Um crítico nunca está errado
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2016 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10451/30937 |
Resumo: | Um crítico nunca está errado! Um crítico nunca está errado pela mesma razão de que também nunca está certo. O “jogo” não é esse. Não se trata, creio, de acertar ou não acertar numa qualquer leitura certa, numa leitura legitimadora ou numa leitura autorizada ou autoritária sobre um espectáculo. Um crítico nunca está nem certo nem errado. A sua tarefa não é a da validação nem a da refutação de um objecto artístico. A única coisa que um crítico pode fazer é reagir da forma mais honesta possível, da forma mais transparente possível, ao espectáculo em que participa. E, com isso, o que o crítico faz é ampliar a zona de impacto de um espectáculo, prolongando a sua vida e trazendo-o para a cidade, inscrevendo-o na esfera pública. Assim, a crítica de teatro, quando serve para alguma coisa, serve para provocar a memória e espevitar a discussão. Serve para expandir a zona de impacto de um espectáculo. Dito isto, e parecendo coisa simples, essa é das tarefas mais difíceis e importantes do trabalho de um crítico. O mais inquietante, porém, é que a actividade da crítica é ainda – se bem que esteja bem perto da extinção – dos últimos redutos onde se pode conceber uma qualquer interferência na esfera pública. O papel da crítica deverá aspirar a pretender unir o individual e o público ao público e ao colectivo, tal como o entende Terry Eagleton (2005). O problema da crítica não é só o problema da crítica. É, em rigor, o problema da maioria das sociedades ocidentais, dominadas por uma lógica capitalista, submersas em consumismo e publicidade, em indiferença pelas artes e pela ausência de debate na esfera pública. Mas a crítica tem ainda uma hipótese de interferir na cidade – faz parte da sua função e da sua vocação. A crítica, quando serve para alguma coisa, serve como uma eficaz arma contra a acídia contemporânea. Salvando-se, talvez a crítica nos possa salvar a todos. |
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Um crítico nunca está erradoCrítica de TeatroEsfera públicaCrítica de Artes PerformativasUm crítico nunca está errado! Um crítico nunca está errado pela mesma razão de que também nunca está certo. O “jogo” não é esse. Não se trata, creio, de acertar ou não acertar numa qualquer leitura certa, numa leitura legitimadora ou numa leitura autorizada ou autoritária sobre um espectáculo. Um crítico nunca está nem certo nem errado. A sua tarefa não é a da validação nem a da refutação de um objecto artístico. A única coisa que um crítico pode fazer é reagir da forma mais honesta possível, da forma mais transparente possível, ao espectáculo em que participa. E, com isso, o que o crítico faz é ampliar a zona de impacto de um espectáculo, prolongando a sua vida e trazendo-o para a cidade, inscrevendo-o na esfera pública. Assim, a crítica de teatro, quando serve para alguma coisa, serve para provocar a memória e espevitar a discussão. Serve para expandir a zona de impacto de um espectáculo. Dito isto, e parecendo coisa simples, essa é das tarefas mais difíceis e importantes do trabalho de um crítico. O mais inquietante, porém, é que a actividade da crítica é ainda – se bem que esteja bem perto da extinção – dos últimos redutos onde se pode conceber uma qualquer interferência na esfera pública. O papel da crítica deverá aspirar a pretender unir o individual e o público ao público e ao colectivo, tal como o entende Terry Eagleton (2005). O problema da crítica não é só o problema da crítica. É, em rigor, o problema da maioria das sociedades ocidentais, dominadas por uma lógica capitalista, submersas em consumismo e publicidade, em indiferença pelas artes e pela ausência de debate na esfera pública. Mas a crítica tem ainda uma hipótese de interferir na cidade – faz parte da sua função e da sua vocação. A crítica, quando serve para alguma coisa, serve como uma eficaz arma contra a acídia contemporânea. Salvando-se, talvez a crítica nos possa salvar a todos.Fundação Centro Cultural de BelémRepositório da Universidade de LisboaCoelho, Rui Pina2018-01-25T12:52:51Z20162016-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10451/30937por“Um crítico nunca está errado”, in Madelena Wallenstein (coord.), Nós pensamos todos em nós. Lisboa: Fundação Centro Cultural de Belém, 2016, pp. 224-229.978-972-8944-25-4info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-11-08T16:23:38Zoai:repositorio.ul.pt:10451/30937Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T21:46:19.971755Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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