A Casa Palmela e o desafio liberal : estratégias de afirmação

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Urbano, Pedro
Data de Publicação: 2005
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10362/63682
Resumo: O debate acerca do impacto do Liberalismo na antiga sociedade de ordens foi relançado no início dos anos 80 do século XX com a obra de Arno Mayer. Até então, tendia-se a exaltar a ruptura com o período imediatamente antecedente, traduzindo-se numa absorção ou aniquilamento da aristocracia por parte da burguesia emergente. Este autor procurou, no entanto, demonstrar as continuidades do Antigo Regime, ao longo de todo o século XIX e, inclusive, o vigor e a capacidade da aristocracia de se adaptar às novas condições políticas2. De facto, a nobreza continuava a ser a principal proprietária fundiária, o que se traduzia na possibilidade de uma educação, de um estilo de vida, de uma mentalidade e de um código de conduta identificadores de si mesma. Para lá das diferenças resultantes do nascimento, da fortuna e da influência junto da sociedade civil e política, a coesão do grupo mantinha-se devido à existência dos mesmos interesses materiais e a partilha da mesma visão do mundo, que era facilitada precisamente não só pela sua posição política, social e cultural privilegiada, mas igualmente pela sua pujança económica que, apesar de se encontrar em declínio, permanecia importante. Perdeu parte das suas prerrogativas militares, administrativas e jurídicas, mas manteve a sua consciência enquanto grupo, o que permitiu manter a sua preponderância face à burguesia em ascensão, mas, no confronto entre ambas, terá sido esta que se teve de adaptar à antiga ordem e que acabou por se moldar ao padrão nobre. A persistência da nobreza permitiu-lhe tirar partido da ambição da burguesia em se promover, permitindo que se verificasse uma mais generalizada nobilitação desta, do que o contrário, ou seja, o emburguesamento da nobreza. Arno Mayer realça ainda as características da aristocracia, grupo de elite da nobreza, mais fechado sobre si mesmo, mais próxima das cabeças reinantes, que alia os privilégios de nascimento conferidos pelo sangue azul às grandes fortunas fundiárias, quer em imóveis rurais, quer em imóveis urbanos. O prestígio das suas relações e da sua fortuna permite-lhes investimentos económicos em sectores de ponta, como a indústria e a banca. A longo prazo, os casamentos entre aristocracia e altos magnatas vão-se tornando possíveis.
id RCAP_a2aa1a9987d0f05b1a156b80e5c25f86
oai_identifier_str oai:run.unl.pt:10362/63682
network_acronym_str RCAP
network_name_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository_id_str 7160
spelling A Casa Palmela e o desafio liberal : estratégias de afirmaçãoHistória de PortugalLiberalismoCasa PalmelaCasas nobresDomínio/Área Científica::Humanidades::História e ArqueologiaO debate acerca do impacto do Liberalismo na antiga sociedade de ordens foi relançado no início dos anos 80 do século XX com a obra de Arno Mayer. Até então, tendia-se a exaltar a ruptura com o período imediatamente antecedente, traduzindo-se numa absorção ou aniquilamento da aristocracia por parte da burguesia emergente. Este autor procurou, no entanto, demonstrar as continuidades do Antigo Regime, ao longo de todo o século XIX e, inclusive, o vigor e a capacidade da aristocracia de se adaptar às novas condições políticas2. De facto, a nobreza continuava a ser a principal proprietária fundiária, o que se traduzia na possibilidade de uma educação, de um estilo de vida, de uma mentalidade e de um código de conduta identificadores de si mesma. Para lá das diferenças resultantes do nascimento, da fortuna e da influência junto da sociedade civil e política, a coesão do grupo mantinha-se devido à existência dos mesmos interesses materiais e a partilha da mesma visão do mundo, que era facilitada precisamente não só pela sua posição política, social e cultural privilegiada, mas igualmente pela sua pujança económica que, apesar de se encontrar em declínio, permanecia importante. Perdeu parte das suas prerrogativas militares, administrativas e jurídicas, mas manteve a sua consciência enquanto grupo, o que permitiu manter a sua preponderância face à burguesia em ascensão, mas, no confronto entre ambas, terá sido esta que se teve de adaptar à antiga ordem e que acabou por se moldar ao padrão nobre. A persistência da nobreza permitiu-lhe tirar partido da ambição da burguesia em se promover, permitindo que se verificasse uma mais generalizada nobilitação desta, do que o contrário, ou seja, o emburguesamento da nobreza. Arno Mayer realça ainda as características da aristocracia, grupo de elite da nobreza, mais fechado sobre si mesmo, mais próxima das cabeças reinantes, que alia os privilégios de nascimento conferidos pelo sangue azul às grandes fortunas fundiárias, quer em imóveis rurais, quer em imóveis urbanos. O prestígio das suas relações e da sua fortuna permite-lhes investimentos económicos em sectores de ponta, como a indústria e a banca. A longo prazo, os casamentos entre aristocracia e altos magnatas vão-se tornando possíveis.Silveira, Luís Espinha daRUNUrbano, Pedro2019-03-18T10:30:54Z20052019-03-182005-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10362/63682porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-11T04:30:12Zoai:run.unl.pt:10362/63682Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T03:33:57.936925Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
dc.title.none.fl_str_mv A Casa Palmela e o desafio liberal : estratégias de afirmação
title A Casa Palmela e o desafio liberal : estratégias de afirmação
spellingShingle A Casa Palmela e o desafio liberal : estratégias de afirmação
Urbano, Pedro
História de Portugal
Liberalismo
Casa Palmela
Casas nobres
Domínio/Área Científica::Humanidades::História e Arqueologia
title_short A Casa Palmela e o desafio liberal : estratégias de afirmação
title_full A Casa Palmela e o desafio liberal : estratégias de afirmação
title_fullStr A Casa Palmela e o desafio liberal : estratégias de afirmação
title_full_unstemmed A Casa Palmela e o desafio liberal : estratégias de afirmação
title_sort A Casa Palmela e o desafio liberal : estratégias de afirmação
author Urbano, Pedro
author_facet Urbano, Pedro
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Silveira, Luís Espinha da
RUN
dc.contributor.author.fl_str_mv Urbano, Pedro
dc.subject.por.fl_str_mv História de Portugal
Liberalismo
Casa Palmela
Casas nobres
Domínio/Área Científica::Humanidades::História e Arqueologia
topic História de Portugal
Liberalismo
Casa Palmela
Casas nobres
Domínio/Área Científica::Humanidades::História e Arqueologia
description O debate acerca do impacto do Liberalismo na antiga sociedade de ordens foi relançado no início dos anos 80 do século XX com a obra de Arno Mayer. Até então, tendia-se a exaltar a ruptura com o período imediatamente antecedente, traduzindo-se numa absorção ou aniquilamento da aristocracia por parte da burguesia emergente. Este autor procurou, no entanto, demonstrar as continuidades do Antigo Regime, ao longo de todo o século XIX e, inclusive, o vigor e a capacidade da aristocracia de se adaptar às novas condições políticas2. De facto, a nobreza continuava a ser a principal proprietária fundiária, o que se traduzia na possibilidade de uma educação, de um estilo de vida, de uma mentalidade e de um código de conduta identificadores de si mesma. Para lá das diferenças resultantes do nascimento, da fortuna e da influência junto da sociedade civil e política, a coesão do grupo mantinha-se devido à existência dos mesmos interesses materiais e a partilha da mesma visão do mundo, que era facilitada precisamente não só pela sua posição política, social e cultural privilegiada, mas igualmente pela sua pujança económica que, apesar de se encontrar em declínio, permanecia importante. Perdeu parte das suas prerrogativas militares, administrativas e jurídicas, mas manteve a sua consciência enquanto grupo, o que permitiu manter a sua preponderância face à burguesia em ascensão, mas, no confronto entre ambas, terá sido esta que se teve de adaptar à antiga ordem e que acabou por se moldar ao padrão nobre. A persistência da nobreza permitiu-lhe tirar partido da ambição da burguesia em se promover, permitindo que se verificasse uma mais generalizada nobilitação desta, do que o contrário, ou seja, o emburguesamento da nobreza. Arno Mayer realça ainda as características da aristocracia, grupo de elite da nobreza, mais fechado sobre si mesmo, mais próxima das cabeças reinantes, que alia os privilégios de nascimento conferidos pelo sangue azul às grandes fortunas fundiárias, quer em imóveis rurais, quer em imóveis urbanos. O prestígio das suas relações e da sua fortuna permite-lhes investimentos económicos em sectores de ponta, como a indústria e a banca. A longo prazo, os casamentos entre aristocracia e altos magnatas vão-se tornando possíveis.
publishDate 2005
dc.date.none.fl_str_mv 2005
2005-01-01T00:00:00Z
2019-03-18T10:30:54Z
2019-03-18
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10362/63682
url http://hdl.handle.net/10362/63682
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron:RCAAP
instname_str Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron_str RCAAP
institution RCAAP
reponame_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
collection Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository.name.fl_str_mv Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1799137961453813760