Hilda Hilst e a "Obscena lucidez" : entre recepção e repressão

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Gigante, Matteo
Data de Publicação: 2016
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10451/27250
Resumo: Hilda Hilst dedicou-se durante 40 anos a uma complexa e exuberante criação poética, de prosa de ficção e teatro. No entanto, ao ver a sua obra marginalizada, confinada a um recanto do panorama literário brasileiro, quase sexagenária, em 1989, declara-se, citando Georges Bataille, “livre para fracassar”, proclamando um afastamento da “literatura séria”. Com este propósito, nasce uma provocação literária que se manifesta com a publicação de obras apresentadas como pornográficas. O anúncio cumpre-se a partir do ano 1990, quando publica os primeiros dois textos da denominada ‘tetralogia obscena’, O caderno rosa de Lori Lamby e Contos d’escárnio - Textos grotescos, e prossegue em 1991, com o lançamento de Cartas de um sedutor e, em 1992, com a recolha de contos Bufólicas. Uma parte da crítica e dos leitores indignar-se-ão pelo conteúdo e pelas escolhas linguísticas destes textos, outros conseguirão eduzir, nas entrelinhas, uma subtil crítica à sociedade contemporânea, ligada ao percurso intelectual começado pela autora em obras anteriores. Dito isto, o presente trabalho tenciona reconstruir criticamente a receção da produção hilstiana, com enfoque na prosa publicada entre os anos ’80 e ’90 e, nomeadamente, nos textos da tetralogia obscena e nas crónicas que a autora escreveu para o jornal campineiro Correio popular. Por isso, ao introduzir alguns detalhes biográficos, delineando a postura literária da escritora, o estudo deslocar-se-á para outra perspetiva, o ponto de vista dos Outros, segundo Sartre, atores indispensáveis na individuação e na afirmação da identidade. Ao analisar as críticas, destacaremos a intervenção da obra de Hilda Hilst no social e no profundo do ser humano. Esta tarefa prende-se assim, primeiramente, com o intuito de perscrutar nas críticas os tabus de quem, barricado num lugar de conforto, pretende dominar a sociedade através do moralismo. Ao mesmo tempo pretendemos, obviamente, estabelecer um confronto interpretativo com quem soube entender o valor e a complexidade da obra hilstiana, desconstruindo, numa perspetiva dialógica e comparativa, as banalizações e as estigmatizações dos detratores.
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spelling Hilda Hilst e a "Obscena lucidez" : entre recepção e repressãoHilst, Hilda, 1930-2004 - Crítica e interpretaçãoLiteratura brasileira - séc.20 - História e críticaTeses de mestrado - 2017Domínio/Área Científica::Humanidades::Línguas e LiteraturasHilda Hilst dedicou-se durante 40 anos a uma complexa e exuberante criação poética, de prosa de ficção e teatro. No entanto, ao ver a sua obra marginalizada, confinada a um recanto do panorama literário brasileiro, quase sexagenária, em 1989, declara-se, citando Georges Bataille, “livre para fracassar”, proclamando um afastamento da “literatura séria”. Com este propósito, nasce uma provocação literária que se manifesta com a publicação de obras apresentadas como pornográficas. O anúncio cumpre-se a partir do ano 1990, quando publica os primeiros dois textos da denominada ‘tetralogia obscena’, O caderno rosa de Lori Lamby e Contos d’escárnio - Textos grotescos, e prossegue em 1991, com o lançamento de Cartas de um sedutor e, em 1992, com a recolha de contos Bufólicas. Uma parte da crítica e dos leitores indignar-se-ão pelo conteúdo e pelas escolhas linguísticas destes textos, outros conseguirão eduzir, nas entrelinhas, uma subtil crítica à sociedade contemporânea, ligada ao percurso intelectual começado pela autora em obras anteriores. Dito isto, o presente trabalho tenciona reconstruir criticamente a receção da produção hilstiana, com enfoque na prosa publicada entre os anos ’80 e ’90 e, nomeadamente, nos textos da tetralogia obscena e nas crónicas que a autora escreveu para o jornal campineiro Correio popular. Por isso, ao introduzir alguns detalhes biográficos, delineando a postura literária da escritora, o estudo deslocar-se-á para outra perspetiva, o ponto de vista dos Outros, segundo Sartre, atores indispensáveis na individuação e na afirmação da identidade. Ao analisar as críticas, destacaremos a intervenção da obra de Hilda Hilst no social e no profundo do ser humano. Esta tarefa prende-se assim, primeiramente, com o intuito de perscrutar nas críticas os tabus de quem, barricado num lugar de conforto, pretende dominar a sociedade através do moralismo. Ao mesmo tempo pretendemos, obviamente, estabelecer um confronto interpretativo com quem soube entender o valor e a complexidade da obra hilstiana, desconstruindo, numa perspetiva dialógica e comparativa, as banalizações e as estigmatizações dos detratores.Hilda Hilst si dedicò per 40 anni a una complessa ed esuberante creazione poetica, di prosa e di teatro. Nonostante ciò, osservando l’emarginazione della sua opera, relegata in un angolo del panorama letterario brasiliano, quasi sessantenne, nel 1989, si dichiara, citando Georges Bataille, “libera di fallire”, proclamando un’allontanamento dalla “letteratura seria”. Da questo annuncio nasce una provocazione che si manifesta con la pubblicazione di opere presentate come pornografiche. Questo pronostico si concretizza nel 1990, quando pubblica i primi due testi della cosidetta ‘tetralogia oscena’, O caderno rosa de Lori Lamby, tradotto in italiano come Il quaderno rosa di Lori Lamby e Contos d’escárnio - Textos grotescos e prosegue nel 1991 con la pubblicazione di Cartas de um sedutor a cui si aggiunge, nel 1992, l’antologia di racconti Bufólicas. Una parte della critica e dei lettori si indignerà per il contenuto e per le scelte linguistiche di questi testi, altri riusciranno ad intercettare, tra le righe, una sottile critica della società contemporanea ripercorrendo il cammino intellettuale cominciato dall’autrice in opere pregresse. Detto ciò, il presente studio intende ripercorrere la ricezione dell’opera hilstiana, rivolgendo una particolare attenzione alla prosa pubblicata tra gli anni ’80 e ’90 e sopratutto, ai testi della tetralogia oscena e alle cronache scritte per il giornale Correio popular. Perciò, introducendo alcuni dettagli biografici e la personalità della scrittrice, considerando alcune interviste concesse alla stampa e alla televisione, lo studio si sposterà da un’altra prospettiva, il punto di vista degli Altri, secondo Sartre, agenti indispensabili nel processo di individuazione e affermazione dell’identità. Analizzando le critiche sceglieremo dei topici utili ad una riflessione che evidenzi l’intervento dell’opera di Hilda Hilst nella società e negli abissi dell’essere umano. Questo compito si ascrive quindi al fine di intercettare nelle critiche i tabù di chi, barricato in un perimetro di conforto, pretende dominare la società attraverso il moralismo. Allo stesso tempo intendiamo ovviamente stabilire un confronto interpretativo con chi ha saputo comprendere il valore e la complessità dell’opera hilstiana, decostruendo, in una prospettiva dialogica e comparativa, le banalità e le stigmatizzazioni esposte dai detrattori.Martínez Teixeiro, AlvaRepositório da Universidade de LisboaGigante, Matteo2017-03-21T09:50:35Z2017-01-2520162017-01-25T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10451/27250TID:201612895porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-11-08T16:17:57Zoai:repositorio.ul.pt:10451/27250Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T21:43:42.498138Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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Gigante, Matteo
Hilst, Hilda, 1930-2004 - Crítica e interpretação
Literatura brasileira - séc.20 - História e crítica
Teses de mestrado - 2017
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