioria dos episódios em Black Mirror possui finais distópicos que causam desconforto em quem assiste, servindo de aviso para o que pode acontecer se não forem tomadas medidas. Conclui-se, então, que a série Black Mirror é um espelho negro que tenta avisar o espectador do que pode acontecer devido à má utilização da tecnologia, permitindo espaço para mudança, algo que está de certa forma em curso. Por exemplo as empresas que detêm redes sociais como Facebook ou Twitter já estão a ser alertadas e obrigadas a deter serviços e algoritmos que permitam detectar notícias falsas. No que diz respeito ao futuro da série pouco se sabe, uma vez que os criadores Charlie Brooker e Annabel Jones abandonaram a produtora House of Tomorrow, que fazia parte da Endemol, e embora tenham um contrato exclusivo com a Netflix não existem novidades em relação a uma nova temporada.
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spelling Deconstructing the Mirror: dystopian endings, science fiction and technology in Black Mirror (2011– )Domínio/Área Científica::Humanidades::Línguas e LiteraturasA presente dissertação aborda uma série de grande sucesso da plataforma de streaming Netflix, Black Mirror, reflectindo sobre os sentidos plurais do título adoptado e explorando episódios relevantes para a sua caracterização porque incidentes em tópicos fulcrais nas sociedades actuais e futuras. A Introdução apresenta a história da série e como a mesma começou a ser criada e produzida. Charlie Brooker e Annabel Jones conheceram-se quando ambos trabalhavam na empresa Endemol. A determinada altura, o chefe criativo do canal britânico Channel 4 questionou ambos sobre um novo projecto para o canal. Charlie Brooker explicou-lhe que gostaria de criar e produzir uma série em formato de antologia, semelhante a títulos como Tales of The Unexpected e The Twilight Zone, com episódios com a duração de cerca de uma hora. Apesar de “Fifteen Million Merits” ter sido o primeiro episódio a ser apresentado, a série terá ido para o ar com o primeiro episódio definido “The National Anthem”. Era algo ambicioso, uma vez que ninguém estava disposto a produzir séries antológicas, especialmente de ficção científica à data. A série foi um sucesso que cresceu ainda mais quando as primeiras duas temporadas foram lançadas nos Estados Unidos da América através da plataforma de streaming Netflix. O canal britânico não teria, no entanto, planos para renovação da série e os direitos da mesma terão sido ganhos pela plataforma Netflix num processo contratual com Charlie Brooker e Annabel Jones. Com um orçamento superior, os criadores da série passaram a conseguir produzir mais episódios – uma vez que anteriormente só conseguiam produzir três episódios por temporada, passando agora a seis – e a explorar conceitos que anteriormente não era possível. A terceira e quarta temporadas foram um enorme sucesso, bem recebidas pelo público e pela crítica especializada, com o episódio “San Junipero” a ganhar um prémio Emmy na categoria de “melhor filme televisivo”. Em 2018 é lançado um filme interactivo intitulado Black Mirror: Bandersnatch. O primeiro capítulo aborda a história da ficção científica e a sua relação com a série, bem como algumas definições do género. No que a estas diz respeito, são enunciadas três definições: a de Darko Suvin, que no seu artigo “On the poetics of Science Fiction” considera que ficção científica é um género no qual o universo apresentado é uma subversão e/ou alteração do universo vivido pelo autor; a de Robert A. Heinlein que no artigo “Science Fiction: Its Nature, Faults and Virtues” a define como uma especulação de eventos futuros numa visão realista e entendedora do método científico; e por Kingsley Amis que no seu livro New Maps of Hell identifica ficção científica como um modalidade de prosa que trabalha uma possibilidade de ocorrência, com base na inovação, tecnologia ou ciência de origem humana ou extraterrestre. Estas duas últimas definições são as escolhidas, uma vez que a série Black Mirror demonstra e especula sobre experiências dos nossos dias e a nossa relação com a tecnologia, criando cenários possíveis caso essa mesma relação não se modifique. O segundo capítulo explora algumas interpretações atribuídas ao espelho e ao reflexo de forma a se definir que tipo de espelho é apresentado em Black Mirror. São abordados vários mitos e especulações filosóficas, desde o mito de Narciso, que morre ao apaixonar-se pelo seu reflexo, passando pelo argumento filosófico de Platão e Aristóteles, até à representação do espelho em obras como a Branca de Neve e os Sete Anões (irmãos Grimm), O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde), O Senhor dos Anéis (J.R.R.Tolkien) ou Harry Potter e a Pedra Filosofal (J.K.Rowling). Black Mirror é então um espelho que especula o que pode acontecer de errado na relação entre máquina e humanos, assim como entre humanos que utilizam as máquinas e a tecnologia como arma, podendo reflectir uma visão não-ortodoxa da religião através de representações do Céu ou do Inferno em episódios como “San Junipero” e “White Christmas”. O espelho é também negro, não só por ser uma representação de um ecrã quando apagado, mas por ser, metaforicamente, a premonição de um mau futuro para os humanos, caso não mudem a sua relação com as máquinas. O terceiro capítulo aborda a associação entre a tecnologia e o que pode correr mal, não só na série como em obras anteriores. É mencionada a relação entre Frankenstein de Mary Shelley cujo monstro foi construído através de partes de vários cadáveres e, por exemplo, o roubo de cadáveres em cemitérios ingleses de forma a que a escola de medicina tivesse corpos para estudar — estabelecendo uma relação entre a ciência e o potencial comportamento nefasto do ser humano. No que diz respeito a esta relação, são analisado três episódios de Black Mirror destacando os elementos que espelham a vida real. O episódio “The Waldo Moment” conta a história de um comediante que através da sua personagem, Waldo, decide concorrer às eleições para deputado num concelho inglês criando uma série de problemas para os outros candidatos. O que torna o episódio tão interessante é a utilização do Waldo e da sua presença nas redes sociais para a manipulação das eleições, que no final do episódio se traduz na instauração de um regime totalitário. A ideia de que as eleições podem ser manipuladas através das redes sociais aquando da emissão do episódio era algo longínquo e difícil de acontecer, mas as eleições de 2016 nos Estados Unidos da América provaram que tal não é impossível. Outro episódio analisado foi o “Nosedive”, onde a personagem principal, Lacie, vive num mundo onde todas as acções são avaliadas nas redes sociais e cujas pontuações criam um efeito dominó na vida dela. Quando Lacie tenta subir a sua pontuação, acaba por sofrer as consequências das sua acções e a perda de pontos termina com a perda de liberdade, algo que nos dias de hoje já vai acontecendo em zonas da China devido ao sistema de pontos introduzido, articulado com uma rede governamental que produz consequências na vida das pessoas. O quarto capítulo trata da importância dos finais distópicos começando por uma breve explicação dos termos utopia e distopia. De forma a fazer uma melhor articulação entre as diferenças de ambos os géneros, é analisado um episódio utópico de Black Mirror: “San Junipero”. Este é o primeiro episódio da série com um final que se pode dizer positivo e o primeiro episódio a abordar uma relação homossexual. O episódio passa-se numa cidade virtual chamada San Junipero, onde a consciência de pessoas idosas e/ou em estado terminal pode, durante um determinado número de horas, viver e agir como se essas pessoas tivessem pouco mais de 20 anos. Há a possibilidade de a consciência ser colocada para sempre na plataforma aquando da morte do utilizador, tornando San Junipero uma versão tecnológica do Paraíso. Em contraponto, em episódios como “U.S.S. Callister”, a personagem principal tem a sua consciência presa numa plataforma similar, mas completamente sozinha, revelando-se um inferno tecnológico. A maioria dos episódios em Black Mirror possui finais distópicos que causam desconforto em quem assiste, servindo de aviso para o que pode acontecer se não forem tomadas medidas. Conclui-se, então, que a série Black Mirror é um espelho negro que tenta avisar o espectador do que pode acontecer devido à má utilização da tecnologia, permitindo espaço para mudança, algo que está de certa forma em curso. Por exemplo as empresas que detêm redes sociais como Facebook ou Twitter já estão a ser alertadas e obrigadas a deter serviços e algoritmos que permitam detectar notícias falsas. No que diz respeito ao futuro da série pouco se sabe, uma vez que os criadores Charlie Brooker e Annabel Jones abandonaram a produtora House of Tomorrow, que fazia parte da Endemol, e embora tenham um contrato exclusivo com a Netflix não existem novidades em relação a uma nova temporada.This dissertation approaches the celebrated series, Black Mirror. It reflects on the multiple meanings of its title, and explores relevant episodes insofar they deal with topics pivotal to our current and future societies. Created in 2011 by Charlie Brooker and Annabel Jones, Black Mirror is an anthology TV Series that has captivated a great number of viewers throughout the years. Depicting various scenarios were the relationship between humans and technology is put to the test, the context of these episodes has gained attention. This dissertation aims to analyse this TV Series and explain the way in which the idea of mirror is represented and what it is representing. Divided into 4 Chapters, the introduction will provide the backstory to the series production, including the change from Channel 4 into Netflix. The first chapter will define Science Fiction and its history and how Black Mirror sets itself within the genre. The second chapter will briefly describe the concept of mirror throughout time, from the myth of Narcissus, to the views of Plato and Aristotle, to its fictional appropriations in works such as Oscar Wilde’s The Picture of Dorian Gray (1890), among other perspectives. The black screen of the mirror and the relationship with technology will be explored in the third chapter through the analysis of some episodes and what they are meant to convey. Lastly, the importance of the dystopian endings will be acknowledged in the fourth chapter, with a brief explanation of the concept of “dystopia”. The analysis of an illustrative utopian one utopian episode will highlight its contrast with the dystopian atmosphere of the others. The conclusion will summarise the ideas that the series conveys while explaining what type of mirror Black Mirror sets itself to be.Serras, Adelaide MeiraVarandas, AngélicaRepositório da Universidade de LisboaRamos, Diana Alexandra Oliveira2022-02-17T14:33:35Z2022-01-142021-09-152022-01-14T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10451/51372TID:202927873enginfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-11-08T16:56:02Zoai:repositorio.ul.pt:10451/51372Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T22:02:40.212794Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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Era algo ambicioso, uma vez que ninguém estava disposto a produzir séries antológicas, especialmente de ficção científica à data. A série foi um sucesso que cresceu ainda mais quando as primeiras duas temporadas foram lançadas nos Estados Unidos da América através da plataforma de streaming Netflix. O canal britânico não teria, no entanto, planos para renovação da série e os direitos da mesma terão sido ganhos pela plataforma Netflix num processo contratual com Charlie Brooker e Annabel Jones. Com um orçamento superior, os criadores da série passaram a conseguir produzir mais episódios – uma vez que anteriormente só conseguiam produzir três episódios por temporada, passando agora a seis – e a explorar conceitos que anteriormente não era possível. A terceira e quarta temporadas foram um enorme sucesso, bem recebidas pelo público e pela crítica especializada, com o episódio “San Junipero” a ganhar um prémio Emmy na categoria de “melhor filme televisivo”. Em 2018 é lançado um filme interactivo intitulado Black Mirror: Bandersnatch. O primeiro capítulo aborda a história da ficção científica e a sua relação com a série, bem como algumas definições do género. No que a estas diz respeito, são enunciadas três definições: a de Darko Suvin, que no seu artigo “On the poetics of Science Fiction” considera que ficção científica é um género no qual o universo apresentado é uma subversão e/ou alteração do universo vivido pelo autor; a de Robert A. Heinlein que no artigo “Science Fiction: Its Nature, Faults and Virtues” a define como uma especulação de eventos futuros numa visão realista e entendedora do método científico; e por Kingsley Amis que no seu livro New Maps of Hell identifica ficção científica como um modalidade de prosa que trabalha uma possibilidade de ocorrência, com base na inovação, tecnologia ou ciência de origem humana ou extraterrestre. Estas duas últimas definições são as escolhidas, uma vez que a série Black Mirror demonstra e especula sobre experiências dos nossos dias e a nossa relação com a tecnologia, criando cenários possíveis caso essa mesma relação não se modifique. O segundo capítulo explora algumas interpretações atribuídas ao espelho e ao reflexo de forma a se definir que tipo de espelho é apresentado em Black Mirror. São abordados vários mitos e especulações filosóficas, desde o mito de Narciso, que morre ao apaixonar-se pelo seu reflexo, passando pelo argumento filosófico de Platão e Aristóteles, até à representação do espelho em obras como a Branca de Neve e os Sete Anões (irmãos Grimm), O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde), O Senhor dos Anéis (J.R.R.Tolkien) ou Harry Potter e a Pedra Filosofal (J.K.Rowling). Black Mirror é então um espelho que especula o que pode acontecer de errado na relação entre máquina e humanos, assim como entre humanos que utilizam as máquinas e a tecnologia como arma, podendo reflectir uma visão não-ortodoxa da religião através de representações do Céu ou do Inferno em episódios como “San Junipero” e “White Christmas”. O espelho é também negro, não só por ser uma representação de um ecrã quando apagado, mas por ser, metaforicamente, a premonição de um mau futuro para os humanos, caso não mudem a sua relação com as máquinas. O terceiro capítulo aborda a associação entre a tecnologia e o que pode correr mal, não só na série como em obras anteriores. É mencionada a relação entre Frankenstein de Mary Shelley cujo monstro foi construído através de partes de vários cadáveres e, por exemplo, o roubo de cadáveres em cemitérios ingleses de forma a que a escola de medicina tivesse corpos para estudar — estabelecendo uma relação entre a ciência e o potencial comportamento nefasto do ser humano. No que diz respeito a esta relação, são analisado três episódios de Black Mirror destacando os elementos que espelham a vida real. O episódio “The Waldo Moment” conta a história de um comediante que através da sua personagem, Waldo, decide concorrer às eleições para deputado num concelho inglês criando uma série de problemas para os outros candidatos. O que torna o episódio tão interessante é a utilização do Waldo e da sua presença nas redes sociais para a manipulação das eleições, que no final do episódio se traduz na instauração de um regime totalitário. A ideia de que as eleições podem ser manipuladas através das redes sociais aquando da emissão do episódio era algo longínquo e difícil de acontecer, mas as eleições de 2016 nos Estados Unidos da América provaram que tal não é impossível. Outro episódio analisado foi o “Nosedive”, onde a personagem principal, Lacie, vive num mundo onde todas as acções são avaliadas nas redes sociais e cujas pontuações criam um efeito dominó na vida dela. Quando Lacie tenta subir a sua pontuação, acaba por sofrer as consequências das sua acções e a perda de pontos termina com a perda de liberdade, algo que nos dias de hoje já vai acontecendo em zonas da China devido ao sistema de pontos introduzido, articulado com uma rede governamental que produz consequências na vida das pessoas. O quarto capítulo trata da importância dos finais distópicos começando por uma breve explicação dos termos utopia e distopia. De forma a fazer uma melhor articulação entre as diferenças de ambos os géneros, é analisado um episódio utópico de Black Mirror: “San Junipero”. Este é o primeiro episódio da série com um final que se pode dizer positivo e o primeiro episódio a abordar uma relação homossexual. O episódio passa-se numa cidade virtual chamada San Junipero, onde a consciência de pessoas idosas e/ou em estado terminal pode, durante um determinado número de horas, viver e agir como se essas pessoas tivessem pouco mais de 20 anos. Há a possibilidade de a consciência ser colocada para sempre na plataforma aquando da morte do utilizador, tornando San Junipero uma versão tecnológica do Paraíso. Em contraponto, em episódios como “U.S.S. Callister”, a personagem principal tem a sua consciência presa numa plataforma similar, mas completamente sozinha, revelando-se um inferno tecnológico. A maioria dos episódios em Black Mirror possui finais distópicos que causam desconforto em quem assiste, servindo de aviso para o que pode acontecer se não forem tomadas medidas. Conclui-se, então, que a série Black Mirror é um espelho negro que tenta avisar o espectador do que pode acontecer devido à má utilização da tecnologia, permitindo espaço para mudança, algo que está de certa forma em curso. Por exemplo as empresas que detêm redes sociais como Facebook ou Twitter já estão a ser alertadas e obrigadas a deter serviços e algoritmos que permitam detectar notícias falsas. No que diz respeito ao futuro da série pouco se sabe, uma vez que os criadores Charlie Brooker e Annabel Jones abandonaram a produtora House of Tomorrow, que fazia parte da Endemol, e embora tenham um contrato exclusivo com a Netflix não existem novidades em relação a uma nova temporada.
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