‘Um ódio tão intenso…’. Temos de falar sobre o Kevin. Pós-feminismo e cinema feminino
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2015 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | https://doi.org/10.21814/rlec.80 |
Resumo: | Este artigo explora o filme de 2011 de Lynne Ramsay, Temos de Falar Sobre o Kevin, no contexto daquilo que foi designado “novo mamaísmo” e à luz dos principais debates feministas sobre representação materna, genealogia matriarcal, produção cultural feminista e melodrama clássico e contemporâneo. O “novo mamaísmo”, argumentaram os críticos, constitui um regresso pós-feminista à imagem idealizada da feminilidade doméstica que dominou a América dos anos 50 do século XX. A diferença é que a maternidade intensiva é, agora, vista como uma escolha iluminada da mulher livre, um argumento que permite mascarar a centralidade continuada de um dualismo de género que determina, quer as nossas estruturas institucionais, quer as nossas fantasias públicas. Defendendo que o filme de Ramsay deve ser visto como sendo parte de uma tradição feminista de realização cinematográfica que sujeita a uma reapreciação crítica, quer estas fantasias públicas, quer a forma do melodrama materno em cuja corporalidade se encontram normalmente inscritas, o artigo analisa pormenorizadamente a exploração, pelo filme, das questões de identidade feminina, agência e controlo. Ao contrário do que acontece com os seus antecessores, defende-se, Ramsay convida-nos a habitar a subjetividade fraturada, o ódio e o sentimento de culpa da mãe nesta exploração. Embora não exista, como afirmou Ramsay, uma “redenção” fácil no final do filme, o seu fim leva-nos para além das fantasias gémeas do masoquismo materno pós-feminista e da agência feminista não problemática, no sentido de uma possibilidade de subjetividade que poderá aceitar, mais do que negar, o incontrolável desarranjo da corporalidade materna. |
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‘Um ódio tão intenso…’. Temos de falar sobre o Kevin. Pós-feminismo e cinema feminino‘A hatred so intense…’. We need to talk about Kevin. Postfeminism and women’s cinemaArtigos temáticosEste artigo explora o filme de 2011 de Lynne Ramsay, Temos de Falar Sobre o Kevin, no contexto daquilo que foi designado “novo mamaísmo” e à luz dos principais debates feministas sobre representação materna, genealogia matriarcal, produção cultural feminista e melodrama clássico e contemporâneo. O “novo mamaísmo”, argumentaram os críticos, constitui um regresso pós-feminista à imagem idealizada da feminilidade doméstica que dominou a América dos anos 50 do século XX. A diferença é que a maternidade intensiva é, agora, vista como uma escolha iluminada da mulher livre, um argumento que permite mascarar a centralidade continuada de um dualismo de género que determina, quer as nossas estruturas institucionais, quer as nossas fantasias públicas. Defendendo que o filme de Ramsay deve ser visto como sendo parte de uma tradição feminista de realização cinematográfica que sujeita a uma reapreciação crítica, quer estas fantasias públicas, quer a forma do melodrama materno em cuja corporalidade se encontram normalmente inscritas, o artigo analisa pormenorizadamente a exploração, pelo filme, das questões de identidade feminina, agência e controlo. Ao contrário do que acontece com os seus antecessores, defende-se, Ramsay convida-nos a habitar a subjetividade fraturada, o ódio e o sentimento de culpa da mãe nesta exploração. Embora não exista, como afirmou Ramsay, uma “redenção” fácil no final do filme, o seu fim leva-nos para além das fantasias gémeas do masoquismo materno pós-feminista e da agência feminista não problemática, no sentido de uma possibilidade de subjetividade que poderá aceitar, mais do que negar, o incontrolável desarranjo da corporalidade materna.This article explores Lynne Ramsay’s 2011 film, We Need to Talk about Kevin, in the context of what has been called the ‘new momism’, and in the light of key feminist debates about maternal representation, matriarchal genealogy, feminist cultural production, and classical and contemporary melodrama. The ‘new momism’, critics have argued, constitutes a postfeminist return to the idealized image of domestic femininity that dominated 1950s America. The difference is that intensive mothering is now seen to be the liberated woman’s enlightened choice, a claim that serves to mask the continued centrality of a gender dualism that determines both our institutional structures and our public fantasies. Arguing that Ramsay’s film should be seen as part of a feminist tradition of filmmaking which subjects to critical reappraisal both these public fantasies and the form of the maternal melodrama in which they are commonly embodied, the article analyses in detail the film’s exploration of issues of female identity, agency and control. Unlike her predecessors, it argues, Ramsay invites us to inhabit the fractured subjectivity, hate, and sense of guilt of the mother in this exploration. Although there is, as Ramsay has commented, no easy ‘redemption’ at the end of the film, its ending points us beyond the twin fantasies of postfeminist maternal masochism and unproblematic feminist agency and towards the possibility of a subjectivity which might accept rather than deny the uncontrollable messiness of maternal embodiment.Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da Universidade do Minho2015-06-18T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articlehttps://doi.org/10.21814/rlec.80por2183-08862184-0458Thornham, Sueinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2022-09-22T16:20:13Zoai:journals.uminho.pt:article/1779Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T15:59:15.163735Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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