A Anestesiologia e a Medicina Intensiva / Secção de Medicina Intensiva da SPA – fundamentos para a sua criação
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2014 |
Outros Autores: | |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | https://doi.org/10.25751/rspa.3561 |
Resumo: | É inquestionável a importância do papel da Anestesiologia moderna como vasta área da ciência médica que reúne o conhecimento no âmbito da Anestesia e Medicina do Peri-operatório, da Medicina Intensiva, da Medicina da Dor e da Medicina de Emergência. Em Portugal, na ausência de médicos diferenciados em Medicina Pré-Hospitalar, verifica-se que mais de 65% dos médicos que trabalham nas Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação são Anestesiologistas. Da mesma forma, a grande maioria das Unidades de Dor são parte integrante dos Serviços de Anestesiologia. Os Anestesiologistas foram, adicionalmente, pioneiros no desenvolvimento da Medicina do Doente Crítico, muito embora representem actualmente uma pequena percentagem de médicos vocacionados para os Cuidados Intensivos. A sondagem COMPACCS (Commitee on Manpower for Pulmonary and Critical Care Medicine),1 desenvolvida entre 1996 e 1999, verificou que os Anestesiologistas representavam apenas 6,1% de todos os Intensivistas a exercerem nos Estados Unidos, apesar de se encontrarem particularmente treinados para a abordagem do Doente Crítico. Esta tendência também se verifica na Europa e surge numa altura em que há uma recorrente necessidade de Intensivistas. Na maior parte dos Estados-Membros da União Europeia os Cuidados Intensivos são um componente integral do Internato de Anestesiologia. Adicionalmente, os Anestesiologistas são frequentemente chamados para papéis organizacionais na maioria das Unidades de Cuidados Intensivos (UCIs). As Necessidades da Medicina Perioperatória Em entrevista dada à ao jornal Público em Outubro de 2010, por ocasião das comemorações do Dia Mundial da Anestesiologia, o Presidente da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia Dr. Lucindo Ormonde referia que, à época em Portugal, existiam menos de metade dos Anestesiologistas necessários. Esta poderá ser uma das razões que fez diminuir a representação dos Anestesiologistas nas UCI’s, uma vez que, na escassez, são muitas vezes redireccionados para o Bloco Operatório, onde a sua ausência pode acarretar perdas mais visíveis para as Instituições Hospitalares. Estas medidas economicistas podem, em última análise, fazer com que a Anestesiologia se torne uma Especialidade mais limitada. Como reconhecimento da importância da Medicina Intensiva nas boas práticas do Anestesiologista, foi recentemente modificada a estrutura do Internato de Especialidade: A Portaria n.º 49/2011 de 26 de Janeiro, tendo em consideração o desenvolvimento da especialidade e a sua diferenciação em novas áreas, aumentou para cinco anos o tempo mínimo de formação e o estágio de Medicina Intensiva para “9-12 meses sendo que, pelo menos 6 meses consecutivos em Unidade/Serviço Polivalente”. 2 Esta importante medida, é um reforço do peso do Anestesiologista, no tratamento do doente crítico e na sua formação como Especialista do peri-operatório. A Realidade dos Cuidados Intensivos em Portugal Em Portugal existem mais de 150 Serviços Hospitalares que prestam Cuidados Intensivos, no entanto o número de Unidades de nível C é substancialmente menor. Desconhece-se o número exacto de Anestesiologistas a exercerem a sua actividade em tempo total ou parcial nas Unidades de Cuidados Intensivos, Unidades de Cuidados Intermédios e Unidades de Cuidados Pós-Operatórios. É contudo uma realidade, que o número de Anestesiologistas afecto a tão importante actividade e a uma área onde a Anestesiologia é perita, tem vindo a diminuir ao longo dos últimos anos. Em Fevereiro de 2011, encontravam-se apenas 68 Anestesiologistas inscritos no Colégio de Medicina Intensiva e destes, um número significativo, não dedicado aos Cuidados Intensivos. Não pode ser ignorado o desejo de vários autores 3 e da atual direção do Colégio da Subespecialidade de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos, (composta por sete elementos, não sendo nenhum Anestesiologista), da criação da Especialidade Primária de Medicina Intensiva. A Sociedade Europeia de Anestesiologia (ESA), o Conselho Europeu de Anestesiologia da UEMS (EBA) e o Comité Multidisciplinar dos Cuidados Intensivos da UEMS (MJCIM) são contra esta proposta. O Colégio de Anestesiologia da Ordem dos Médicos e a Sociedade Portuguesa de Anestesiologia, concomitantemente, manifestaram também publicamente, a sua discórdia contra esta iniciativa. Como referem Hugo Van Aken, Jannicke Mellin-Olsen e Paolo Pelosi no editorial do Nº28 do European Journal of Anaesthesiology de 2011, os Cuidados Intensivos são considerados como uma área demasiado complexa para ser abordada por uma única especialidade. 4 A estreita cooperação entre médicos de várias especialidades é, indiscutivelmente, um valor acrescido nos cuidados a prestar ao doente crítico e um património que não pode ser delapidado. A Medicina Intensiva como uma especialidade primária, em vez de subespecialidade, tenderia a impedir esta mútua comunicação e colaboração entre profissionais de diferentes áreas, com conhecimento específico, experiência e habilidades complementares. Por isso, nesta altura conturbada, recebemos com agrado a notícia do Tema do próximo Congresso Anual da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia, intitulado “Doente Crítico”. Acreditamos que se trata de um reconhecimento merecido por parte da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia aos Anestesiologistas que desenvolvem a sua actividade nas Unidades de Cuidados Críticos, em todas as suas vertentes. A criação da Secção de Medicina Intensiva da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia, como pólo aglutinador e dinamizador de todos os interessados nesta área do saber médico, torna-se assim imperativa no contexto actual, onde a influência, o interesse e a participação dos Anestesiologistas na área da Medicina Intensiva tem vindo a decrescer de ano para ano. Referências: • Cooper RA. The COMPACCS Study: questions left unanswered. The Committee on Manpower for Pulmonary and Critical Care Societies. Am J Respir Crit Care Med. 2001 Jan;163(1):10-1. • Diário da República, 1.ª série — N.º 18 — 26 de Janeiro de 2011. • Moreno RP, Rhodes A. Intensive care medicine: a specialty coming to LIFE. Lancet 2010; 376:1275–1276. • Hugo Van Aken, Jannicke Mellin-Olsen and Paolo Pelosi: Intensive care medicine: a multidisciplinary approach! Eur J Anaesthesiol 2011; 28:313-315. |
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Como reconhecimento da importância da Medicina Intensiva nas boas práticas do Anestesiologista, foi recentemente modificada a estrutura do Internato de Especialidade: A Portaria n.º 49/2011 de 26 de Janeiro, tendo em consideração o desenvolvimento da especialidade e a sua diferenciação em novas áreas, aumentou para cinco anos o tempo mínimo de formação e o estágio de Medicina Intensiva para “9-12 meses sendo que, pelo menos 6 meses consecutivos em Unidade/Serviço Polivalente”. 2 Esta importante medida, é um reforço do peso do Anestesiologista, no tratamento do doente crítico e na sua formação como Especialista do peri-operatório. A Realidade dos Cuidados Intensivos em Portugal Em Portugal existem mais de 150 Serviços Hospitalares que prestam Cuidados Intensivos, no entanto o número de Unidades de nível C é substancialmente menor. 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A sondagem COMPACCS (Commitee on Manpower for Pulmonary and Critical Care Medicine),1 desenvolvida entre 1996 e 1999, verificou que os Anestesiologistas representavam apenas 6,1% de todos os Intensivistas a exercerem nos Estados Unidos, apesar de se encontrarem particularmente treinados para a abordagem do Doente Crítico. Esta tendência também se verifica na Europa e surge numa altura em que há uma recorrente necessidade de Intensivistas. Na maior parte dos Estados-Membros da União Europeia os Cuidados Intensivos são um componente integral do Internato de Anestesiologia. Adicionalmente, os Anestesiologistas são frequentemente chamados para papéis organizacionais na maioria das Unidades de Cuidados Intensivos (UCIs). As Necessidades da Medicina Perioperatória Em entrevista dada à ao jornal Público em Outubro de 2010, por ocasião das comemorações do Dia Mundial da Anestesiologia, o Presidente da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia Dr. Lucindo Ormonde referia que, à época em Portugal, existiam menos de metade dos Anestesiologistas necessários. Esta poderá ser uma das razões que fez diminuir a representação dos Anestesiologistas nas UCI’s, uma vez que, na escassez, são muitas vezes redireccionados para o Bloco Operatório, onde a sua ausência pode acarretar perdas mais visíveis para as Instituições Hospitalares. Estas medidas economicistas podem, em última análise, fazer com que a Anestesiologia se torne uma Especialidade mais limitada. Como reconhecimento da importância da Medicina Intensiva nas boas práticas do Anestesiologista, foi recentemente modificada a estrutura do Internato de Especialidade: A Portaria n.º 49/2011 de 26 de Janeiro, tendo em consideração o desenvolvimento da especialidade e a sua diferenciação em novas áreas, aumentou para cinco anos o tempo mínimo de formação e o estágio de Medicina Intensiva para “9-12 meses sendo que, pelo menos 6 meses consecutivos em Unidade/Serviço Polivalente”. 2 Esta importante medida, é um reforço do peso do Anestesiologista, no tratamento do doente crítico e na sua formação como Especialista do peri-operatório. A Realidade dos Cuidados Intensivos em Portugal Em Portugal existem mais de 150 Serviços Hospitalares que prestam Cuidados Intensivos, no entanto o número de Unidades de nível C é substancialmente menor. Desconhece-se o número exacto de Anestesiologistas a exercerem a sua actividade em tempo total ou parcial nas Unidades de Cuidados Intensivos, Unidades de Cuidados Intermédios e Unidades de Cuidados Pós-Operatórios. É contudo uma realidade, que o número de Anestesiologistas afecto a tão importante actividade e a uma área onde a Anestesiologia é perita, tem vindo a diminuir ao longo dos últimos anos. Em Fevereiro de 2011, encontravam-se apenas 68 Anestesiologistas inscritos no Colégio de Medicina Intensiva e destes, um número significativo, não dedicado aos Cuidados Intensivos. Não pode ser ignorado o desejo de vários autores 3 e da atual direção do Colégio da Subespecialidade de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos, (composta por sete elementos, não sendo nenhum Anestesiologista), da criação da Especialidade Primária de Medicina Intensiva. A Sociedade Europeia de Anestesiologia (ESA), o Conselho Europeu de Anestesiologia da UEMS (EBA) e o Comité Multidisciplinar dos Cuidados Intensivos da UEMS (MJCIM) são contra esta proposta. O Colégio de Anestesiologia da Ordem dos Médicos e a Sociedade Portuguesa de Anestesiologia, concomitantemente, manifestaram também publicamente, a sua discórdia contra esta iniciativa. Como referem Hugo Van Aken, Jannicke Mellin-Olsen e Paolo Pelosi no editorial do Nº28 do European Journal of Anaesthesiology de 2011, os Cuidados Intensivos são considerados como uma área demasiado complexa para ser abordada por uma única especialidade. 4 A estreita cooperação entre médicos de várias especialidades é, indiscutivelmente, um valor acrescido nos cuidados a prestar ao doente crítico e um património que não pode ser delapidado. A Medicina Intensiva como uma especialidade primária, em vez de subespecialidade, tenderia a impedir esta mútua comunicação e colaboração entre profissionais de diferentes áreas, com conhecimento específico, experiência e habilidades complementares. Por isso, nesta altura conturbada, recebemos com agrado a notícia do Tema do próximo Congresso Anual da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia, intitulado “Doente Crítico”. Acreditamos que se trata de um reconhecimento merecido por parte da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia aos Anestesiologistas que desenvolvem a sua actividade nas Unidades de Cuidados Críticos, em todas as suas vertentes. A criação da Secção de Medicina Intensiva da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia, como pólo aglutinador e dinamizador de todos os interessados nesta área do saber médico, torna-se assim imperativa no contexto actual, onde a influência, o interesse e a participação dos Anestesiologistas na área da Medicina Intensiva tem vindo a decrescer de ano para ano. Referências: • Cooper RA. The COMPACCS Study: questions left unanswered. The Committee on Manpower for Pulmonary and Critical Care Societies. Am J Respir Crit Care Med. 2001 Jan;163(1):10-1. • Diário da República, 1.ª série — N.º 18 — 26 de Janeiro de 2011. • Moreno RP, Rhodes A. Intensive care medicine: a specialty coming to LIFE. Lancet 2010; 376:1275–1276. • Hugo Van Aken, Jannicke Mellin-Olsen and Paolo Pelosi: Intensive care medicine: a multidisciplinary approach! Eur J Anaesthesiol 2011; 28:313-315. |
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